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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

A convicção do amor

Como escritores e estudiosos do nosso tempo decidiram evangelizar a audiência sobre amor e relações humanas


9 de março de 2025 - 14h42

Se ontem eu comecei falando da palestra que abriu o festival – Kasley Willam – hoje me chamou a atenção uma das últimas palestras do dia – do escritor Douglas Rushkoff: “weirding the digital: an invocation”.

Seguindo o fio da ‘ressaca da AI’ e de over-tech, Rushkoff, como seu título já anunciava, convoca as pessoas a ‘make the internet weird again’, retoma seus primórdios e todas as crenças de uma época onde acreditávamos que a internet era um portal pra nos conectar mais e melhor uns com os outros. Onde existia estranheza, imaginação, muita criatividade e uma certa magia no ambiente digital. Relembra o mundo pré redes sociais onde as pessoas se conectavam por assunto de interesse e ali achavam pares e “iguais”, outros ‘esquisitões’ que apreciavam as mesmas coisas, as mesmas piras.

Douglas, assim, como o palestrante anterior – Scott Galloway – criticou fortemente as big techs e seus bilionários – especialmente Musk – e como abrimos esta rede, certa vez ‘weird’ e interessante, para um capitalismo galopante e uniformizante. Sobre como avançamos as interações nas redes – de pequenos grupos de interesse para influencers que pregam para o maior número de pessoas. Sobre a nossa obsessão com ‘crescimento exponencial’ ou o mais e maior o tempo todo. Sobre como deixamos os conteúdos todos alinhados em uma certa “média” pra agradar mais gente ao mesmo tempo.

Ainda no tom da crítica, ele traz uma provocação que eu, particularmente, adoro: ‘ninguém quer criar o futuro?’. Muitos empreendedores ou visionários querem ‘disrupt’, querem dis-ruptar a hotelaria, livros, viagens, mas não pensam em dis-ruptar o colonialimo ou a exploração? O tom desta palestra segue a de muitas outras sobre convocar as pessoas a fazer algo bom agora, ativamente. Um convite geral a partimos para a ação, pra liderança, pra implicação de nós mesmos em tudo aquilo que somos capazes de mudar e influenciar, criando, nós mesmos, novos caminhos e futuros. Este foi também o final de uma das palestras mais concorridas do festival – Amy Webb.

Nas suas previsões pra 2025 Galloway, por exemplo, encerrou sua palestra emocionado. Depois de quase 60 minutos inundando a platéia de dados, pesquisas e fatos que mostram, provam e reafirmam sinais de que não estamos bem – mais uma vez a epidemia da solidão, dinheiro do mundo altamente concentrado nas mãos de poucos, as big techs misturando produtos e serviços com política e (anti) ética, um ser humano concentrando renda maior que empresas inteiras, ou uma empresa concentrando mais que países. Trouxe também dados de homens jovens vivendo tempos duríssimos: se casam / se relacionam amorosamente menos que as mulheres, são menos estáveis/ saudáveis emocionalmente, morrem mais (mais do que na 2a guerra mundial) e se suicidam mais. Depois desta enxurrada de argumentos duros e tristes, Galloway de voz embargada mostra fotos dos filhos dizendo que precisamos achar um sentido, uma certa teoria por trás de tudo. E que ele acredita estar em achar alguém pra amar, ter filhos, viver experiências de vida que importam. Simples assim.

Voltando ao Douglas Rushkoff, segundo ele, nossos grandes antídodos pra momentos tão duros são: “psicodélicos, espiritualidade, sexo, mágica, sexo mágico, amor”. Ou seja, seguimos por aqui sendo convocados a retomar a nossa humanidade, nossos rituais e cerimônias e mais e mais conexões humanas. Achei bonito.

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