Como será o SXSW sob Trump 2?
O Futuro do SXSW em Tempos de Transformação
O Futuro do SXSW em Tempos de Transformação
7 de março de 2025 - 9h32
No SXSW, é mais fácil e tentador montar sua programação transitando pelas trilhas de conteúdo que estão no hype – das últimas novidades de IA aos lançamentos de robôs, das palestras do pessoal da NASA às falas dos gurus usuais, como Amy Webb, Esther Perel e Scott Galloway.
Mas, neste ano, tenho uma expectativa em especial: perceber o quanto o contexto geopolítico afetará – ou não – o que será apresentado por lá. Afinal, não dá para ignorar a correlação entre as barreiras do governo americano ao acesso aos microchips da NVIDIA pela China e o desenvolvimento do DeepSeek. Por isso, é preciso estar atento às inúmeras consequências globais da nova política comercial de Trump em vários outros campos, cujas inovações veremos aos montes nos próximos dias em Austin – da força para as tecnologias de descarbonização às cooperações para evoluções em pesquisas na área de saúde.
Austin é uma cidade de ideias e gentilezas. Segundo a descrição do escritor texano Joe Nick Patoski, “enquanto o resto da economia do Texas é baseado na extração de recursos naturais, como petróleo e gás, a cultura e a economia de Austin se baseiam na criatividade”. O SXSW é fruto da cultura hippie que incentivou o fim de regimes autoritários ao redor do mundo, numa cidade que criou Janis Joplin e o Whole Foods Market (saiba mais neste artigo de Joe Patoski).
Tudo começou como um festival de música, e depois foi agregando todo tipo de manifestação cultural pop e antecipando tendências, até se tornar um dos maiores festivais de inovação do mundo, para o qual a maior parte do público vem em busca das últimas novidades sobre Inteligência Artificial, os novos robôs, os carros voadores e o quão próximos estamos da computação quântica ou de quando, finalmente, viveremos para sempre.
Por aqui, ainda se respira a esperança de um mundo melhor, apesar de o reboco de um mundo de consensos e desarmamento, cultivado no pós-Guerra Fria, estar começando a ruir neste planeta onde ganham força Trump, Putin, Netanyahu e a AfD.
O pêndulo da História está se movendo rapidamente para o lado oposto ao que se vê nas diversas trilhas de conteúdo do SXSW: equidade de gênero, afrofuturismo, soluções para acabar com a fome no planeta, energia limpa, combate à emergência climática. Afinal, se a tecnologia não for para isso, para que servirá?
Os bilionários da tecnologia no mundo ocidental estão todos alinhados a Trump e sua tropa. E as inovações tecnológicas, que nos seduzem dia após dia e para as quais corremos todos sedentos para cá, para saber antes dos outros, estão concentradas nas mãos e nos bolsos deles.
Seremos capazes de enxergar tudo isso e viver estes próximos dias em Austin com os filtros necessários? Espero que sim.
Compartilhe
Veja também
Silicon Hills: como Austin se transformou nos últimos anos
Conhecida como o novo Vale do Silício, a capital do Texas atraiu big techs, mas reduziu sua estranheza e veia artística
O futuro da IA, por Qualcomm, Will.i.am, Amazon e Sir Tim Berners-Lee
Empresas de tecnologia, vocalista do Black Eyed Peas e o fundador da World Wide Web mostram aplicações envolvendo agentes de IA e robôs