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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Manada – os elefantes na sala

Quem viveu muitas das experiências características do SXSW por mais de 15 anos como eu vai encontrar um animal diferente no próximo ano


8 de março de 2025 - 12h40

Hugh Forrest, o gigante presidente da “Disney dos Intelectuais e Criativos” do mundo todo, o SXSW, subiu ao palco hoje do icônico e reverenciado Ballroom D do Centro de Convenções de Austin e fez, com a elegância de sempre, o que poucos conseguem: endereçou os dois elefantes na sala.

O primeiro, aquele que vai mudar o SXSW para sempre. Sabe aquela correria para pular de uma sala para outra? As gigantes filas que viram andares? Mas que viram a desculpa para uma das principais atividades do festival… networking com estranhos do mundo todo? As pontes que levam para os hotéis? Os patinetes elétricos e bikes estacionados por todos os cantos… que não podem rodar no centro… e sempre nos deixam na mão? Aquela fugidinha para “hop in and out” de salas para saciar a FOMO que nos acompanha desde o primeiro minuto em Austin?

Os sandubas do térreo quando não da tempo de almoçar (e olha que tem break)! Cruzar com todo mundo nas escadas rolantes que parecem um catwalk. As “casas” e ativações a meia quadra da última palestra do dia. Errar de Marriott e ainda dar tempo de pegar o começo da palestra. Aquela bagunça deliciosa de carpetes kitsch com cara de anos 70, que é a cara de Austin e do SXSW…
Pois é … acabou!

Quem viveu essas experiências por mais de 15 anos como eu vai encontrar um animal diferente no próximo ano. O Centro de Convenções será demolido!

Me deu aquela sensação de ver uma foto antiga de Nova York com as Torres Gêmeas ao fundo… nunca mais…

O muito amado e visceralmente odiado Centro de Convenções deixa o SXSW homeless pelos próximos três anos ou mais.

O festival, que já nasceu revolucionário, saindo de um folk festival para o melhor lugar do planeta para estar em março, agora, segundo Hugh, terá a chance de se reinventar.

Eu, como organizadora de eventos internacionais, congelei a espinha com essa notícia. São 300 mil pessoas que circulam oficialmente pelos três festivais que convergem… e que estão também sem casa. E eu antecipando luto e uma melancolia.

Mas… SXSW é o berço de ideias inovadoras, e vamos apostar no que surge desse BO.

“O evento nunca foi sobre um prédio, uma cidade ou mesmo sobre real state. Foi sempre sobre pessoas, ideias, conexões e oportunidades.” Disse Hugh. E segue. E agora? Vamos ver uma nova era se abrir diante dos nossos olhos. Vai ser diferente, mas tenho certeza: será brilhante, descentralizado, inovador e cool.

Com o carinho de quem orquestra o conteúdo da festa, Hugh pediu ajuda à comunidade para criar opções e soluções para a nova era que começa em 2026.

Já o segundo elefante? Esse bem mais pesado. O clima político global, especialmente nos Estados Unidos. Nenhum nome foi falado, nenhum dedo apontado.

Mas sabe aquela cena icônica de Fernanda Torres, interpretando Eunice no filme que recebeu o Oscar, passando pelos filhos sabendo que o marido morreu torturado? Sem deixar que os filhos percebam a noticia que ela acaba de receber? A cena que rendeu o Oscar? Essa era a expressão do presidente do SXSW ao abordar o tema.

Mais uma vez, ele falou da importância da diversidade de culturas, que traz flexibilidade de pensamento. Base do Festival.

Ele diz… Criatividade foi o que nos trouxe até aqui. Criatividade é o que nos fará sobreviver e prosperar. Criatividade é o que nos ensina que encontrar pontos em comum é mais urgente do que nunca.

Em tempos onde o mundo parece dividido, SXSW promete continuar a ser epicentro da inovação, agora com cases mais sérios que anos anteriores.

Acho que todos que assistiram a abertura do Festival entenderam a angústia dos dois elefantes que encerram esta “geração” do Festival .

Ano que vem, um novo SXSW. Mas, segundo ele (e eu), Austin em março será sempre o melhor lugar para se estar.

Nossa… FOMO com melancolia… vish.

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