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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Gabriela, da Corona, evidencia debates sobre solidão e IA

Diretora de marketing da Corona no Brasil prioriza assuntos fora de seu mercado de atuação no festival


11 de março de 2025 - 9h50

Diversas pesquisas em todo o mundo revelam que os jovens estão consumindo menos álcool do que as gerações anteriores. Por exemplo, um estudo recente da Mind & Hearts constatou que 36% dos mais jovens brasileiros consomem álcool apenas mensalmente ou menos – enquanto isso, esse percentual é de 32% nas gerações Y e X. Em prol do retorno da socialização e da conexão, dois temas latentes na programação do South by Southwest (SXSW), Scott Galloway fez quase que um apelo para que os jovens voltem a beber.

Gabriela Gallo

Gabriela Gallo, foca em assuntos fora de seu mercado de atuação (Crédito: Amanda Schnaider)

Apesar de enfatizar que esse ponto reforça o papel da categoria de cervejas, em sua primeira passagem pelo festival, temas mais distantes desse mercado têm despertado o interesse de Gabriela Gallo, diretora de marketing da Corona no Brasil. Entre eles estão a solidão, a inteligência artificial e o futuro do trabalho.

O olhar fresco de Gabriela para o festival, inclusive, tem feito a executiva exercitar um músculo importante para a sua criatividade: a curiosidade. “Ele precisa ser trabalhado, alimentado. E aqui sinto que saio com essa partezinha de mim de barriga cheia”, ressalta. Confira a entrevista completa a seguir:

Meio&Mensagem — É a sua primeira vez no SXSW. Até agora, o que mais chamou a sua atenção?
Gabriela Gallo — Primeiro que não é só do mundo do marketing, então abre bastante a cabeça. Você vê pessoas de todas as indústrias, de todos os setores, muita gente das artes, música, cinema. Isso enriquece também, porque, às vezes, ficamos muito na nossa bolha, mesmo quando tentamos sair da bolha. Esse foi um ponto positivo. Como o festival mobiliza a cidade inteira também, não fica fechado. Isso é legal. E, para mim, do que vi, dois grandes temas ficaram na minha cabeça. Um é o lado sombra da tecnologia, no sentido de isolar principalmente a geração Z, um sentimento muito de solidão, de isolamento. Diversas palestras que fui, diversas pessoas com quem conversei, trazendo muito isso. Isso chamou bastante a minha atenção. E o outro assunto que chamou a minha atenção é algo que sempre falamos, sabemos da inteligência artificial, sabemos como está mudando a rotina dos trabalhos, mas não vemos de forma tão aplicada ainda no setor de marketing, de publicidade. Usamos de forma muito tática. E aqui fui exposta a formas muito mais estratégicas, muito mais transformacionais de usar a inteligência artificial.

M&M — Com base em estudos, Scott Galloway ressaltou que os jovens, como a geração Z e os millennials, estão consumindo menos álcool. De que forma esse fato impacta o trabalho de marketing da Corona e da Ambev como um todo?
Gabriela  Até linkando com a minha primeira resposta, apareceu muito isso da geração Z muito solitária, sem saber se socializar, desaprendeu a socializar, solidão, isolamento. E isso me fez pensar, especialmente vendo a palestra da Scott Galloway, o papel da nossa categoria, da categoria de cerveja que sempre foi sobre unir as pessoas através de um brinde, de servir como uma ferramenta de socialização. E acredito que é isso que temos que voltar ou continuar fazendo com bastante paixão na categoria de cerveja. Porque não é só a cerveja em si, é onde estamos, são os shows que patrocinamos, nos eventos que estamos, nas experiências que proporcionamos. Então é de fato uma mega ferramenta de socialização e, vendo isso, me fez acreditar ainda mais no papel da categoria como um todo, maior do que o Corona, mas no papel da cerveja mesmo.

M&M — Recentemente, a Corona tem se aproximado de grandes eventos esportivos e de entretenimento, como os Jogos Olímpicos e o show da Lady Gaga em Copacabana. Quais insights vistos aqui no festival podem ser levados para as estratégias da marca nesses dois territórios?
Gabriela  O que une todas as plataformas ou todos os assets de Corona, na verdade, é esse convite para as pessoas viverem mais lado de fora. Passamos 95% da nossa vida em espaços fechados, mas se pensarmos nas melhores memórias que temos, provavelmente você estava de férias, na praia, em algum lugar com seus amigos. Então, o propósito de Corona é sempre esse convite mesmo às pessoas viverem mais do lado de fora. Podemos fazer isso através de festas, de grandes eventos como as Olimpíadas, de shows, do surfe, da praia. E, de novo, sem querer ser muito repetitiva, mas vemos que a tecnologia é uma ferramenta para um monte de coisa positiva, mas ela também acaba servindo quase como um pretexto para você ficar mais dentro de casa. Você não precisa mais sair para comer, você pode pedir comida, você não precisa mais sair para fazer amigos, você pode fazer amigos online, você não precisa mais sair para namorar, você pode namorar dentro de casa. O nosso convite para viver ao lado de fora, as nossas experiências serem cada vez mais imperdíveis do lado de fora, para convidar cada vez mais as pessoas a irem, é muito relevante. Então, eu saí com um sentimento de que estamos num território que é muito relevante, muito importante para as pessoas, para o futuro, para o que queremos.

