Laurie Santos: felicidade impulsiona produtividade e lucro
Professora de psicologia na Yale University e apresentadora do podcast The Happines Lab compartilhou dicas para fomentar a felicidade no ambiente de trabalho
Professora de psicologia na Yale University e apresentadora do podcast The Happines Lab compartilhou dicas para fomentar a felicidade no ambiente de trabalho
Thaís Monteiro
9 de março de 2024 - 15h36
As discussões sobre burnout, ansiedade e depressão relacionadas ou não ao trabalho aumentam, assim como conversas sobre saúde mental e futuro do trabalho. Em seu painel no SXSW, a professora de psicologia da Yale University, Laurie Santos sublinhou que a felicidade é essencial para o bem-estar pessoal, mas também estratégica para empresas, pois aumenta a produtividade dos colaboradores e o lucro das companhias.
Laurie ficou conhecida quando fundou, em Yale, a aula The Science of Happiness, que se tornou a mais frequentada na universidade. Sua motivação para a criação desse curso e, posteriormente, um podcast sobre felicidade, foi assistir a alunos de graduação em crescente sofrimento mental e acessar estudos que indicavam um paralelo entre a felicidade desses estudantes e seu sucesso profissional.
No SXSW, seu painel se dedicou a tratar da felicidade, que está oculta na discussão sobre futuro do trabalho pelo hype da inteligência artificial e da nova onda de demissões que assola os Estados Unidos.
Conforme a acadêmica, desde 1990 há estudos que mostram a correlação entre felicidade e produtividade. No entanto, a sociedade atual se mantém priorizando currículos antes da felicidade do trabalhador. “As pessoas não são felizes porque ganham muito dinheiro. Elas são felizes e, portanto, ganham mais dinheiro”, afirmou.
Laurie trouxe uma série de estudos que comprovam que pessoas em estados emocionais mais positivos, ou com um humor melhor, fazem melhores diagnósticos, tomam decisões mais assertivas, traz soluções inovadoras e são mais criativas. “Mas não é preciso estudo. Nós conseguimos observar isso em nós mesmos. Quando estamos estressados, nossa mente atrofia”, disse.
Mais recentemente, novos levantamentos passaram a correlacionar a felicidade ao lucro das empresas, como o index criado pela Universidade de Oxford a partir de conteúdos sobre felicidade publicados no portal Indeed. As empresas mais lucrativas são as que contam com colaboradores felizes. “Esse pode ser o fator decisivo para uma startup ter sucesso”, indicou.
“Nos próximos cinco a dez anosas empresas vão começar a pensar mais no bem-estar dos colaboradores. Em parte porque é moral e ético, mas vai ser um movimento puramente capitalista”, afirmou.
Com base nesses indícios, a painelista compartilhou cinco dicas para tornar o ambiente de trabalho mais saudável.
À princípio, é necessário acessar e interpretar as emoções negativas que surgem no ambiente de trabalho ao invés de suprimi-las. “Se você vai usar a energia para segurar suas emoções, a sua produção vai cair’, pontuou. Para isso, ela recomendou o método RAIN, criado pela psicóloga Tara Branch. Ele consiste em reconhecer a emoção, identificá-la, descrevê-la, as necessidades que advém delas e acolher-se, ou seja, fazer algo que possa tornar a situação melhor a si próprio. RAIN é a sigla para reconhecer, permitir, investigar e cuidar em inglês.
A segunda é abrir espaço para tempo de qualidade. Segundo Laurie, a cultura de trabalho atual tem deixado o mundo “faminto de tempo”, pois ocupar o tempo se tornou sinônimo de ser produtivo. Porém, a produtividade não tem uma métrica única e, conforme Cal Newport, tornar-se visivelmente ocupado para si mesmo e outros comunica produtividade, mas não necessariamente trás produtividade.
Ela defende a criação de “time affluence”, ou seja, abrir espaços na agenda, diminuir a carga de trabalho, evitar notificações que ocupam a tela e a mante para poder exercer a produtividade nos moldes individuais. Outra forma é buscar pequenas economias de tempo nas atividades cotidianas, como pedir comida delivery ao invés de tomar o tempo cozinhando, ela exemplificou.
Em terceiro lugar, ela sublinhou a importância da autocompaixão e criticou a hustle culture, que pode ser traduzida como “cultura do esforço”, com seus lemas que impõe sacrifício e, na verdade, criam um ciclo de auto criticismo. Assim, ela concluiu que é necessário novas formas de impulsionar motivação através da autocompaixão.
Para ela, a autocompaixão envolve reconhecer as emoções, naturalizar como algo próprio do ser humano e ser gentil consigo próprio.
A quarta dica envolve tornar o trabalho mais alinhado com valores pessoais. Conforme a acadêmica, um dos motivadores do burnout é o desencontro entre os valores pessoais de cada indivíduo e o da empresa para o qual ele trabalha. Assim, ela recomenda que os profissionais busquem seus traços de caráter e valores e tentem incluir no dia a dia.
Como exemplo ela usou uma pesquisa que revelou que profissionais de limpeza em hospitais veem valor em seu trabalho não pela natureza dele, mas pelo que o profissional pode agregar de valor, seja divertindo pacientes ou outras ações pequenas e diárias próprias do profissional.
Por fim, Laurie enfatizou a importância do pertencimento no ambiente de trabalho, que está ligado, sobretudo, pelas relações feitas nele, como amizades.
“Conexão social é uma das coisas mais importantes pro nosso bem-estar, então é obvio que isso também seria realidade quando tratamos de trabalho. Mas há a ideia equivocada que amigos só importam fora do trabalho”, colocou.
Para promover amizade no ambiente de trabalho, é necessário fomentar interações positivas, consistência de contato, o que é um desafio e exige um esforço maior em tempos de trabalho remoto, e dar espaço para a vulnerabilidade aparecer.
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