O dilema de Selton Mello e os brasileiros tentando ser creators em Austin

7 de março de 2025 - 16h16

No dia da entrega do Oscar, Selton Mello postou um conteúdo no Instagram perguntando aos seguidores se eles preferiam que ele fosse postando tudo no momento em que acontecia ou se preferiam um compilado depois, com os melhores momentos. Os seguidores, curiosos e ansiosos para acompanhar TUDO o que acontecia, foram praticamente unânimes: poste tudo na hora, enquanto acontece.

Porém… em poucos minutos de tentativa de viver o momento e compartilhá-lo ao mesmo tempo, ele voltou aos stories e assumiu que seria impossível cumprir essa missão. Avisou, então, que iria apenas viver o momento, pois era intenso demais para conseguir postar e experienciar ao mesmo tempo.

Pois essa é exatamente a sensação de quem está por aqui com a missão de “cobrir” o SXSW 2025. E, sim, pelo que tenho acompanhado nos grupos de brasileiros em Austin, muita gente veio para produzir conteúdo. Para seus próprios canais, para os canais das empresas (o meu caso), para veículos de mídia, para parceiros, para o próprio ego ou até para o desafio pessoal de se tornar creator — com a desculpa de que tudo é trabalho.

Só que, na prática, é impossível fazer networking, aproveitar as experiências, ativações de marca, festas, encontros, dormir minimamente e ainda absorver o conteúdo com profundidade suficiente para transformá-lo em conhecimento útil para o futuro enquanto se produz conteúdo em tempo real. E aí, vivendo essa loucura, todo mundo descobre que ser creator dá um trabalho danado. Editar conteúdo seguindo boas práticas mínimas — incluindo legendas nos vídeos, um bom som, uma boa sequência lógica e coerência cronológica — exige habilidades que o cidadão comum nunca precisou treinar.

Assim como Selton, abortamos a missão impossível de viver e consumir o conteúdo ao mesmo tempo e começamos a pensar em como capitalizar nossa presença em doses homeopáticas de conhecimento e blogueiragem.

O paradoxo de tudo isso é que a pressão por ser produtivo e compartilhar conhecimento, em nome de ganhar visibilidade, autoridade e, quem sabe, alguns jobs a partir disso, funciona como uma medida de “payback” pelo investimento feito para estar aqui. Porque, na verdade, se for só para consumir conteúdo, você nem precisa sair do Brasil.

É claro que o networking e as experiências que acontecem além dos palcos só podem ser vividas estando presencialmente aqui. Mas, se sua intenção for apenas CONSUMIR conteúdo, a verdade é que pode economizar bons dólares assistindo a praticamente tudo do seu sofá, conectando sua smart TV no canal do YouTube do Festival. A transmissão será simultânea, com tradução para Português e Espanhol, cortesia do Banco Itaú.

Os festivais como o SXSW se tornaram grandes laboratórios para executivos que desejam ser mais criadores, mas também são um choque de realidade quando tentamos, de fato, fazer isso. Escrevo este artigo enquanto acabo de me dar conta de que perdi a carona para o evento.

Ou você é blogueiro, ou divide o Uber… e assim seguimos. Até o próximo post (se eu conseguir).