Consciência na IA: qual a chance?
Painel que reuniu neurocientistas, acadêmicos e pesquisadores concluiu que é necessário aprender o que é consciência antes de temê-la
Painel que reuniu neurocientistas, acadêmicos e pesquisadores concluiu que é necessário aprender o que é consciência antes de temê-la
Thaís Monteiro
11 de março de 2024 - 12h39
Desde o início da popularização da inteligência artificial, analogias ao filme Her, Vingadores: A Era de Ultron e tantas outras histórias em que a IA ganha consciência passaram a fazer parte do imaginário social sobre a tecnologia. Em 2023, o SXSW discutiu se a IA poderia ter senciência e emoções. Este ano, um dos temas abordados foi consciência.
Reunindo neurocientistas, pesquisadores e membros da academia, o painel “The Path for Consious AI” tentou definir o que é consciência e se é possível desenvolver consciência na inteligência artificial.
Não há um acordo sobre a definição de consciência. Na perspectiva de Michael Graziano, neurocientista e professor na Universidade de Princeton, a consciência advém de uma coleta de informação. Assim, a consciência seria fruto de atenção e da habilidade para processar informação. “Tudo que você acha que sabe sobre você deriva de informação. Se você não tem informação, você não sabe. Não é puramente filosófico”, disse.
O também neurocientista e professor da Universidade de Sussex, Anil Seth, discordou do colega de painel. “Quando você fala sobre consciência como resultado de processo de informação, cria-se a metáfora que o cérebro é uma máquina. No cérebro, é bagunça. O neurocientista define a consciência como a capacidade de experienciar coisas, como estar triste e poder refletir que há tristeza acontecendo internamente. Ou então refletir sobre como é ser humano, sobre aspectos da realidade interna e externa. Algo que, segundo ele, só acontece com seres vivos, que tem a capacidade de fazer previsões a partir de sensações sensoriais.
Ele sublinhou que há muita confusão entre os conceitos de consciência e inteligência, e que é certo afirmar que a IA é inteligente, porém não que há consciência. “Nós somos autocentrados e projetamos aspectos nossos em outras pessoas, seres vivos, objetos e tecnologias. Me preocupa a IA ser tão persuasiva a ponto de pensarem que ela é consciente”, afirmou.
Da mesma forma, a CEO da Foresight Institute, Allison Duettmann, argumentou que os seres humanos fazem julgamento a parir da intuição e, intuitivamente, é possível pensar que que a inteligência artificial é consciente. “Mas precisamos ser científicos e empíricos em relação a isso, porque a IA pode desafiar várias instituições que temos”, colocou.
Os modelos atuais de inteligência artificial replicam a organização de um cérebro, que computa vários sistemas e processa informações diversas, disse Seth. Assim, a IA pode exibir seu vasto conhecimento e simular consciência a partir de dados processados.
Emocionalmente, a tecnologia tem se mostrado uma aliada para a epidemia de solidão. A partir da interação com a IA, indivíduos estão achando parceiros consistentes que contribuem para sua saúde mental. “Pessoas que não usam IA, acham ela horrível. Mas pessoas que usam bots como companhia mostram benefícios para saúde mental e como a IA pode ajudar no relacionamento com outras pessoas”, pontuou Graziano
Consciente ou não, para evitar o cenário apocalíptico em que as máquinas se voltam contra o ser humano, Allison reforçou a importância de incutir valores humanos para os sistemas de inteligência artificial, a fim que que eles não apresentem risco para a civilização. “Eles não valorizam o que nós valorizamos e podem não querer a continuação da humanidade. Temos que pensar em segurança na IA. Quais são os valores que temos enquanto seres humanos e como comunicar esses valores para sistemas que não compartilham do nosso substrato?”, provocou.
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