O festival dos algoritmos humanos
O SXSW segue sendo um festival de algoritmos humanos. E, por enquanto, não há IA que consiga replicar isso
O SXSW segue sendo um festival de algoritmos humanos. E, por enquanto, não há IA que consiga replicar isso
27 de fevereiro de 2025 - 16h48
A inteligência artificial já escreve roteiros, compõe músicas, gera imagens e até cria campanhas publicitárias. Mas tem uma habilidade que ainda não domina: selecionar tópicos de debates que realmente importam. E é por isso que, em 2025, a curadoria do SXSW segue sendo humana. Não por apego ao passado, mas porque relevância não se mede apenas por dados.
Se a curadoria do SXSW fosse feita por IA, ela provavelmente montaria um line-up baseado nos temas mais comentados do momento. E aí estaria o problema: o SXSW não é um reflexo do que já está no radar, mas um espaço para trazer à tona o que ainda não virou mainstream. Os algoritmos são excelentes para detectar padrões, automatizar processos, mas incapazes de perceber o momento certo para uma conversa emergir. Em outras palavras, eles sabem o que está acontecendo, mas não entendem o impacto social disso.
É justamente esse fator humano – a intuição, o timing, a coragem de sair da lógica dos números – que faz do SXSW um espaço de descoberta. Curadoria não é um jogo de previsibilidade, e sim um ato de provocação. O festival se alimenta de conexões inesperadas. Um painel sobre neurociência pode influenciar um debate sobre branding. Uma discussão sobre inteligência emocional pode mudar a forma como pensamos UX. Os melhores insights surgem onde menos esperamos – e IA não improvisa.
A cada ano, ouvimos que o SXSW “já não é mais o mesmo”. E talvez não seja mesmo – porque o mundo também não é. Mas, se tem algo que se mantém é o fato de que o festival continua sendo uma plataforma onde conexões inesperadas acontecem. Se a curadoria fosse feita apenas por algoritmos, o SXSW seria previsível. Mas, felizmente, os algoritmos humanos continuam no comando.
Se otimizássemos a curadoria do SXSW como otimizamos uma campanha de mídia, provavelmente teríamos um festival dominado por temas já testados e aprovados pelo público. O que significa que a disrupção estaria fora da equação. Inteligência artificial é eficiente, mas o que faz do SXSW um evento tão relevante não é eficiência, e sim impacto cultural.
Existe uma grande diferença entre prever tendências e criar movimentos: Algoritmos são treinados para o primeiro. O SXSW é mestre no segundo. Curadoria não é um processo mecânico, e muito menos imparcial. Ela reflete visões de mundo, apostas ousadas e até mesmo uma certa dose de intuição. No fundo, é um trabalho de mediação: entre o que o público quer e o que ele ainda não sabe que precisa ouvir, porque curadoria é sobre leitura de contexto, sobre entender o que está no ar, mas ainda não foi verbalizado. Sobre conectar pessoas antes mesmo que elas percebam que têm algo em comum.
O SXSW segue sendo um festival de algoritmos humanos. E, por enquanto, não há IA que consiga replicar isso.
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