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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Quem são as estrelas do South by Southwest?

Amy Webb, Simran Jeet Singh, Amy Gallo, Douglas Rushkoff e Ian Beacraft comentam oportunidades e desafios de manter conteúdo interessante no SXSW


5 de março de 2025 - 12h00

A tradicional lista de estrelas do entretenimento confirmadas para o South by Southwest (SXSW) está mais modesta do que de 2024, quando passaram pelos balrooms do Austin Convention Center nomes associados à monarquia inglesa, como Meghan Markle, pop stars como Selena Gomez, além de atrizes de Hollywood, como Brooke Shields e Sidney Sweeney.

Apesar do menor número de celebridades do mundo pop na programação do SXSW deste ano, há nomes que prometem atrair muita gente ao Convention Center, como Bella Ramsey, Issa Rae, Pedro Pascal e Ben Stiller, só para ficar em nomes de Hollywood.

E é correto afirmar que o evento tem seu próprio time estelar. O próprio conceito de estrela pode abranger tanto aquilo que é novo e desejado, quanto aquilo que é referência em seu campo de atuação e continua a brilhar por anos e anos seguidos (mesmo depois da morte, como as estrelas na galáxia).

Amy Webb, Simran Singh, Amy Gallo, Douglas Rushkoff e Ian Beacraft

Amy Webb, Simran Singh, Amy Gallo, Douglas Rushkoff e Ian Beacraft são nomes que atraem grande público no SXSW (Crédito: Divulgação)

A futurista, fundadora e CEO do Future Today Institute, Amy Webb é um exemplo de estrela consolidada depois de anos na programação. Ela é a personalidade que mais atrai público ao Ballroom D, maior espaço de palestras no festival. O espaço abriga 2.408 pessoas. Todos os assentos são ocupados, assim como os de uma sala anexa onde a organização do evento transmite a apresentação. As filas começam entre seis e sete da manhã e chegam a descer a escadaria de emergência do Austin Convention Center.

A reputação de Amy Webb foi construída ao longo das quase duas décadas que frequenta o SXSW. “Acho que foi em 2005. Mas a verdadeira resposta é que eu realmente não sei, porque estou indo há muito tempo”, diz, rindo e tentando buscar na memória o ano exato em que pisou no Austin Convention Center como palestrante e tomada pelo fear of missing out (FOMO), sensação que a acompanha até hoje.

Anualmente, Amy apresenta os destaques do Tech Trends Report, relatório de tendências elaborado por ela e demais colaboradores de sua empresa. Pouco antes de cada apresentação, Amy compartilha a versão completa do relatório para todos acessarem gratuitamente online. Desde 2019, suas apresentações ficam disponíveis no canal do SXSW no YouTube. Ainda assim, ela é motivo de grande mobilização. “Às vezes, é difícil, porque eu sinto vontade de ir para uma sessão e eu vejo 100 pessoas e falo com todas essas pessoas. A maior parte do meu South by é assim. É tentar conseguir comida e depois tentar chegar a uma sessão e conhecer todas essas pessoas incríveis em todos os lugares”, descreve.

O preparo para sua apresentação tem início em outubro. Mesmo se tratando de um recorte de seu relatório, Amy considera a preparação um trabalho que toma tempo e esforço. Ele envolve a seleção das tendências e a criação de uma narrativa com histórias que se relacionam com cada uma das selecionadas. “Tecnicamente, estou fazendo um discurso, mas, do meu ponto de vista, estamos compartilhando o mesmo espaço e estamos todos criando algo juntos. É uma comunidade de pessoas que querem criar um futuro melhor”, coloca.

Para a executiva, da mesma forma que os frequentadores são impactados positivamente pelo seu conteúdo, o SXSW teve contribuições em sua vida profissional e pessoal. No nível profissional, lhe proporcionou o crescimento da sua empresa através do networking que o evento promove. Pessoalmente, lhe rendeu um relacionamento muito próximo aos brasileiros e ao Brasil, país pelo qual se interessa desde a infância.

