IAí?
Talvez alguns processos sejam automatizados, mas são as pessoas que evitarão que os conteúdos fiquem pasteurizados
Talvez alguns processos sejam automatizados, mas são as pessoas que evitarão que os conteúdos fiquem pasteurizados
13 de março de 2024 - 14h03
“No princípio, Deus criou os céus e a terra”. A partir daí, no entanto, o homem assumiu a esteira de grandes novidades para trazer o fogo, a roda, o travesseiro da NASA, a Tekpix, as paletas mexicanas, o coach quântico, a realidade aumentada, o crossfit e finalmente ela: a Inteligência Artificial.
Como já deveríamos imaginar, não se falou em outra coisa no SXSW de 2024. Perdi as contas de quantos painéis tinham “IA” no título. E, mesmo naqueles que não falavam especificamente do assunto, o tema teimou em voltar. A brincadeira geral foi que, no bingo de temas do South by Southwest, essa era a aposta certa.
De tudo o que vi, ouvi e degluti até aqui, cheguei à conclusão de que, ao menos por enquanto, a IA está no meio do caminho. Por um lado, está claro que ela veio para ficar e que é de fato uma tecnologia revolucionária para diversas indústrias (inclusive a da comunicação); por outro, ao que tudo indica, parece que ela está apenas engatinhando.
Acontece que, por mais que as inovações inundem a nossa vida em uma velocidade impressionante, elas não nascem prontas. E se a lógica da IA é justamente aprender para poder auxiliar e antecipar de forma mais acertada, precisamos entender que ela ainda está em processo de alfabetização.
Recentemente, Sam Altman (que ficou famoso por ser o executivo à frente da OpenAI) disse, de forma taxativa, que, em cinco anos, a indústria da propaganda será totalmente dizimada pela IGA (Inteligência Geral Artificial). Isso significaria que 95% de uma indústria de $410 bilhões desapareceria junto com 400 mil agências e 2 milhões de pessoas. Mas essa não foi a tônica em Austin.
Exceto por um ou dois palestrantes mais apaixonados e enviesados para um dos lados da discussão, a grande maioria trata a Inteligência Artificial como uma ferramenta. É mais sobre as legendas automáticas do seu vídeo, as respostas rápidas do ChatGPT, as imagens geradas por uma busca mais específica, a predição de trends e menos os dilemas éticos, os direitos autorais e os bots que irão roubar os nossos empregos ainda hoje.
Imagino, claro, que, por ser um evento muito frequentado por pessoas que atuam com criatividade, houve um claro receio de se falar sobre substituição. A palavra mais usada para relacionar a tecnologia em questão com a criatividade foi “eficiência”. É como se falassem o tempo todo que a IA não vai te substituir, mas sim te ajudar – o que é, sem dúvidas, mais simpático com a audiência.
Por mais que o ser humano adore brincar com a bola de cristal, o fato é que ninguém sabe ao certo para onde vamos quando o assunto é algo que está acontecendo agora, em todos os lugares do mundo. Se é certo que parte do trabalho de comunicação poderá ser automatizado, tenho certeza também de que as agências e as pessoas seguirão sendo importantes dentro desse processo.
Talvez as agências fiquem menores, mas as pessoas passem a trabalhar internamente em empresas e veículos. Talvez alguns processos sejam automatizados, mas são as pessoas que evitarão que os conteúdos fiquem pasteurizados. Talvez tenhamos um sistema mais complexo e fragmentado, mas as pessoas terão que criar estratégias para isso funcionar sem fricções.
Resumindo: a gente não pode estar nem aí pra IA, mas deve estar aqui para ela.
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