Hugh Forrest: “O público adora a convergência entre indústrias e arte”
Chief programming officer do SXSW relata aprendizados da edição do SXSW na Austrália, detalhes sobre a programação e a relevância dos brasileiros no evento
Chief programming officer do SXSW relata aprendizados da edição do SXSW na Austrália, detalhes sobre a programação e a relevância dos brasileiros no evento
Thaís Monteiro
5 de março de 2024 - 6h00
O South by Southwest chega a sua 38ª edição em Austin. Nesse meio tempo, além de ter evoluído de festival de música para incluir cinema e painéis sobre diversos temas, o SXSW ganhou uma versão fora dos EUA. Em outubro de 2023, o evento ganhou uma edição na Austrália. O festival também trouxe o mundo à Austin, sobretudo os brasileiros. De 345 mil visitantes em média, a maior delegação internacional é brasileira.
Neste ano, os brasileiros atingiram um recorde no SXSW. São mais de 1.600 brasileiros no evento, a maior quantidade de brasileiros entre todas as edições. Os brasileiros também estão presentes em mais de 20 painéis, somam sete mentores e sete artistas da música e dois filmes. Além disso, seis marcas brasileiras apresentam painéis próprios. Há, também, patrocínios de empresas brasileiras. O Itaú patrocina o festival, Spcine patrocina o jantar Filmmakers In Competition e Bossa.etc patrocina o Daily Video Highlights, boletim diário do SXSW que resume, em vídeo, os destaques do dia.
A programação do SXSW 2024 tem novidades. Se inteligência artificial dominou a maioria das conversas na edição de 2023, à espreita do lançamento e popularização do ChatGPT, agora a inteligência artificial conta com uma trilha própria com 64 painéis. Mesmo assim, é inegável a predominância da IA no conteúdo, pois painéis de trilhas diferentes também debatem IA no trabalho, no clima, na publicidade e em outras indústrias.
A inspiração para a nova track veio do SXSW Sydney, diz Hugh Forrest, chief programming officer do SXSW. “A experiência do SXSW Sydney confirmou nossa teoria de que a programação focada em inteligência artificial seria muito popular, já que essas sessões estavam quase todas completamente cheias no evento”, conta.
Nesse tópico, chama a atenção painéis sobre regulamentação da IA e os impactos da tecnologia na democracia, mídia e eleições, como as presidenciais, que ocorrem nos Estados Unidos em novembro.
“Muitos de nós estamos muito preocupados com o papel desproporcional que a IA mal direcionada, a desinformação, fatos alternativos e deep fakes terão nesta eleição. Daí a necessidade de abordar esses tópicos no SXSW deste ano”, justifica Forrest. Para discutir esse assunto, o evento traz painéis com Lina Khan, presidente da Comissão Federal de Comércio (FTC), e Margrethe Vestager, vice-presidente executiva e comissária responsável pela concorrência da Comissão Europeia.
Outra novidade em termos de trilha são as trilhas Creator Economy e Beauty & Tech.
Ao Meio & Mensagem, Forrest relata aprendizados da edição em Sydney, na Austrália, detalhes sobre a programação e a relevância dos brasileiros no evento.
Meio & Mensagem — No ano passado, falamos sobre as expectativas para o SXSW Sydney. Qual é a avaliação geral da experiência de trazer o SXSW, um evento que acontece em Austin há décadas, para outro continente?
Hugh Forrest — Traduzir a energia, a atmosfera, a personalidade, o ethos e a visão criativa do SXSW para outra cidade é difícil — simplesmente porque a cidade de Austin é uma parte enorme do que fazemos. Dito isso, o evento inaugural do SXSW Sydney em outubro de 2023 estabeleceu uma base muito sólida para o crescimento nos próximos anos. A equipe na Austrália passou muito tempo estudando como abordamos o evento em Austin – e fez um ótimo trabalho de traduzir essa abordagem para a cultura e o sabor únicos de Sydney. Tive a sorte de participar do SXSW Sydney por alguns dias e fiquei absolutamente impressionado com a qualidade da experiência geral.
M&M — Que tipo de aprendizados você aplicará ao SXSW em Austin este ano?
