Assinar
De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Choque geracional, gig work e os rumos do futuro do trabalho

Futurista Rishad Tobaccowala aponta impacto da IA, diminuição do tempo de trabalho e fracasso das lideranças


12 de março de 2025 - 18h53

Ano após ano, os conteúdos sobre carreira e o ambiente de trabalho crescem na programação do South by Southwest. Neste ano, a trilha sobre ambiente de trabalho somou 78 painéis. A ascensão do tema acompanha um período de transformação. Segundo Rishad Tobaccowala, futurista e autor dos livros Restoring the Soul of Business e Re-Thinking Work, o universo do trabalho mudou mais de 2020 a 2023 do que nas últimas décadas.

Choque geracional

Rishad Tobaccowala é entrevistado por Ruth Umoh no SXSW 2025 (Crédito: Taís Farias)

Entre os fatores dessa mudança estão o envelhecimento da população e a diminuição do seu contingente, o que provoca mudanças nas expectativas, dinâmica de trabalho e crises geracionais.

“A diferença é a seguinte: os baby boomers – dos quais eu faço parte – 66% de nós acreditam no capitalismo. Na geração Z, 22%. 67% da geração Z que têm um emprego em tempo integral também têm um bico ou trabalho paralelo no qual ganham dinheiro, e 76% deles querem trabalhar por conta própria. Esses são os verdadeiros desafios. Então, como eu digo às pessoas, não é que eles não queiram voltar para o escritório. É ao chefe que eles não querem voltar”, descreve.

Os avanços tecnológicos e, particularmente, a inteligência artificial estariam reduzindo drasticamente o valor do conhecimento e especialização o que muda a dinâmica de requisitos para o trabalho em toda a indústria. Além disso, o conceito de gig work, trabalho por demanda através de plataformas digitais e o crescimento dos marketplaces ampliaram as oportunidades de acessar consumidores diretamente e empreender.

Por fim, Tobaccowala cita o impacto da pandemia da Covid-19 que fez as pessoas questionarem não apenas onde trabalham, mas porque trabalham. “Há essa mudança sísmica e continuamos falando sobre voltar ao escritório. E, para mim, isso é uma total falta de imaginação. E um dos maiores problemas disso é que se trata de um fracasso de liderança. Temos gerentes e chefes, mas raramente temos líderes”, refletiu.

Apesar de se definir como um defensor da interação interpessoal, o autor diz que é preciso medir o quanto de trabalho presencial é realmente necessário e que as companhias estariam usando os encontros ao vivo de maneira errado. Ao invés de tarefas mecânicas, eles deveriam ser usados para momentos de real troca e aprendizado coletivo.

O futurista também não nega o impacto da inteligência artificial na força de trabalho. Segundo Tobaccowala, inicialmente, as empresas precisariam de 20% menos funcionários. Isso criará o modelo de funcionário fracionado em que, ao invés de tempo integral, os profissionais serão contratos para trabalhar 60% ou 80% do tempo. “Mas você terá 5%, 10%, 15%, 20%, 30%, 40% do seu tempo, entre aspas, livre. Essa é a parte que as pessoas vão revolucionar. É aí que elas vão se transformar”, definiu.

Períodos sabáticos

Essa combinação entre tempo e propósito profissional também cria espaço para uma discussão sobre os períodos sabáticos, pausa intencional e de longa duração no trabalho, como um benefício corporativo. Professor do Harvard Business School e fundador do The Sabbatical Project, DJ DiDonna, que apesar de rara e cercada de privilégios essa prática está crescendo. Desde 2019, nos EUA, o número de empresas que oferecem esse benefício teria dobrado, chegando agora a 5%.

Os sabáticos podem acontecer por um motivo negativo, como um evento individual traumático ou burnout; positivos, quando o colabora pode ativamente escolher se distanciar; ou neutros, quando a companhia oferece essa oportunidade.

“Falamos muito sobre as pessoas encontrarem propósito no trabalho, mas, no fim das contas, a maioria das empresas não pode oferecer um grande senso de significado e propósito. E, tudo bem. Mas acho que o que a empresa pode fazer é lhe dar tempo para que você possa dedicar-se ao que é significativo para você”, defendeu DiDonna sobre o sabático como um benefício corporativo.

Publicidade

Compartilhe