Emoção e senciência em IA: é possível?
Neurologistas, MIT e agências discutem as possibilidades de sitemas de inteligência artificial evoluírem para replicar aspectos humanos
Neurologistas, MIT e agências discutem as possibilidades de sitemas de inteligência artificial evoluírem para replicar aspectos humanos
Thaís Monteiro
15 de março de 2023 - 11h57
As analogias ao filme Her, em que o personagem vivido pelo ator Joaquim Phoenix se apaixona por uma inteligência artificial estiveram presentes em quase todos os paineis relacionados a IA no South by Southwest deste ano. O longa é uma alternativa a uma outra visão que Hollywood construiu sobre robôs ou computação inteligente: a de que eles iriam ganhar autonomia própria e dominar a espécie humana. A produção foi citada pois esse é um medo recorrente que surge da evolução dessa tecnologia, mas a resposta é: que quem coloca emoção ou senciência em IA são os humanos.
No filme Her, o personagem se apaixona por um sistema de inteligência artificial (Crédito: Reprodução)
No painel “Operacionalizando a empatia: como a IA mudará a consciência humana e acelerará a inteligência emocional”, o professor do MIT, Pulkit Agrawal, comentou que a capacidade de interpretar algo sob as lentes da emoção ou da humanidade é o que faz com que os próprios humanos interpretem emoções na tecnologia.
Para exemplificar, ele citou um experimento em que há um carro seguindo o outro. Um carro está com o farol aceso e o outro não. O carro que está seguindo o primeiro está seguindo a luz, mas quando a imagem era apresentada aos participantes da experiência e eles eram perguntados sobre o motivo e respondiam que um carro gosta do outro, estão apaixonados. “Não há nada de emocional, é nossa interpretação. Se eu conheço um estranho e eu penso neles como humanos e isso ajuda a formar uma conexão”, explicou.
OpenAI e ChatGPT: pró-humano e pró-ética
Complementando o professor, a neurologista e Chief Medical Officer da Qualtrics, Adrienne Boissy, descreveu que o cérebro é treinado para dar sentido ao mundo. Conforme o avanço da tecnologia de modelos de linguagem de IA que não comunicavam empatia ou sentimentos para os que o fazem, se torna mais fácil o humano interagindo com a máquina gerar sentidos de lealdade e conexão.
Não é algo que fica restrito ao âmbito da inteligência artificial. Agrawal trouxe a mesma analogia para a esfera das redes sociais. “Se você tem uma conversa interessante com um Chatbot, você começa a inserir nele traços de personalidade. Na Covid-19, fizeram um experimento de namoro sem ver o rosto e mostrava o quão fácil era fazer as pessoas se conectarem. Essas impressões levaram a amizades falsas pelo Facebook, relacionamentos falsos por aplicativos”, disse.
Ambos defendem que é necessário transparência e ética no desenvolvimento de sistemas de IA e deixar claro aos usuários que as tecnologias são máquinas e que seus usos são para tarefas específicas para evitar o comportamento instintivo de atribuir emoções humanas para seres inanimados.
Para aplacar as ansiedades em relação a isso e provar que a senciência não está em jogo até o momento, a Wunderman Thompson lançou no festival o The Sencient-O-Meter, uma ferramenta com uma série de perguntas que o usuário responde sobre a ferramenta de inteligência artificial com a qual está interagindo para mapear o quão evoluída está a tecnologia em relação a isso.
Lançado no SXSW, Sentient-O-Meter está disponível para uso (Crédito: Thaís Monteiro)
A metodologia é própria. Ao perceber que alguns testes para medir senciência estavam ultrapassados, a agência desenvolveu parâmetros para compreender o que seria senciência. Na definição de Jason Carmel, global lead de creative data da agência, senciência é uma mistura de inteligência, habilidade de resolução de problemas, ter experiências por si próprio e consciência sobre si. Atualmente, ele considera que IA só é inteligente.
Na ferramenta, senciência está dividido nas categorias experiência (possibilidade de participar de eventos internos e externos, o que envolve o sensorial, emocional e memória), agência (escolhas, reflexões sobre o mundo e conexão com outros) e magia (conectar pontos, sintetizar conteúdos e a capacidade de surpreender).
A ferramenta foi testada ao vivo por Ilinca Barsan, diretora de ciência de dados da Wunderman Thompson, no painel pensando na última versão do ChatGPT. O resultado foi que o ChatGPT tem 1% de probabilidade de ser senciente. “ChatGPT é o melhor que o mundo tem hoje em dia. Se juntássemos todas as IAs e submetêssemos, o resultado seria baixo da mesma forma”, afirmou Carmel.
Ele reafirmou a necessidade de transparência e melhores manchetes ao se tratar de inteligência artificial. “Ao invés de ‘IA vai tomar nossos trabalhos’, deveríamos perguntar se gerentes vão demitir pessoas quando eles tiverem acesso à IA”, disse.
Apesar de tudo, o fato de sistemas de inteligência artificial demonstrarem empatia não é algo considerado ruim pelos especialistas, pelo contrário. Para a neurologista, empatia pode ser descrita por quatro perspectivas: sentimento (sentir pela experiência do outro), cognição (possibilidade de imaginar a experiência do outro), moral (se conectar e entender) e comportamental (compaixão e ação em relação ao relatado).
Na área da saúde – e em outras -, ela considera que quanto mais empático o atendimento ao cliente, melhor. Um sistema empático poderia melhor suprir as demandas do usuário, identificar riscos e liberar os profissionais de tarefas manuais para exercer melhor sua humanidade e atenção no dia a dia e contato com pacientes, clientes ou outros humanos.
Compartilhe
Veja também
Casa São Paulo vira SP House no SXSW 2025
Em um espaço maior, iniciativa terá presença de alguns dos nomes mais célebres do SXSW, como Amy Gallo, Ian Beacraft e Neil Redding
Itaú traduzirá todas as palestras online do SXSW 2025
Em seu terceiro ano consecutivo como patrocinador do festival, banco oferecerá ainda benefícios exclusivos para clientes na compra das credenciais Platinum e Interactive