“Quando eu estava no ensino fundamental, cada um tinha que escolher um país para fazer uma apresentação. E por alguma razão, escolhi o Brasil. Pensei que talvez algum dia eu fosse para o Brasil. Por causa do South by Southwest, eu pensei ‘acho que não tenho que ir para o Brasil. O Brasil vem até mim’”, brinca. Duas semanas antes de conceder essa entrevista, Amy Webb estava na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.

Estrelas cadentes

Há nomes que espalham sua luz pelo SXSW esporadicamente, mas que são fiéis ao evento desde seu início e causam grande impacto. É o caso do autor e professor de teoria da mídia e economia digital, Douglas Rushkoff. Amigo pessoal do presidente e chief of programming officer do South by Southwest, Hugh Forrest, Rushkoff foi parte do line up de 1996, terceira edição da conferência, que era focada em mídia. Ele não manteve uma ofensiva, como Amy Webb. Vem ao evento com intervalos razoáveis, de cinco a seis anos. Sua última aparição foi em 2023 e a próxima acontece em 2025. “Eu nunca considerei fazer uma lista de conferências do setor para tornar centrais na minha vida e comparecer sempre que acontecessem. Não me oponho a alguém escolher uma conferência para participar todo ano, mas estou tão ocupado e acho um pouco presunçoso da minha parte exigir a atenção de todos como palestrante anualmente. Eu falo quando tenho algo importante a dizer”, coloca.

Amy Webb compõe um rol de futuristas que, ano após ano, aumenta, com profissionais dividindo suas pesquisas e perspectivas sobre tendências no SXSW. O primeiro painel de Rushkoff já criticava o que viria a se tornar o evento – tinha o título “Why futurist suck?”. Era uma crítica aos editores da revista Wired, como Stewart Brand e Kevin Kelly, que, na época, se autodenominavam futuristas e levavam os leitores a crer que era necessário contratar esses profissionais para evitar que os negócios falissem. “Argumentei que nós, aqui em Austin, somos a contracultura daquela grande cultura do dinheiro do Vale do Silício e que os futuristas são propagandistas criando um futuro que os exige. E nós, na contracultura mais estranha de Austin, podemos promover uma Internet que não precisa desses especialistas para direcionar a Internet para o capitalismo”, descreve.

A renovação do seu conteúdo segue uma linha prática: “bem, as coisas mudam”, diz sorridente. O painel deste ano visa o retorno àquele SXSW de 1996, o “OG SXSW”. O teórico irá propor uma experiência para lembrar às pessoas que Austin é o lugar onde se discutia assuntos estranhos e contracultura, na tentativa de conjurar esse espírito por um momento “para que possamos estar juntos nisso e redirecionar o curso da rede de tecnologia e, esperançosamente, da própria cultura”, propõe.

Wish upon a star

É possível supor que Ian Beacraft, CEO da Signal And Cipher, fez um pedido a uma estrela e ele se concretizou. Ao invés de ingressar no mundo do South by Southwest como palestrante, Beacraft é frequentador assíduo desde 2016. À época, ele trabalhava como vice-presidente de estratégia digital e inovação da Epsilon e ia ao evento em busca de insights na intersecção entre tecnologia e cultura. Em 2019, ele fez um pitch para ser painelista. A organização optou por testá-lo no formato Ignite Talks, em que profissionais são convidados a falar por cinco minutos sobre um tópico de sua escolha. Na época, a palestra “Porn and pizza: what we can learn from innovation on the fringe of society?” gerou interesse no público e dos organizadores.

Beacraft foi convidado a voltar à programação, com uma apresentação solo, que aconteceu em 2021, uma vez que a edição de 2020 foi cancelada por conta da pandemia. O executivo preparou uma palestra gravada em estúdio, com efeitos visuais, e desde então voltou anualmente ao evento. “Ficou bem claro que eu levei a sério estar no South by e obviamente era muito importante para mim e eu queria fazer parte disso”, conta. Beacraft inicia sua preparação em outubro. A princípio, a escolha do tema se baseava em seus interesses pessoais. Ao entrar mais em contato com empresas, auxiliando em estratégias e produtividade, seu foco se tornou auxiliar o público a compreender onde a intersecção entre tecnologia, sociedade e trabalho caminha e criar práticas que promovem mudanças nas organizações.

