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SXSW

O “foco” de Amy Webb no South by Southwest

Arrastando uma multidão ao Austin Convention Center, a futurista defendeu que, especialmente pelos riscos embutidos em algumas delas, tendências não estão aí para serem assistidas, mas para que as pessoas interajam com elas


12 de março de 2023 - 1h27

Amy Webb: Tendências devem ser vistas em convergência (Crédito: Roseani Rocha)

“Foco” é uma palavra que marcou de duas formas a apresentação de Amy Webb, CEO do Future Today Institute, este ano, no segundo dia do South by Southwest.

Primeira keynote speaker, sua palestra estava marcada para 10 h da manhã. Mas quando subiu ao palco ela agradeceu todos os que lotavam o auditório do Austin Convention Center, ainda mais por saber que algumas pessoas haviam chegado ali por volta das… 7 h. E ainda ressaltou que “metade desse público é de brasileiros”.

Não era exagero. As apresentações de Amy Web são sempre foco de atenção e sensação do SXSW. Este ano, a fila bem cedo saía do espaço interno do Convention e descia pelos andares do prédio. Contam para isso o fato de que o seu relatório de tendências é uma dos mais profundos e embasados em pesquisas e a empatia com que ela transmite boas e más notícias sobre o futuro.

“Foco” foi também o tema escolhido este ano para o Tech Trends Report, que ela publica há 16 anos, sendo que nos últimos esse debut acontece no palco do SXSW. De 666 tendências analisadas, o relatório deste ano afunilou a análise para 35, resumidas, depois, em 14 temas. Mas o ponto, disse, é que as tendências não devem ser encaradas isoladamente, mas em convergência, com um foco, pois é a partir disso que aquilo que é importante aparece, defendeu Webb.

Depois de alertar ao fato de que os futuristas não podem ser “espectadores de tendências”, mas agir em relação a elas, Amy afirmou que “a internet como a conhecemos acabou”, referindo-se à evolução dos dados e da circulação de informação que levaram a uma situação em que se antes nós pesquisávamos a internet, agora – especialmente após a evolução das ferramentas e infraestrutura para atuação da inteligência artificial – é a internet quem nos pesquisa. E esses sistemas de IA ainda devem se tornar dez mil vezes mais poderosos que hoje. O problema, diz a futurista, é que estamos entrando na “era da computação assistida”, mas sem estarmos preparados para ela, o que pode aprofundar desigualdades sociais, desde o preparo das crianças nas escolas, até a força de trabalho adulta.

A seguir, uma seleção de sete dos 14 pontos destacados no Tech Trends Report deste ano e os caminhos que ele dá para as empresas se prepararem para esse futuro:

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

A IA é um multiplicador de força no progresso tecnológico, porque é facilitadora de outras tecnologias e impulsiona a evolução dos negócios, do governo e da sociedade. De 2010 para cá, a IA perceptiva – que detectava sinais como imagens e texto – está evoluindo para a generativa, que nos próximos 18 a 24 meses será incorporada em diversas aplicações de consumo. Modelos de uso geral serão comoditizados no futuro próximo. Isso fará com que os recursos do chamado “large language model” sejam integrados em cada aplicativo. Algumas categorias de trabalho podem se tornar obsoletas.

Como se preparar: A inteligência artificial deve fazer parte de cada plano estratégico, uma vez que atravessa várias dimensões, de automação da força de trabalho à transformação digital, dos processos de negócios do dia a dia a BI. É imperativo que executivos e gestores seniores entendam o que a IA é, o que não é, e que valor estratégico agrega ao negócio.

WEB3

Uma web descentralizada terá benefícios significativos para os consumidores e as empresas irão capacitá-los a se engajar, sem atritos. Saúde, alimentação, cadeia de suprimentos, jornalismo e energia são algumas das indústrias que irão ver o uso da Web 3.0 expandir e novos recursos surgir no próximo ano. A identidade digital é uma área chave de desenvolvimento no cenário da Web3 e para que esta funcione, os indivíduos exigirão métodos de identificação e formas de validar transações, mas as ferramentas para fazê-lo ainda são incipientes.

