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SXSW

Curiosidade, Vergonha e Conexão: Lições de um Encontro Inesperado

Brené Brown, professora da Universidade de Houston e pesquisadora, participa de debate em podcast e traz importantes reflexões sobre os impactos emocionais em cada um de nós desse sentimento tão universal


9 de março de 2025 - 14h15

Sabe aqueles encontros que parecem improváveis, mas que fazem todo sentido quando você olha para trás? Foi assim com os apresentadores do podcast The Immune Suspects. Sempre que alguém pergunta como eles se conheceram, há um estranhamento no ar. “Como assim vocês viraram amigos?” – quase como se fossem de mundos opostos. Mas, no fundo, a resposta é simples: curiosidade.

É a curiosidade que une as pessoas. A vontade de entender “o que está por trás do que está por trás”. Foi ela que abriu espaço para conversas com convidados como Dr. Dre, Wes Moore e, agora, a icônica Brené Brown. E antes mesmo da conversa começar, já rolava aquela tensão. Porque, sejamos sinceros, entrevistar Brené Brown não é tarefa fácil. Quem conhece seu trabalho sabe que ela mergulha fundo em temas como vergonha, vulnerabilidade e liderança. E ninguém sai ileso desse tipo de papo.

Vergonha: o peso invisível que todos carregamos

“Eu não faço vergonha”, disse um dos apresentadores. Ao que Brené respondeu, sem hesitar: “Não faço vergonha ou só aprendi a lidar com ela?”

A questão é provocativa. Muita gente acha que vergonha é algo que dá para evitar, mas, segundo Brené, ela é um dos sentimentos mais universais que existem. E mais: a única forma de escapar dela seria não ter empatia ou conexão com os outros. Duro, né?

E se você acha que vergonha é só um desconforto passageiro, pense de novo. Brené conta que 90% dos adultos conseguem lembrar, com detalhes, de um momento na infância em que um professor ou treinador os envergonhou de tal forma que mudou a maneira como enxergam a si mesmos até hoje. Você lembra do seu?

Isso acontece porque, para uma criança, a vergonha vem como um aviso brutal: “Seja assim ou você será rejeitado.” É o medo de não pertencer, de não ser amado. E muitos carregam esse medo pela vida toda.

O estalo que mudou tudo

Brené se lembra do momento exato em que decidiu estudar vergonha. Ela trabalhava com jovens em um centro de tratamento residencial quando uma das meninas tentou fugir. O protocolo era claro: lockdown, regras mais rígidas, nada de cadarços nos sapatos. Mas foi o que o diretor disse que a fez parar: “Vocês não podem envergonhá-los para que mudem.”
A frase ficou martelando na cabeça dela. Como assim vergonha não muda as pessoas? Desde crianças, muitos de nós fomos ensinados a pensar o contrário. Mas ali, naquele momento, Brené percebeu que queria entender esse fenômeno a fundo. Sua pesquisa a levou a enfrentar resistência, ceticismo e até ameaças à sua carreira acadêmica. Mas ela insistiu. Porque sabia que estava certa.

Da pesquisa para a cultura Pop

Hoje, Brené Brown é referência mundial quando se fala em vulnerabilidade. Seu trabalho impacta desde líderes de grandes corporações até artistas e escritores. Ela se tornou uma espécie de tradutora da experiência humana, transformando sentimentos abstratos em conceitos fáceis de entender.

E talvez seja por isso que até a Sesame Street (sim, a Vila Sésamo!) decidiu incorporar suas ideias. Brené conta que recentemente foi entrevistada pelo próprio Elmo e precisou se segurar para não chorar. Porque, no fim das contas, o que a Vila Sésamo faz – e que tantos adultos esquecem – é ensinar sentimentos de um jeito que qualquer um pode entender.

O que a IA nunca vai conseguir imitar

A conversa tomou um rumo inesperado quando surgiu o tema da inteligência artificial. Hoje, muita gente aposta que a IA vai resolver todos os problemas da humanidade. Mas Brené fez um alerta: “Se tem algo que a IA não pode fazer, é criar ressonância emocional. Porque o que nos torna humanos não é o que sabemos, mas o que sentimos.”

Pense nisso.

A gente já viu que tecnologia pode substituir muita coisa – e pode até escrever textos impecáveis. Mas o que a máquina nunca vai fazer é aquele frio na barriga antes de falar algo importante. Nunca vai sentir a hesitação antes de pedir desculpas. Nunca vai saber o que é se emocionar ouvindo alguém contar sua história.

E talvez seja justamente isso que precisamos valorizar mais.

No fim das contas…

A grande lição que fica é que não se trata apenas de evitar a vergonha, mas sim de aprender a lidar com ela. De entender que a vulnerabilidade não é fraqueza, e sim força.

E, acima de tudo, de lembrar que, no final, o que realmente importa não é saber todas as respostas – mas estar disposto a fazer as perguntas certas.
Então, que tal começar agora?

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