Convergência entre IA e XR evidencia a nova era das realidades imersivas
Especialistas no setor de realidade estendida (XR) debateram o futuro das realidades imersivas, passando pela convergência da XR com a IA e pela evolução do metaverso
Especialistas no setor de realidade estendida (XR) debateram o futuro das realidades imersivas, passando pela convergência da XR com a IA e pela evolução do metaverso
Amanda Schnaider
18 de março de 2025 - 6h00
O hype ao redor do metaverso parece, de fato, ter passado. Ao menos no South by Southwest. Enquanto em 2022 e 2023 só se ouvia falar sobre esse assunto nos corredores e palestras do festival, em 2025, apenas um painel da Conference teve a palavra em seu título, justamente para falar sobre o renascimento e reinvenção desse conceito.
Apesar de alguns outros painéis citarem o metaverso em meio as suas discussões, é inegável que a nova onda do momento é a inteligência artificial. Na realidade, a conversa sobre realidade estendida (XR) não deixou o festival, só se aprofundou e convergiu com outras tecnologias, como Web3 e a própria IA.
Inclusive, como todo ano, o festival contou com a XR Experience, exposição voltada aos criadores que trabalham com arte imersiva. Porém, neste ano, a feira cresceu e passou a ocupar três andares do Hotel Fairmont, ao invés de um. Em 2025, o festival ainda estreou o XR Experience Spotlight, que destacou projetos imersivos aclamados em todo o mundo.
Na Conferece, os debates se concentraram em relação ao futuro das realidades imersivas, passando pela convergência da XR com a IA e pela evolução do metaverso como um espectro da realidade que promove a criatividade em espaços digitais.
Da esq. para a dir.: Val Vacante, da Dentsu; Phil Sage, da PepsiCo; Jason Dailey, da Meta; e Marco Carvalho, do Headoffice.ai (Crédito: Amanda Schnaider)
No painel “XR & AI: Immersive Experiences & Emerging Trends”, que abordou como a XR e a IA estão revolucionando o engajamento do consumidor, Val Vacante, vice-presidente de inovação em soluções da Dentsu, revelou as tendências de IA da mais recente pesquisa Visão do Consumidor de 2035 da agência.
A primeira tendência é a “M2M Revolution” (revolução máquina a máquina, em tradução livre), que indica que 70% das pessoas usarão a IA em diferentes aspectos de sua vida até 2035 e 49% gostariam de ter um clone de IA de si mesmos para cuidar de compras, tarefas administrativas e de comunicação por eles no mesmo período. “Parte disso está acontecendo hoje, mas vamos começar a ver evoluir muito”, comentou Val.
Neste sentido, Jason Dailey, diretor chefe de agência na Meta, ressaltou que acredita que toda empresa, em última análise, terá um agente que trabalha em seu nome e se comunica e faz negócios com agentes de indivíduos e consumidores. Essa tendência indica que à medida que os consumidores terceirizam tarefas para a IA, passam a confiar em redes de suporte exclusivas de máquinas.
A segunda tendência do relatório da Dentsu apresentada no festival foi a “Customized Reality” (realidade personalizada, em tradução livre). Ela revela que a os consumidores optam por tecnologias que fazem sentido em suas vidas. “As pessoas querem que [as experiências personalizadas] realmente complementem e ajudem qualquer tarefa que estejam fazendo”, completou Val. Além disso, o estudo indica que 57% dos consumidores estão interessados em óculos inteligentes que sobrepõem informações, como direções, preços e avaliações, a vida real.
Por fim, a terceira tendência “Non-human Alliances” (alianças não-humanas, em tradução livre diz respeito aos humanos empatizando com seus parceiros digitais. “O que estamos vendo aqui é que 56% das pessoas até o ano de 2035 estão realmente buscando esses tipos de relacionamentos gratificantes”, afirmou Val.
Nesse contexto, o brasileiro Marco Carvalho, CEO da HeadOffice.AI, destacou o papel fundamental da “empatia nas interações máquina-humano”. “Quando ensinamos as máquinas a serem empáticas, a entenderem sua contraparte, estamos fazendo a máquina entender e antecipar o que ela precisa”, argumenta o executivo.
Da esq. para a dir.: Stephanie Llamas, da VoxPop Insights; Tony Parisi, do Metatron Studio; Amy Peck, da Endeavor XR; e Jon Radoff, da Beamable (Crédito: Amanda Schnaider)
Apesar de o hype em torno da palavra ter passado, isso não significa que o metaverso não está evoluindo, muito pelo contrário. No painel “Metaverse 2025: Revival and Reinvention”, especialistas frisaram a importância de entender o metaverso como algo maior do que ele é compreendido e que está em constante evolução. “A internet é o metaverso”, destacou Jon Radoff, fundador e CEO da Beamable. “O metaverso são os aspectos sociais criativos que cercam toda essa tecnologia”.
Para Amy Peck, CEO da Endeavor XR, o metaverso é uma extensão digital das vidas reais. “É um espectro de realidade que permite que todas as formas de experiência, criatividade, e maneiras de interagir com os outros. É um espectro da realidade”, completou.
Em linha com o que o professor Joost Van Dreunen disse em sua participação do festival em 2025, de que experiências que necessitem de menos tecnologia e que sejam mais acessíveis podem ganhar destaque, Tony Parisi, fundador do Metatron Studio, ressaltou que o metaverso não é só sobre realidade virtual em óculos e 3D, mas também sobre conversas por texto e interações online em tempo real, como chats em plataformas como Discord e até mesmo o Spaces, ferramenta de áudio do X.
Os especialistas também debateram como os desafios de acessibilidade e interoperatividade – capacidade de fazer com que diferentes plataformas e mundos virtuais consigam “conversar” entre si – do metaverso ainda precisam ser superados para que ele alcance seu potencial como uma extensão da vida real.
Na visão de Parisi, a infraestrutura aberta que a tecnologia de blockchain e Web3 oferece é fundamental para um metaverso aberto, assim como a interoperatividade. “Todos esses aspectos descentralizados, propriedade, financeirização, tudo isso eu acho fundamental para um futuro no metaverso onde não seja controlado por um pequeno punhado de pessoas”, reforçou o fundador do Metatron Studio.
A ascensão da inteligência artificial generativa com uma tecnologia séria é a principal diferença entre o metaverso de agora e do que existia em 2020, 2021, segundo Jon. “A interface de linguagem, como uma interface viável para muitos aplicativos, está acelerando o processo para muitas pessoas”, destacou o CEO da Beamable, enfatizando que o potencial da combinação de “interfaces de linguagem” com “sistemas procedurais” podem ser um caminho para capacitar o público mais amplo na construção de mundos virtuais e experiências no metaverso.
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