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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

“Música deveria ser uma força de união”, diz John Fogerty

Em bate-papo descontraído com o guitarrista Tom Morello, o membro fundador do Creedence Clearwater Revival falou sobre como a música deve unir as pessoas, especialmente em tempos polarizados


12 de março de 2025 - 21h53

Ao lado de um dos maiores guitarristas do mundo, Tom Morello, o lendário cantor, compositor e membro fundador da banda Creedence Clearwater Revival, John Fogerty, arrastou uma multidão ao Ballroom D, na tarde quente desta quarta-feira, 12.

John Fogerty

Tom Morello e John Fogerty no palco do SXSW 2025 (Crédito: Reprodução)

E isso tem um motivo. Ao longo de sua extensa carreira, o cantor e compositor de sucessos, como Have You Ever Seen The Rain e Fortunate Son, vendeu mais de 100 milhões de discos, ganhou um Grammy e entrou para Hall da Fama do Rock & Roll e para o Hall da Fama dos Compositores.

Parte da plateia também estava animada em ver o astro mais de perto após assistir ao seu show na noite anterior, que reviveu as raízes musicais do South by Southwest. A apresentação, que aconteceu no popular Stubb’s, também contou com a participação de Tom Morello na canção Travelin’ Band.

O show foi ainda mais marcante para o próprio Fogerty, prestes a completar 80 anos, uma vez que há dois anos ele venceu uma batalha legal de quase meia década para recuperar a propriedade do catálogo de músicas do Creedence Clearwater Revival, ao comprar a Concord Records, que adquiriu a Fantasy Records, antiga gravadora da banca. “Acabei de recuperar minhas músicas e vou tocar cada uma delas”, manifestou com empolgação no início da apresentação.

Essa batalha judicial pelo direito às canções foi o assunto de abertura de sua conversa com Morello. Sobre o acordo com a gravadora há fechado há mais de 60 anos, Fogerty ressaltou que a banda não fazia ideia do que estava assinando. “Nós apenas assinamos o que foi colocado sob nossos narizes. Nós desistimos, é claro, da ideia de fazer discos, mas também desistimos da publicação de composição”, pontuou.

Com a separação da banda, em 1972, o cantor pensou que tudo isso tinha acabado, que o contrato tinha acabado. “Descobri que não” comentou. “Eles me mantiveram sob o contrato, mas deixaram os outros membros do Creedence, ex-Creedence, irem”, complementou.

Fogerty contou que, então, levou seu contrato para um advogado e acabou descobrindo que devia cerca de 180 músicas para a gravadora. “Olhei para aquilo e decidi que provavelmente levaria mais de 20 anos se eu fizesse um álbum todo ano”, frisou, ressaltando que podia escrever novas músicas, mas que deveria submetê-las a Saul Zaentz, dono da Fantasy Records.

Por conta de tudo isso, o cantor e compositor passou anos sem gravar e sem performar músicas da banda. Até que em 2023, finalmente recuperou os direitos sobre suas músicas com a ajuda de sua esposa Julie Lebiedzinski, que, segundo Fogerty, é melhor nos negócios do que ele. “O fato de as músicas terem voltado para o autor é algo muito importante para mim. E parece que algo finalmente se encaixou no lugar, como deveria ter sido desde o início”.

A importância de sua família em sua vida foi outro tópico do papo. Atualmente, seus filhos fazem parte de sua banda. Fogerty, inclusive, revelou que retomou as turnês, insistiu para que Julie o acompanhasse, que pediu para seus filhos irem junto. Com isso, foram todos. “É assim que a carreira do papai continuou”, brincou.

Dedicação contínua e processo criativo

A dedicação de Fogerty com a música foi um ponto levantado por Morello na conversa. “John, sempre admirei sua atenção ao ofício da música. Seu conhecimento sobre equipamentos, seu regime de prática contínua”, elogiou o guitarrista.

Em resposta, o cantor reconheceu que realmente se dedicava muito à melhoria de sua, chegando a praticar guitarra oito horas por dia. Essa prática foi essencial no processo criativo de Fogerty. O cantor e compositor revelou que a maioria de suas músicas começavam pelas notas do instrumento, que depois, ganhavam letras.

Ainda dentro do tema de processo criativo, Fogerty também contou como criou músicas politicamente carregadas, como Fortunate Son. Essa música especificamente surgiu em 20 minutos, após um momento de raiva e frustração de Fogerty ao observar como filhos de pessoas privilegiadas conseguiam se safar do serviço militar dos Estados Unidos, do que qual ele fazia parte, e como conseguiam facilmente postos na política norte-americana.

A música como a força que conecta

O cantor e compositor ressaltou que a música continuará servindo como uma força de união entre as pessoas, especialmente em tempos polarizados, como os de hoje. “Música deveria ser uma força de união. Uma coisa que junta as pessoas e traz entendimento”, disse. “Quer dizer, para mim, essa seria provavelmente a parte mais importante e o uso mais importante em um momento em que as coisas estão tão, digamos, polarizadas. Seria bom ajudar as pessoas a se unirem”.

Apesar de ser uma banda final dos anos 1960, três músicas do Creedence Clearwater Revival, atingiram mais de 1 bilhão de streams nas plataformas digitais, o que para Fogerty é “mágico e notável”. “Se sua música é transmitida, especialmente em grande escala, significa que os jovens a estão ouvindo, porque essa é a mídia deles: o streaming”, comentou. Os jovens, de fato, estão ouvindo a banda e Morello pôde comprovar isso com seus próprios filhos. “Meus adolescentes conhecem você por duas músicas virais do TikTok”, brincou.

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