Como se preparar: A Web3 descreve uma coleção de tecnologias nascentes que vão continuar a se desenvolver e amadurecer ao longo das próximas décadas; ganhe familiaridade, identifique e priorize tendências; explore lacunas para ganhar novos insights; desenvolva um ponto de vista; e crie a visão de sua organização (desenvolva uma visão de longo prazo para preencher as principais lacunas tecnológicas subjacentes para impulsionar o investimento, fusões e aquisições, desenvolvimento de produtos, aquisição de talentos e decisões de planejamento).

METAVERSO

O metaverso – um espaço coletivo virtual compartilhado – pode não estar totalmente desenvolvido ainda, mas seu impacto na indústria e interações com o consumidor já é amplamente sentido. As interfaces se tornarão mais imersivas, pois ambos os espaços -virtual e mundo físico – estão interligados com ricas experiências de mídia digital. O metaverso não é uma única tecnologia, protocolo ou entidade; significa muitas coisas diferentes para muitos stakeholders diferentes. Os executivos devem ser claros sobre as expectativas e interesses que colocarão à mesa. Incorporar a presença espacial virtual só aumenta a necessidade de salvaguardas humanas e éticas  para o uso responsável da tecnologia. As tecnologias XR apresentam tantos desafios de acessibilidade quanto oportunidades.

Como se preparar: Agora é o momento para experiências focadas e aprender no curto prazo e planejamento imaginativo de cenários no longo, uma vez que indústrias contam com o potencial disruptivo de novas interfaces computacionais que sucederão o smartphone baseado em internet.

CLIMA, GREEN-TECH E ENERGIA

Enquanto desafios ainda se colocam quanto a endereçar as questões de mudanças climáticas, avanços tecnológicos atiçaram a esperança para o desenvolvimento de um futuro sustentável em energia de produção, infraestrutura energética, remoção e redução de emissões e manipulação/reflorestamento ambiental e efeitos da mudança climática. Usar IA, satélites e drones para monitorar os efeitos das mudanças climáticas revelam dados e novas descobertas que de outra forma permaneceriam desconhecidos. Novos tipos de projetos urbanos têm chamado atenção, pois as mudanças climáticas obrigam a humanidade a repensar onde e como vivemos. Exemplos incluem cidades abobadadas, flutuantes e subterrâneas – todos viram de ponta cabeça a vida como a conhecemos.

Como se preparar: Há oportunidades e ameaças. Processos mais ecológicos levam, às vezes, décadas para serem adotados; as empresas devem pensar se existem desenvolvimentos em sua indústria que se beneficiariam de produtos que abordam estados transitórios até lá. Como sua empresa pode repensar a energia, seja como possível produto adicional ou uma forma alternativa de produção? Além disso, atue em justiça social, em produção e supply chain locais e se antecipe às regulações. Já entre as ameaças, estão cybersegurança; impactos inesperados (você está ciente dos impactos secundários e terciários e em seus negócios das mudanças no comportamento de consumo e um cenário regulatório em evolução?); falta de mão-de-obra qualificada; migrações climáticas; fim do greenwashing (sua empresa está preparada para transparência completa?).

ROBÔS, DRONES E MOBILIDADE

Mobilidade, robótica e drones vão minimizar o envolvimento humano em certas atividades do dia-a-dia e deixarão as pessoas livres para fazer trabalhos mais estratégicos e criativos. Uma vez que esses mercados amadurecem estão lidando com três áreas principais de transformação: eletrificação – a mobilidade está mudando substancialmente para os veículos movidos a bateria, enquanto a robótica e os drones permanecem comprometidos com um futuro elétrico; automação – a mobilidade está vendo um crescimento em recursos de segurança automatizados, enquanto as capacidades e uso de drones e robôs para automatizar tarefas e empregos continua a aumentar; autonomia – os três mercados buscam dar mais autonomia para suas máquinas, permitindo que se tornem mais eficazes. Operações mais autônomas ajudariam os três mercados em sua busca para resolver os problemas de entrega da última milha.