Forrest — A experiência do SXSW Sydney confirmou nossa teoria de que a programação focada em inteligência artificial seria muito popular, já que essas sessões estavam quase todas completamente cheias no evento. A experiência do SXSW Sydney também confirmou que o público adora a convergência de diferentes indústrias e formas de arte que o SXSW sempre reúne. Acho que uma das grandes lições do primeiro ano na Austrália é que mais pessoas em todo o mundo querem e precisam do tipo de conexões, conhecimento e inspiração que o SXSW se destaca em oferecer.
M&M — O evento deste ano apresenta vários painéis que discutem democracia, eleições e o impacto da IA nas eleições. Nos últimos anos, vimos debates políticos presentes no SXSW, incluindo discussões sobre Roe vs. Wade, direitos trans em 2022, a guerra na Ucrânia, entre outros. O debate político ganhou maior presença no SXSW ou sempre fez parte do festival?
Forrest — O SXSW tem coberto política de uma forma ou de outra desde o início do evento em 1987. A política nunca foi o foco principal do evento, já que a maioria de nossa programação aborda o poder da criatividade. Dito isso, a política é um tópico que não evitamos conforme os eventos atuais o justificam – especialmente à medida que a desinformação, o autoritarismo e a erosão dos direitos pessoais se tornaram mais prevalentes nos EUA e globalmente nos últimos anos.
M&M — Por que o festival decidiu abordar questões envolvendo democracia, eleições e regulamentação da IA este ano?
Forrest — A próxima eleição presidencial nos EUA acontece em novembro de 2024. Muitos de nós estamos muito preocupados com o papel desproporcional que a IA mal direcionada, a desinformação, fatos alternativos e deep fakes terão nesta eleição. Daí a necessidade de abordar esses tópicos no SXSW deste ano.
M&M — Vários profissionais dizem que vão ao SXSW para fazer networking e negócios. Qual é a sua opinião sobre essa transformação? O próprio festival busca fomentar esses dois aspectos?
Forrest — O networking sempre foi uma parte enorme do que fazemos no SXSW. Aprendizado e descoberta são uma grande parte da experiência, mas fazer novas conexões com outros criativos de tantas indústrias diferentes, conexões que muitas vezes levam a novas oportunidades, é talvez uma parte ainda mais importante do que torna o evento tão especial.
M&M — Muitas marcas patrocinam o festival, apresentam sessões e realizam ativações. Quais são os critérios do SXSW para estabelecer essas parcerias?
Forrest — Estamos sempre procurando alinhar o SXSW com marcas que compartilhem nossos valores ou com marcas que se alinhem com nossa programação. Em muitos casos, encontramos algumas ótimas combinações — e essas ótimas combinações ajudam a enriquecer a experiência dos participantes.
M&M — O que você procura nessas parcerias? E o que o festival visa agregar a essas marcas em termos de negócios?
Forrest — As parcerias que estabelecemos devem fazer sentido para ambas as partes — não apenas para a empresa que deseja se associar ao SXSW. Geralmente tentamos evitar a lavagem cerebral da marca e/ou a reabilitação da marca. Se achamos que uma marca está tentando reinventar sua imagem associando-se ao SXSW, provavelmente não é uma boa combinação.
M&M – Este ano, notamos um aumento significativo no número de palestrantes brasileiros. Isso é resultado de um convite intencional da organização?
Forrest – Estamos animados em aumentar a representação do Brasil no programa de conferências do SXSW principalmente porque há tanta inovação vindo de lá. Também acredito que o aumento é resultado direto de mais e mais profissionais da indústria do Brasil se inscrevendo para falar no evento.
M&M — O que os brasileiros adicionam ao festival em termos de conteúdo?
Forrest — A inovação, o espírito empreendedor, a criatividade e o amor pela vida que continuam a surgir do Brasil se traduzem extremamente bem para a comunidade do SX.
M&M — Quantos brasileiros estão participando do SXSW este ano? Onde o Brasil se classifica entre os países que participam do SXSW?
Forrest — O Brasil provavelmente será a maior delegação internacional no SXSW 2024. A diversificada comunidade brasileira traz muito de sua expertise, paixão, entusiasmo e energia criativa para Austin a cada março.
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