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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Kesha e a luta contra a solidão em um mundo digital

Especialistas e a cantora Kesha dividiram suas percepções sobre isolamento, desconexão e vulnerabilidade dentro e fora das redes sociais


11 de março de 2025 - 20h49

Em 2017, um estudo realizado com duas mil pessoas por professores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, apontou que acessar redes sociais por mais de duas horas por dia dobraria a probabilidade de alguém se sentir isolado. Nos oito anos desde a publicação do estudo, a tecnologia avançou e, com ela, a sensação de que apesar de conectados estamos cada vez mais distantes.

Kesha no SXSW

Ana Kirova, Minaa B, Alok Vaid-Menon e Kesha no SXSW 2025 (Crédito: Taís Farias)

A educadora e terapeuta Minaa B explica que os humanos são biologicamente programados para se conectarem. Quando essa conexão não existe, entra em cena a solidão e isso impacta a saúde mental. A maior fonte de solidão atualmente, no entanto, não seria a falta de contato com outras pessoas. Mas a falta de profundidade nos relacionamentos modernos. Isso porque, em uma cultura marcada pela aceleração, o tempo e a energia necessários para a construção de um relacionamento se tornam excessivos.

Nessa dinâmica, o indivíduo espera que outro se entregue sem que ele mesmo abra as suas vulnerabilidades. “Você não pode se esconder e esperar ser visto”, descreve Minaa. Artista e ativista Alok Vaid-Menon, descreve a solidão como uma condição prévia para o amor.

“Sem a solidão, não saberíamos que precisamos uns dos outros. E acho que o que acontece é que muitas vezes patologizamos a solidão, em vez de perceber que o problema não é a solidão em si. O problema é que não temos rituais nem sabemos o que fazer quando finalmente percebemos que estamos sós. Acho que, na minha própria vida, foram as situações em que me senti mais solitário que mais me impulsionaram a buscar outra pessoa. E acredito que nossa forma mais verdadeira é quando estamos conectados uns aos outros”, descreve.

Para criar uma conexão genuína, Vaid-Menon defende que mais do que ver as pessoas é preciso testemunhá-las: “o que podemos fazer para criar espaços onde as pessoas sejam mais vulneráveis é criar espaços onde elas possam, de fato, ser testemunhadas. Testemunhar alguém é diferente de apenas ver alguém. Ver alguém significa encaixá-lo na sua visão de mundo pré-existente, objetificá-lo, transformá-lo em um instrumento para suas próprias fantasias e projeções. Testemunhar alguém é se render ao fato de que talvez você nunca compreenda totalmente o que essa pessoa está passando, mas amá-la mesmo assim”.

Esse olhar para a vulnerabilidade pode ser positivo não só para as relações interpessoais, como para a produção artística e criativa. Em 2023, a cantora Kesha lançou seu quinto álbum, Gag Order, que explora momentos de fragilidade da vida da cantora. No mesmo mês, ela encerrou uma batalha judicial de quase dez anos com o produto Dr. Luke, com acusações de abuso físico, sexual, verbal e emocional.

“Eu descobri que, quando escrevo minhas músicas, as que são mais autênticas, as letras que eu mais tenho medo de dizer em voz alta são as que mais conectam com as pessoas porque estou ousando dizer algo que elas, geralmente, guardam em suas mentes. No meu último álbum, Gag Order, tem uma música em que francamente eu estava em um lugar sombrio falando que não queria mais estar aqui. E essa é uma das músicas preferidas de muitos dos meus fãs no álbum, porque era a reflexão sobre algo que eles podem ter pensado. Mas eu disse. Esse é um ciclo bonito quando você é um criativo. Quanto mais autêntico e vulnerável você é, melhor o resultado”, apontou a cantora.

Mas, quando o espaço em questão são as redes sociais, não basta apenas exercitar a vulnerabilidade. Segundo Minaa B, a tecnologia desconstruiu a ideia do que são limites. “Às vezes, é muito importante se perguntar: você sente que os espaços aos quais está conectado online são lugares onde realmente se sente pertencente? E, se não for, o que você pode utilizar? Quais funções do seu telefone e dos seus dispositivos você pode usar para realmente se proteger e preservar sua paz dessas influências?”, defende.

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