Como falar de futuro em uma era que redefine espaço-tempo?
SXSW 2025 traz temas alinhados à era do consumo de conteúdo ininterrupto e deve equilibrar previsões com debates mais alinhados aos desafios do presente.
SXSW 2025 traz temas alinhados à era do consumo de conteúdo ininterrupto e deve equilibrar previsões com debates mais alinhados aos desafios do presente.
5 de março de 2025 - 13h55
Há algumas semanas, participei de uma conversa sobre os elementos que compõem a era orientada por conteúdo que vivemos hoje. Além do óbvio – atenção fragmentada, variedade de formatos e hiperestímulo – esta era pautada pelo acesso digital redefine o nosso conceito de espaço-tempo. Vivemos no presente, no passado e no futuro simultaneamente, um formato que tende a tornar difusas as fronteiras que antes nos permitiam entender a história do mundo – e a nossa própria jornada.
Nesse aspecto, não é surpresa que o line-up desta edição 2025 do South by Southwest (SXSW) encoraje novas reflexões sobre os contornos que resultam desta era, agora sob lentes talvez mais realistas. Se vivemos em um fluxo ininterrupto de consumo de conteúdo – que molda nossas crenças, opiniões e interesses, às vezes, em segundos – fica claro que o impacto vai muito além do algoritimo. Estamos redefinindo a construção de tendências, o futuro das relações humanas e o próprio tecido cultural.
O próprio cenário norte-americano traz atualmente muitos desafios influenciados por profundas mudanças nas diretrizes que regulam a distribuição de conteúdo. Nesse sentido, acredito que questões sobre diversidade, equidade e sustentabilidade não serão ignoradas em Austin – assim como debates sobre a necessidade de engajamento autêntico entre comunidades para combater os efeitos dessa decisões, e de iniciativas corporativas efetivas sobre disseminação de informações.
Colocando luz sobre o início dessa cadeia, a agenda deste SXSW 2025 aponta para uma quantidade significativa de painéis focados na economia dos criadores – sob a proposta de discutir o papel de quem cria narrativas, independentemente ou não, e a profissionalização oficial essa indústria. Em um momento em que criadores já competem com gigantes do entretenimento – o YouTube, por exemplo, já representa um bilhão de horas de visualização diária na TV – a agenda deve aprofundar o olhar sobre monetização, engajamento e o impacto da ciência por trás da viralização.
A interseção entre entretenimento, tecnologias e produção de conteúdo promete ainda muitas conversas sobre o universo dos games – indústria cujo crescimento se destaca pela influência social e econômica, acumulando já mais de três bilhões de jogadores no mundo. O storytelling interativo será foco de diversos painéis, assim como questionamentos sobre o papel dos jogos na formação humana e no futuro do consumo – tangendo, especialmente, o investimento em marketing. Mais do que nunca, hábitos impulsionados pela sobrecarga de estímulos exigem novas abordagens.
Seguindo esse fio, impossível não esperar conversas sobre IA, claro. Após algumas edições centradas em previsões e possibilidades, a expectativa é de que esta encoraje reflexões mais práticas sobre o impacto dessa tecnologia na produção de conteúdo e seus efeitos a longo prazo. Chegamos a um momento em que debates precisam equilibrar foco em soluções e inovação com preocupações sociais e regulatórias.
Esta será a terceira edição do SXSW da qual participo. Mais do que um termômetro de tendências, acredito que dessa vez o festival deve aprofundar conversas sobre o presente – um presente moldado pelo consumo e engajamento constantes que nos descolam de realidades e nos associam a não-realidades. Mais do que antecipar o futuro, precisamos repensar formas de interação e criação, e desenhar estratégias mais adptáveis à fluidez do nosso tempo – ontem, hoje e amanhã.
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