Brené Brown enxerga colapso coletivo diante do desconforto
Doutora e pesquisadora enfatizou que sociedade ficou viciada em coisas rápidas e fáceis, mas é preciso se voltar para o desenvolvimento das emoções
Doutora e pesquisadora enfatizou que sociedade ficou viciada em coisas rápidas e fáceis, mas é preciso se voltar para o desenvolvimento das emoções
Isabella Lessa
11 de março de 2025 - 6h00
Já consagrada como uma das figuras que atrai filas quilométricas no South by Southwest (SXSW), Brené Brown foi entrevistada em dois podcasts gravados ao vivo durante o festival: The Unusual Suspects, programa da Audible apresentado por Kenya Barris, roteirista, e Malcom Gladwell, autor; e Served, que tem à frente o ex-tenista Andy Roddick.
Brené Brown e Andy Roddick em conversa para o episódio do podcast Served, apresentado pelo ex-tenista (Crédito: Isabella Lessa)
É possível dizer que, em ambas as conversas, Brené – professora convidada da Universidade do Texas, a norte-americana é autora de seis best-sellers do The New York Times – se colocou em um lugar de vulnerabilidade, palavra que é tema de boa parte de suas pesquisas.
Kenya Barris, Brené Brown e Malcom Gladwell na gravação do podcast The Unusual Suspects (Crédito: Isabella Lessa)
Isso porque, sobretudo no caso de The Unusual Suspects, ela foi questionada o tempo todo por Malcom Gladwell, conhecido por livros como Outliers e The Tipping Point. Mais leve, a entrevista com Andy Roddick também teve momentos em que a acadêmica desviou dos assuntos que está habituada a falar: discorreu bastante sobre sua paixão pelo pickleball.
Mas é claro que a texana, em diversos momentos das entrevistas, abordou temas de sua expertise, como vergonha, a já mencionada vulnerabilidade, e a curiosidade. Veja uma seleção das principais reflexões trazidas por Brené no SXSW 2025:
“Muitos sociólogos e psicólogos classificam a vergonha como a emoção mestra. A vergonha é, em sua essência, o medo que alguém sente de não merecer amor e conexão. As únicas pessoas que não sentem vergonha são pessoas que não têm a necessidade de conexões ou de empatia. Cerca de 90% dos adultos que entrevistamos ao longo de 20 anos conseguem se lembrar de um episódio de vergonha que aconteceu com eles na escola e os mudou para sempre como aprendizes. Para as crianças, vergonha é sério, porque é a ameaça de ser incapaz de ser amado”
“Comparação é a ladra da felicidade. Porque basicamente diz seja como todo mundo, mas melhor. Mas somos melhores quando somos autênticos, fiéis ao nosso modo de ser”
“Hoje, uma das barreira para a curiosidade é o nível de volatilidade e incerteza na cultura. Fica muito difícil ser curioso. Sair da cama toda manhã pode ser algo muito assustador e incerto. E ainda querem que eu seja vulnerável e continue curioso? Vá se f**er”
“Teremos de navegar pela incerteza, pela volatilidade e pela instabilidade, que se apresentarão de um jeito que não imaginamos. Quando sob intensa volatilidade, precisamos muito de confiança, colaboração e criatividade. Paradoxo, metáfora e poesia pavimentarão o caminho e nos ajudarão a lidar com cenários complexos. Não encontraremos a solução em sistemas binários de IA. Termos de sair dos prédios dos computadores e visitar os prédios das artes liberais. Uma das coisas mais perigosas que tenho ouvido é que, para muitas pessoas, existe essa ideia de que vai ficar tudo bem com a IA porque tudo que é humano prevalecerá. Mas somos medíocres em tudo que é humano. Emoção, conexão, empatia, construção de confiança. Fomos ensinados nos últimos 30 anos que tudo que nos torna humanos não é bom no trabalho. Você não vai extrair consciência, empatia e coragem das máquinas. Teremos de trabalhar em nós mesmos e isso será difícil, porque nos forçará na direção daquilo que mais odiamos: o desconforto”
“Tenho lido muito sobre soberania cognitiva, que significa se desvincular de algo controlado por pessoas que não endereçam seus melhores interesses. É ter controle sobre seu pensamento. Senti isso quando fiquei sóbria há 28 anos e há poucos meses, quando fiz um experimento para ficar longe das redes sociais. No primeiro mês, me senti desorientada”
“Estamos vivenciando um problema como sociedade, uma pane em torno do trabalho árduo e do desconforto. Um colapso coletivo em torno da habilidade de desenvolver habilidades. Queremos que as coisas sejam fáceis, rápidas, gratuitas”
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