O estranho é melhor que o novo – e o Brasil é a maior prova disso
O que realmente se destaca é o estranho, o inesperado, o que desafia as normas estabelecidas
O que realmente se destaca é o estranho, o inesperado, o que desafia as normas estabelecidas
17 de março de 2025 - 19h11
Saí do meu primeiro SXSW com apenas uma certeza: o mundo está cada vez mais acelerado. Como estrategista, às vezes é difícil acompanhar tudo: as inovações tecnológicas, carros voadores, a computação quântica… Tudo isso em meio a guerras, memes, taxações absurdas, discursos de ódio e momentos históricos que me fazem pensar – como é possível que isso tudo está acontecendo de verdade e não é apenas fruto de uma obra de ficção científica?
Meu grande desafio diário é pensar em estratégias de marca que ressoem nesse caos. Tentar vender algo ou captar atenção no meio de um mar de conteúdos imprevisíveis parece, muitas vezes, uma missão quase ridícula.
Foi com essa inquietação que terminei minha jornada no SXSW. Em uma das mesas redondas que participei, Dan Murphy, SVP de marketing da marca de água mais bizarra e incrível dos Estados Unidos, a Liquid Death, disse que: “O estranho é melhor que o novo.” E, de repente, tudo fez sentido.
Durante o painel, Dan disse algo que bateu forte: o mundo já viu tudo. E o novo, por si só, não impressiona mais ninguém. O que realmente se destaca é o estranho, o inesperado, o que desafia as normas estabelecidas.
E foi nesse momento que, apesar de muito angustiada, percebi que o Brasil é o lugar perfeito para essa lógica. O que acontece é que, nesse momento bizarro que vivemos no mundo, o risco de ser chato é maior do que o de ser ousado.
O maior desafio hoje, para qualquer marca, não é só vender – é ser percebida. E vivo em busca de estratégias que sejam capazes de criar relevância cultural para que as marcas se destaquem nesse caos infinito de conteúdos – não os que as pessoas consomem – mas que estão consumindo as pessoas.
Dan trouxe uma verdade potente: no mundo de hoje, ser irrelevante é o pior destino possível. Vemos marcas gastando milhões em comerciais que quase ninguém mais assiste, insistindo no mesmo modelo de sempre. E aí está o verdadeiro risco: não em tomar decisões ousadas, mas em fazer mais do mesmo e ser ignorado. E se tem um país que não aceita ser ignorado, esse país é o Brasil. O Brasil já entendeu o jogo – só falta acreditar nele.
A gente está vivendo a fusão total entre o digital e o real, e o mundo está ficando cada vez mais bizarro, ambíguo e surreal. A verdade é que as marcas que souberem jogar com o inusitado vão levar vantagem. E, se tem um povo que já nasceu sabendo brincar com isso, esse povo somos nós. O Brasil não precisa forçar a barra para criar narrativas culturais poderosas – a nossa realidade já é, por natureza, um roteiro imprevisível digno de viralização.
O brasileiro sabe rir do absurdo, transformar qualquer coisa em meme, criar significados para símbolos antigos. O brasileiro cria cultura o tempo todo. Aqui, uma eleição pode virar reality show, uma nota de repúdio pode ser mais esperada que um trailer da Marvel e uma trend do TikTok pode nascer de um vendedor de mate na praia.
Isso não é só entretenimento – isso é comunicação em seu estado mais puro. E é por isso que existe na brasilidade um território muito potente na criação publicitária e cultural. Porque aqui, o inusitado não é estratégia – é modo de existência.
Por isso, entendo que temos que sair do vício de nos perguntar sempre “como criar algo disruptivo?”. Às vezes o melhor caminho é tentar entender “como podemos assumir e amplificar o que já somos?”
Depois do SXSW, me sinto mais estimulada e inquieta (porque esse é o estado de espírito permanente de uma estrategista). E, ao mesmo tempo, muito inspirada por poder fazer publicidade sendo brasileira.
Porque se o estranho é melhor que o novo, então o Brasil tem tudo para vencer esse jogo!
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