“Depois disso, eu me envolvo com a equipe do South by. Pergunto: o que vocês estão observando? Onde estão as lacunas na programação? O que faria sentido trazer para ajudar a preencher essas lacunas e garantir que as pessoas realmente recebam tudo o que vocês esperam oferecer? Falo sobre a execução – como isso poderia ser apresentado no palco? Que tipo de tecnologia posso trazer para fazer isso funcionar? – até quais são as novas tendências e ideias interessantes que vocês estão ouvindo e gostariam de ver realizadas. E é aí que entra muito o trabalho em parceria”, descreve. Sua carreira como palestrante passou a existir por conta do evento. “Me deu uma plataforma que eu não tinha antes”, diz.

Desafio da renovação

Em 2018, o SXSW inaugurou a primeira Wellness Expo, voltada a alimentar a mente, o corpo e a alma com a exposição de produtos e serviços inovadores nessa área. Antes disso, o festival começava a incluir conversas sobre saúde mental, comportamento e trabalho em partes da conferência. Nessa leva, o educador, ativista e professor no Union Theological Seminary, Simran Singh, e a autora especialista em trabalho, Amy Gallo, foram convidados para integrar a programação do evento em 2017. Simran em um painel menor sobre diversidade religiosa no ambiente de trabalho e Amy em uma conversa sobre seu livro “HBR Guide to Dealing with Conflict” (“Guia da Harvard Business Review para lidar com conflitos”, em português), lançado naquele ano.

A proposta era que Amy conduzisse uma conversa de meia hora sobre o lançamento. “Não era uma sala enorme, acho que cabiam cerca de 300 pessoas, mas havia gente sentada nos corredores porque estava lotado. Acho que o tema de conflito e conversas difíceis não tinha sido tão abordado no South by antes”, descreve Amy. “Fui fisgada desde a primeira vez”, brinca. Amy voltou nos dois anos seguintes. Depois da pandemia, voltou a palestrar a partir de 2023, quando lotou um auditório composto principalmente por brasileiros.

Já Simran foi alçado ao estrelato. Depois de 2017, participou do evento em 2022, mas, em 2023, foi o nome que abriu o evento junto à professora de psicologia na Yale University, Laurie Santos. Em 2024, o autor voltou como keynote. “Nos últimos anos, estive no palco principal diante de grandes públicos que estão realmente curiosos para aprender. É isso que mais amo no South by Southwest: há tantas pessoas lá que são genuinamente curiosas e entusiasmadas em aprender. E eu sou uma dessas pessoas, gosto muito de fazer parte dessa comunidade”, diz. Este ano, Simran estreia no SXSW EDU, conferência voltada à educação.

Para ambos os palestrantes, o SXSW deu a oportunidade de trabalhar com empresas e comunidades diferentes, visitar locais diversos, incluindo o Brasil, e formar conexões que se mantém até hoje. Ao ganhar essa plataforma, os pensadores tentam dar retorno com conteúdo relevante e útil. “Você não quer se repetir no South by Southwest. Já tive pessoas que assistiram a todas as palestras que dei. Isso me lembra que não posso nem repetir uma imagem em um slide. Tive três ideias e, junto com os organizadores, escolhemos a mais relevante: fofoca no trabalho. Literalmente todo mundo tem alguma experiência com isso. Além disso, é um tema que tenho explorado bastante em minhas pesquisas para o meu próximo livro, então foi uma escolha muito natural”, descreve Amy.

Simran vê o evento como uma oportunidade de promover uma mudança real ao incentivar a busca do equilíbrio individualmente e em organizações. “Nunca gostei de ser o tipo de pessoa que apenas repete o que todo mundo está dizendo ou diz algo só porque soa bem. Trago ideias nas quais realmente acredito, que tento aplicar na minha própria vida, que experimentei em primeira mão e que ajudam as pessoas a enxergar as coisas com mais clareza ou simplesmente de uma maneira diferente. Minha preparação começa refletindo sobre o que as pessoas estão pensando, com o que estão lutando. O que eu tenho acesso que poderia ajudá-las? A partir disso, crio um programa que seja interessante e divertido, mas também instrutivo e significativo”, divide.

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