Como se preparar: A maioria das empresas deve se preparar para capturar e operacionalizar dados de veículos, robôs e drones; encontrar oportunidades para habilitar a automação em suas operações; saber como o seguro será significativamente impactado pela automação; compreender como os espaços móveis são e poderiam ser usados de forma diferente; aprender os impactos da eletrificação.

NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES

Ambientes virtuais, IA e novas maneiras de consumir informações estão forçando os modelos de negócios de notícias e informação a se transformarem. Aplicações generativas de IA, como as da OpenA e o gerador de imagens DALL-E 2 — tornaram-se populares. Esta nova classe de ferramentas está ativamente reescrevendo fluxos de trabalho e criando novas normas para consumo de mídia. Mecanismos de busca e como eles respondem questões estão passando por uma revolução. Essas inovações irão alterar radicalmente a maneira como os consumidores descobrem novos conteúdos – e como os editores constroem relacionamentos com suas audiências. A confiança na imprensa está em uma baixa histórica em todo mundo, deixando as organizações de notícias vulneráveis ​​a crises reputacionais, que podem ter origem em erro humano ou de um ataque coordenado por atores mal-intencionados. Os jornalistas precisam cada vez mais de conhecimento técnico para rastrear histórias, proteger-se de ataques cibernéticos e monetizar seu trabalho. A demanda por essas habilidades pode ser preenchida por treinamento, construindo parcerias externas, ou quebrando silos nas organizações.

Como se preparar: Os executivos serão desafiados em 2023 para aumentar participação de mercado e receita. Os programas de assinatura vão encarar contratempos econômicos e saturação de mercado; as interfaces de pesquisa em evolução mudarão como os consumidores descobrem novos conteúdos; fabricantes de dispositivos, como Apple e Google, podem oferecer conteúdo agrupado, interrompendo o relacionamento dos editores com suas audiências; inovação relacionada a criação, distribuição e monetização de informação está acontecendo através de vários domínios não relacionados ao meio; a confiança nas instituições — e nas notícias da mídia, particularmente—está baixa reputacional histórica. E sem confiança não se converte consumidores em assinantes. Organizações que procuram ter um papel ativo na formação do futuro das notícias devem monitorar espaços de oportunidade emergentes.

ENTRETENIMENTO

As experiências estão se movendo para um modelo colaborativo, abrindo-se para a oportunidade de um engajamento repetido, mas não repetitivo com as franquias de entretenimento. No streaming, o poder está mudando de plataformas de conteúdo para influenciadores, como as opções destes últimos para compartilhar conteúdo aumenta e novas oportunidades para criar fluxos de receita se expandem; nas artes, o mercado de NFTs esfriou. Usos no ecossistema visual artístico ainda são indefinidos, mas sua relevância pode se expandir em jogos, pois os tokens digitais podem ser usados para conceder associação ou desbloquear experiências. Os direitos de propriedade intelectual não estão prontos para abordar suficientemente novas formas de entretenimento ou a globalização do conteúdo. Espaços para performance artística estão se transformando em arenas multiuso que não apenas acomodam diferentes tamanhos de público e necessidades de performance, mas também lojas, estabelecimentos de alimentação e bebidas e museus. E nos parques de diversões, passeios em realidade virtual estão se transformando de experiências passivas e isoladas a interativas e sociais, em que os visitantes podem se movimentar livremente através de um espaço.

Como se preparar: Aqui, entre os riscos estão a escalada de riscos cibernéticos, abundância digital (que pode diminuir o valor daquilo que o entretenimento reputa como único); storytellings medíocres; uma nova proposição de valor (ou seja, como a humanidade responderá ao conteúdo criado por IA). Já entre as oportunidades estão poder ter um storytelling global (usar talentos de diferentes geografias traz oportunidade para nuances, narrativas locais, que aprofundem o acesso e compreensão de diferentes culturas, dados demográficos e comunidades marginalizadas, criando experiências compartilháveis); definir novos papeis e responsabilidades (com a IA ganhando espaço, novas habilidades precisam ser desenvolvidas para diretores, produtores, designers e artistas); e narrativas descontruídas criam novos fluxos de renda (pois liberam iteração colaborativa entre o público e o criador da ideia).

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