M&M — Nos últimos anos, a Corona tem investido em diversos projetos de sustentabilidade. Qual é a importância do tema para a companhia atualmente e como a discussão acerca dele no evento reverbera nos negócios da marca?
Gabriela  Sustentabilidade é um pilar super importante para a marca, porque falei sobre onde a acontecemos, falamos que a praia é a casa de Corona, assim. Corona é uma marca centenária, ela faz 100 anos esse ano. Ela existe há 100 anos na praia, vivenciando essa cultura de praia, celebrando essa cultura de praia, mesmo onde não tem praia, então é isso que ela representa. E se queremos estar aqui nos próximos 100 anos, não tem como não falar de sustentabilidade. Se não cuidarmos desse lugar, da natureza, acreditamos que é na natureza que nos desconectamos para nos reconectarmos com nós mesmos. Sustentabilidade não é uma escolha para a Corona. Acredito que não é uma escolha para quase ninguém, para ninguém deveria ser uma escolha. Mas para Corona ela é muito intrínseca, está muito no core. E ouvindo um pouco as discussões aqui, vejo que sustentabilidade não é mais uma vertical. Antes era “eu tenho meu pilar de sustentabilidade”. Sinto que ela já está muito mais espalhada, enraizada em vários outros temas. Em Corona, sustentabilidade é menos um assunto e mais uma verdade que permeia tudo que a marca faz. Vou fazer uma ativação, vou me preocupar em ser uma ativação sustentável. Os materiais de trade de Corona não usam plástico de uso único, nenhum deles. Essa preocupação passa por todos os pilares da marca.

M&M — Futuro do trabalho é um tema cada vez mais presente aqui no festival. Dentro desse assunto, o que mais despertou o seu interesse?
Gabriela  Foi um dos assuntos que mais gostei de ver aqui, a questão do futuro do trabalho, das organizações, das dinâmicas. A inteligência artificial como uma ferramenta apareceu muito também, não só de eficiência, mas de eficácia também, de conseguir resultados melhores de fato, da IA não só como um sistema responsivo, mas mais ativo, mais participativo. Ela tem um papel muito mais central. E as dinâmicas de trabalho pós-pandemia e com tecnologia também sendo muito questionadas aqui, desde o trabalho remoto, desde a quantidade de horas também trabalhadas. Vi muito isso sendo questionado e acredito que as organizações, de fato, vão ter que lidar com isso, principalmente com essas novas gerações entrando. Rishad Tobaccowala falou muito sobre formatos diferentes de trabalho. Tem alguém que vai querer trabalhar 100% do tempo, alguém 60% da carga horária. Pessoas que estão entrando no trabalho talvez precisem ir presencial todo dia, diferente de pessoas que já são mais sêniores ou que já estão naquela vaga faz tempo. Essa flexibilidade do trabalho e da educação também, que foi algo que achei legal na palestra dele. A nossa educação é muito compartimentada na nossa vida. Estudamos nos primeiros 22 anos de vida e isso deveria nos preparar para o resto da nossa vida, só que vamos viver mais de 100 anos, ou seja, vamos trabalhar mais de 80 anos na nossa vida, o que é um pouco duro pensar, mas vamos trabalhar 80 anos e não vai ser suficiente o que aprendemos nos primeiros 20. Como a educação é menos vista como compartimentada e mais fragmentada ao longo da vida. Achei esse um pensamento muito interessante. A educação, o sistema de educação já tem sido questionado faz tempo e faltam novas propostas.

M&M — Por fim, de forma geral, por que estar no SXSW é estratégico para os negócios da Corona e para você, como profissional de marketing? E o que pretende levar do festival para o dia a dia do trabalho?
Gabriela  Vim aqui com uma cabeça menos até de trazer insights para a Corona e mais para a minha carreira, para a dinâmica organizacional também. Inclusive, busquei palestras que não necessariamente tem a ver com o meu dia a dia, mas para provocar, porque aprendemos ouvindo outras pessoas, de outros lugares. Tem sido muito legal para isso, separar quatro, cinco dias para ouvir, para aprender. Às vezes entro numa palestra e falo, “Meu Deus, o que estou fazendo aqui?”. Mas te questiona e sempre traz insights. Então, vim muito com essa cabeça, é isso que tenho feito, conhecido muita gente também. E eu volto um pouco mais curiosa. Às vezes, estamos no piloto automático e não trabalhamos esse músculo também, que é a curiosidade. Ele precisa ser trabalhado, alimentado. E aqui sinto que saio com essa partezinha de mim de barriga cheia.

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