Diálogo entre Amy Webb e Brené Brown
Amy disse que a inteligência artificial precisará ser cada vez mais física para operar melhor. Brené diria certamente que com os humanos acontece o mesmo
Amy disse que a inteligência artificial precisará ser cada vez mais física para operar melhor. Brené diria certamente que com os humanos acontece o mesmo
10 de março de 2025 - 16h13
Uma fala sobre a necessidade de se reinventar. A outra fala sobre a necessidade de se aceitar vulnerável. Uma estuda para onde a humanidade está caminhando, a outra sobre como cada indivíduo precisa encontrar o seu rumo. Uma é aficcionada pelo futuro distante, outra pelo presente pleno. Uma nos evoca a não ter medo do que vem pela frente, a outra nos instiga a ter coragem de ser imperfeito.
Só de ler esse primeiro parágrafo você já conseguiria adivinhar quem seriam essas duas mulheres, não é mesmo?
Isso mesmo, Amy Webb e Brené Brown. Eu pensei em propor esse diálogo entre elas — que nunca existiu, ao menos por enquanto — para destacar uma das maravilhas do Southby: essa incrível oportunidade de conectar pontos tão distantes — e criar um entendimento inusitado sobre as coisas. Claro que a maioria dos bons eventos proporcionam uma certa dose disso, você pode estar pensando. Mas no SX a quantidade de pontas diversas e distantes é tão grande que torna esse exercício de conexão de temas muito mais potencializado.
Aqui em Austin, Amy trouxe novamente a sua metralhadora rotatória de sinais que indicam para onde a humanidade está indo — e de forma bastante acelerada. Falou que estamos entrando em um novo superciclo tecnológico onde uma nova forma de “inteligência viva” se favorece diretamente da convergência de três forças: o desenvolvimento crescente da IA e da biotecnologia, somado à uma ampla rede de sensores avançados. Isso deve potencializar enormemente todo o segmento de wearables — sensores vestíveis em roupas, relógios, óculos — e de bodyables — a tecnologia inserida em nossos corpos, órgãos, neurônios e fluxo sanguíneo. Amy, como sempre, deu alguns exemplos reais disso acontecendo já agora em várias partes do mundo. Como a startup Cortical Labs que desenvolveu um computador comercial — que você pode colocar na mesa da sua casa — feito com neurônios humanos e simula o processamento do nosso cérebro. Ou uma startup de Londres que está desenvolvendo braços ampliados biônicos — como o vilão Dr. Octopus de Homem-Aranha — para humanos conseguirem executar tarefas e operações complexas.
Brené no talk em que participou trouxe um pouco do seu ângulo sobre essa nossa relação com o futuro — e com nós mesmos. Ela comentou que acha muito curioso quando as pessoas dizem que o que nos preservará dos riscos da AI serão as habilidades que nos fazem mais humanos. Brené ironizou lembrando que estamos cada vez piores exatamente no que nos faz mais humanos: empatia, compaixão, respeito, amor universal.
Amy disse que hoje, mais do que nunca, existem muitas semanas em que décadas acontecem, ou seja, o ritmo acelerado de coisas acontecendo não vem diminuindo, muito pelo contrário. Já Brené diz que a coragem de enfrentar o desconhecido e reconhecer nossas limitações é fundamental. Como sociedade, precisamos estar dispostos a ter conversas difíceis sobre os impactos dessas tecnologias e estabelecer diretrizes que priorizem a dignidade humana.
Amy disse que a inteligência artificial precisará ser cada vez mais física para operar melhor. Que ironia, não? Brené diria certamente que com os humanos acontece o mesmo. E emendaria falando da importância da cumplicidade física e presencial para destravar entraves de insegurança e distanciamento emocional.
Agora, pensando aqui nessa conversa entre as duas, me pergunto se existiria um grande ponto de encontro entre os metaversos de Amy e Brené. Qual seria afinal o ângulo convergente que uniria futuro e vulnerabilidade? A resposta está fortemente presente na fala das duas no SXSW, embora em sessões diferentes: a coragem. Afinal, Amy falou muito sobre como os líderes de hoje não podem ter medo de conhecer os sinais indicam o rumo das coisas — e ela diz que a maioria deles foge dessa conversa difícil e prefere acreditar que o jeito em que fazem as coisas é e será o melhor por muito tempo. Já Brené fala muito sobre como as pessoas precisam perder o medo de assumir suas imperfeições e “entrar por inteiro na arena da vida”. Percebe como as duas convergem num ponto comum bastante poderoso que versa tanto sobre o futuro das corporações e da humanidade, e o futuro dos indivíduos e comunidades.
Amy Webb fechou sua apresentação no Southby 2025 dizendo que é melhor você ficar surpreso ao conhecer hoje algum cenário futuro que pode te impactar em breve, do que se permitir ser cegado pela realidade — e surpreendido negativamente ali na frente. E a Brené Brown, o que será que ela diria sobre isso? Se você é tão fã dela quanto eu, vai saber me ajudar a dar sequência nesse diálogo inédito.
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