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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

O desafio criativo do nosso tempo

A liderança orientada para o futuro como um resgate do essencial


18 de março de 2024 - 17h02

“Nós também somos feitos de água”. Com essa frase, a poeta laureada dos Estados Unidos, Ada Limón, encontrou a chave para resolver o desafio criativo de redigir o poema que seria enviado na missão da NASA intitulada Europa Clipper. O objetivo da missão: investigar a possibilidade de que uma das luas de Júpiter, Europa, fosse favorável à vida. Presenciei essa história no keynote de abertura do SXSW 2024, e algo dela reverberou em mim nos dias que se seguiram, durante as palestras, painéis e conteúdos imersivos sobre Inteligência Artificial, Realidade Virtual e Realidade Aumentada, nas discussões sobre saúde mental, nas inúmeras tendências e ideias que agora irão circular por muitas semanas em corredores de empresas e rodas de partilha.

Como profissionais de Marketing e Inovação, uma boa parte do nosso trabalho é dedicada a resolver desafios criativos, e talvez isso me aproxime da fala de Ada. Ela, diante de um foguete e uma missão espacial. Eu, diante de missões que nem sempre são “ciência de foguete” (do inglês, not a rocket science). Nosso ponto em comum está em achar o sentido em meio à informação, e quem sabe, transformar esse sentido em uma capacidade de liderança orientada ao futuro.

Ao apresentar seu relatório de tendências, Amy Webb, CEO do Future Today Institute, discutiu os potenciais impactos do que ela chamou de “superciclo tecnológico”, resultante da conjunção do avanço acelerado da Inteligência Artificial, da Internet das Coisas e da Biotecnologia, e que pode trazer impactos consideráveis na sociedade. Os cenários de futuro podem envolver fantasias não tão fantásticas de computadores biológicos, pessoas conectadas a sensores por todos os lados, tendo seus desejos mapeados, antecipados e atendidos de maneira preditiva, o que também cria questões éticas importantes sobre controle, privacidade e cibersegurança. Peter Deng, Head da ChatGPT na Open AI, abordou a importância de nos mantermos em um estado de curiosidade e abertura ao passo que as mudanças e impactos ainda não podem ser totalmente previstos, enquanto Roy Kurzweil aposta na chegada da Singularidade (a capacidade da máquina de “pensar” por si própria) por volta de 2045. Teremos aí uns 20 anos para nos mantermos curiosos e quem sabe, achar sentidos. Depois disso, o mundo possivelmente não vai mais ser como a nossa geração o conheceu. Não é à toa que Amy Webb rebatizou todas as gerações que estão vivendo agora no planeta de GenT. Esqueça os conflitos entre GenX e GenZ no ambiente trabalho… esqueça a forma como a Gen Alpha está crescendo alimentada por telas… estamos todos em um mesmo barco, o da transição para uma era na qual o comportamento humano pode ser muito mais bem compreendido, as máquinas “trabalham enquanto eles dormem”, o clima na Terra pode entrar em colapso, e talvez possam existir algumas colônias interplanetárias por aí.

O que isso significa, amigos, é que não existe futuro pronto. Não há respostas simples ou perguntas fáceis. Não há a quem delegar. O futuro está aí para ser criado, e quem estará responsável por esse desafio criativo seremos nós.

Esse momento de mundo que estamos vivendo pode chegar a nos dar arrepios. A linguagem dos arrepios nem sempre é explorada a fundo em ambientes de negócios, e penso que é importante contemplarmos o que eles querem nos dizer. Estamos curiosos? Estamos FUD… (com sentimento de medo, incerteza e dúvida, do inglês fear, uncertainty and doubt)? Estamos apenas percebendo a possibilidade e pensando “e agora, o que vou fazer com isso”? Veja aí com seu próprio arrepio, o que é que ele quer te dizer.

Os meus, eu procuro escutar com frequência, e eles estão me dizendo o seguinte: a mudança que está acontecendo ao nosso redor é profunda, transversal, e demandará da liderança a capacidade de sustentar perguntas difíceis, temas paradoxais, e trabalhar nos fundamentos.

Volto para Ada Limón. De que forma nós, como mentes criativas que somos, poderemos responder ao desafio de conceber nosso próprio futuro? Fico reverberando com a ideia, simples e verdadeira, de que parte da resposta está no essencial: do que somos feitos enquanto seres humanos, e o que levaremos adiante. É, Ada. Nós também somos feitos de água.

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