Inovação, solidão e o desafio de permanecer humano
A ascensão da IA no mercado criativo reforça a necessidade de autenticidade e conexões humanas para mantermos nossa relevância
A ascensão da IA no mercado criativo reforça a necessidade de autenticidade e conexões humanas para mantermos nossa relevância
13 de março de 2025 - 14h20
No meu primeiro dia de evento aqui no SXSW, perdi uma sessão da minha área (publicidade e branding) e, sem querer, acabei caindo em outra que discutia inteligência artificial. Sim, esse tema de novo. Desde 2022, a IA domina o evento e a cada ano o debate se aprofunda, refinando nosso olhar e nos fazendo questionar aspectos cada vez mais específicos dessa realidade.
O título da sessão “Mantendo-se Humano na Era da Inteligência Artificial” era instigante, mas me soou um pouco distante. Antes mesmo de pensarmos em como nos manter humanos, a verdade é que muita gente ainda resiste em aceitar que a IA já é uma realidade consolidada. E mesmo quem entende isso, muitas vezes se sente perdido sobre como navegar nessa nova dinâmica – especialmente no mercado criativo.
Talvez o tom de ameaça implícito no título venha da sensação de que a IA está tomando espaço. Mas, será que o problema é realmente a substituição? Ou será que o grande desafio está em como integrar essa tecnologia de forma inteligente? Quando usamos IA como um mero atalho para o pensamento criativo, os resultados inevitavelmente acabam sendo pequenos e superficiais.
De qualquer forma, existe um efeito colateral mais profundo nessa revolução: a solidão. Se estamos cada vez mais terceirizando interações, decisões e até a criatividade para máquinas, onde fica o papel das conexões humanas? Queremos ouvir de uma pessoa, não de um algoritmo. A confiança nas marcas está sendo impactada justamente porque buscamos autenticidade, empatia, um senso de pertencimento, coisas que a IA, por mais sofisticada que seja, ainda não consegue replicar de forma genuína. Quando eu uso uma IA para escrever um documento e meu chefe usa outra IA para lê-lo, será que estamos, de fato, nos comunicando? Ou estamos apenas automatizando o distanciamento?
Sim, a IA ajuda a “get the job done”, mas a que custo? E se queremos que a IA seja usada de forma responsável, precisamos de mecanismos para medir sua ética e impacto. Precisamos testar, ajustar e aprender na prática como equilibrar essa equação.
O mais curioso é que, à medida que a IA se populariza, as pessoas estão ficando cada vez mais sensíveis a identificar seus traços. Reconhecemos padrões, repetições, a falta de nuances tipicamente humanas. No fim das contas, a IA não vai “roubar” seu trabalho, mas os humanos que sabem usá-la, sim.
E é justamente aí que entra o verdadeiro diferencial: o fator humano. Pensamento crítico, criatividade, imaginação. São esses atributos que nos tornam indispensáveis, mesmo em um mundo onde a inteligência artificial está por toda parte. No fim das contas, sem querer, eu acabei na sessão certa. Porque a grande questão não é apenas sobre inteligência artificial, mas sobre como seguimos sendo humanos em meio a tudo isso.
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