Like, share… e solidão? O desafio das marcas na era da conexão digital
O que antes parecia um efeito colateral discreto da digitalização agora é visto como um problema estrutural
O que antes parecia um efeito colateral discreto da digitalização agora é visto como um problema estrutural
20 de março de 2025 - 13h39
Nos últimos anos, o South by Southwest (SXSW) tem sido um termômetro do que está por vir no mundo da inovação. Mas, desta vez, algo vem chamando atenção de um jeito diferente. Embora a Inteligência Artificial continue dominando parte das discussões, um dos temas que deu o tom ao evento é a epidemia da solidão e a necessidade urgente de reconstruir conexões humanas. Um reflexo direto do consumo exacerbado das redes sociais e do avanço da IA, que prometem conectar, mas, muitas vezes, isolam.
A especialista Kasley Killam abriu o evento com um alerta que ressoou ao longo de toda a programação: “A solidão já está afetando nossa saúde mental, nosso trabalho e até a forma como lidamos com a tecnologia.” E o professor da NYU, Scott Galloway, reforçou essa preocupação com uma provocação forte: “O maior impacto da IA não será a substituição de empregos, mas a solidão”.
O que antes parecia um efeito colateral discreto da digitalização agora é visto como um problema estrutural. A recessão das amizades, o uso excessivo das redes sociais e a cultura da hiperprodutividade não são apenas tendências, mas também sintomas de um problema mais profundo. E o impacto vai além da vida social. Estudos mostram que pessoas com menos conexões reais têm um risco significativamente maior de mortalidade, independentemente da situação financeira ou da saúde física. Por outro lado, aqueles que se sentem emocionalmente apoiados desenvolvem maior resistência e bem-estar, reforçando o posicionamento de Kasley Killam: “Saúde não é só física ou mental, mas também social”.
Diante desse cenário, como avançar para a mudança? A solução não passa apenas por reduzir o tempo de tela, mas por criar experiências que incentivem encontros genuínos. A transformação começa em pequenas mudanças de mentalidade, como trocar o famoso “vamos marcar?” por “vamos realmente nos encontrar!”.
Para construir conexões de forma intencional, hábitos simples podem fazer a diferença. Uma ideia compartilhada no evento foi a Love List – uma lista das pessoas com quem se deseja manter contato, com lembretes para fortalecer esses laços. Outra abordagem é a regra 5/3/1: fazer contato diário com cinco pessoas, conectar-se de maneira mais profunda com três delas e dedicar pelo menos uma hora do dia a interações significativas. Além disso, substituir a distração pela conexão real pode transformar a forma como nos relacionamos. Por exemplo, antes de abrir um aplicativo de rede social, por que não enviar uma mensagem para um amigo ou, melhor ainda, ligar para alguém?
No ambiente corporativo, criar espaços e oportunidades para a troca genuína entre equipes é essencial para fortalecer as conexões. No digital, isso significa desenvolver experiências que estimulem o diálogo e a empatia, em vez de apenas incentivar o consumo passivo de conteúdo. Além disso, a tecnologia deve ser vista como uma facilitadora das conexões, não apenas como uma ferramenta de produtividade. Pequenos gestos também fazem a diferença, como silenciar notificações durante encontros presenciais, perguntar com real interesse como alguém está e, acima de tudo, ouvir com atenção.
É claro que, no ritmo acelerado do dia a dia, encontrar tempo para qualquer uma dessas ações não é simples. Mas mudanças de hábito exigem intencionalidade e começam no individual. Criar conexões genuínas não acontece por acaso, exige escolhas conscientes. Pequenos ajustes na rotina geram um efeito cumulativo que transforma não apenas as relações, mas também a forma como nos posicionamos no mundo. E essa não é apenas uma questão pessoal, mas um reflexo direto de como a tecnologia, os negócios e a sociedade devem evoluir.
Fica como desafio para as marcas criar conexões verdadeiras. Isso envolve entender o público e suas necessidades, utilizando a empatia e a criatividade para se conectar de forma autêntica. Esses são elementos essenciais no marketing que não podem ser substituídos pela inteligência artificial. Ela é fundamental para criar conexões verdadeiras e contar histórias autênticas.
O SXSW 2025 vem deixando uma mensagem clara: o futuro da tecnologia não está apenas na inovação, mas na sua capacidade de fomentar as conexões humanas. O verdadeiro desafio e a grande oportunidade estão em criar um futuro em que a tecnologia aproxime, em vez de isolar.
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