CEO ou Ativista?
A visão do CEO da Patagonia no SXSW sobre a relação entre humanos, meio ambiente e as marcas
A visão do CEO da Patagonia no SXSW sobre a relação entre humanos, meio ambiente e as marcas
14 de março de 2023 - 11h07
Pouco antes do CEO da Patagonia Ryan Gellert subir ao palco já havia dezenas de fotógrafos aguardando sua chegada. Se isso fosse tido como um indicador de importância da sessão, certamente Ryan estaria ganhando até aqui dos demais speakers do evento. Além disso, de todos os palestrantes até aqui, eu vi apenas dois demandaram a vistoria de policiais com cachorros treinados para identificar bombas na plateia: Ryan e Josh D’Amaro, o VP da Disney que cuida de Parques e Experiência.
Ryan começou a sua fala contando sobre quando sofreu uma forte epifania escalando uma montanha. Comentou como este é um momento único e quase inexplicável. É como se tudo na sua vida se resumisse naqueles minutos mágicos. Uma sensação de “mind wondering”, como se a sua mente simplesmente flutuasse, apenas se maravilhando com aquilo tudo.
Posso dizer que eu também senti uma certa dose de epifania ali mesmo, no salão principal do SXSW. Pude presenciar um líder de negócios assumindo uma postura e um discurso tão consciente, quanto acionável, orientado na direção dos valores e crenças que eu acredito e desejo assumir, cada vez mais, em minha vida.
Em sua fala, Ryan afirmou que nós, como humanos, criamos uma crise climática e ecológica sem precedentes. E que isso não é algo imposto a nós pela natureza — muito pelo contrário. Isso é algo que nós criamos. É uma ameaça à nossa existência como humanos. Uma ameaça a tudo o que valorizamos, incluindo o mundo natural. Um problema suficientemente grande e complicado para ser resolvido.
Uma das ideias mais poderosas que Ryan compartilho com a plateia do Ballroom D foi um ajuste de percepção de nós como agentes de mudança ao decidirmos comprar uma roupa. De nos enxergarmos como proprietários efetivos daquilo que vamos comprar e não apenas como meros consumidores voláteis. Se entender como proprietário é ter a noção de que ao adquirir um item você está se compromissando com esta decisão por toda a sua vida. Por isso você precisa sempre exercitar esse senso de propriedade de tudo que você consome. Reconhecer, respeitar e até celebrar as coisas que você já tem.
E concluiu: “e caso você tenha itens da Patagonia que você não usa mais, a gente ajuda a encontrar outras pessoas que queiram usar”.
Ryan contou que quando criança em Cocoa Beach, na Flórida, aprendeu a mesma coisa que ensina hoje aos meus filhos: você tem que limpar a sua própria bagunça. São indivíduos que comandam as empresas, instituições e, principalmente, governos. Mas eles precisam parar de se esconder atrás dessas entidades e agir como cidadãos realmente comprometidos com o todo.
“Tenho orgulho de ser uma empresa com fins lucrativos, operando em um setor que precisa mudar radicalmente”, revelou. A sensação que tenho com essa fala, e com tudo que Ryan disse em sua participação no Southby, é que ele se sente um privilegiado de poder atuar justamente em uma das indústrias mais impactantes de todas, pois isso é uma oportunidade de fazer real diferença, e de ter total apoio dos fundadores da marca. “Enfrentamos muitos desafios na Patagonia, mas ter que convencer os fundadores de que esta é a maneira certa de fazer algo não é um deles”, confessou Ryan.
Ryan disse ainda que há uma narrativa construída em torno de muitas histórias que contamos. E a narrativa predominante na América é que se você tem mais dinheiro, você tem mais sucesso, sendo que o que está realmente implícito nisso é que você é mais valioso.
Mas o ponto crucial é que em quase toda crise que enfrentamos hoje como humanos, os negócios desempenham um papel protagonista descomunal. Ele acredita que os líderes empresariais farão a coisa certa mas só quando esgotarem todas as outras opções. E que isso precisa acontecer o quanto antes pois perdemos o direito de sermos pessimista, de não acreditar que algo pode ser feito, de que não é mais possível resolver os problemas que nós mesmo criamos. Precisamos reverter essas crenças equivocadas com paciência mas de uma vez por todas.
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