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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

O futuro de cara nova

O grande segredo, na perspectiva de Amy, é que não devemos olhar uma tendência perto demais


16 de março de 2023 - 17h35

(crédito: Amy E. Price/GettyImages)

Quando pensamos em SXSW, existem duas certezas: todos os anos a delegação brasileira comparece em peso na palestra da futurista Amy Webb e que, anualmente, ela apresenta e lança o relatório Trend Tech Reports. Penso eu que essa tradição faz com que a história de Webb e da South by Southwest sejam praticamente indissociáveis.

Dito isso, não é apenas pela apresentação das tendências futuristas que a keynote chama a atenção e conquista os corações brasileiros: Amy Webb tem um storytelling brilhante pensado nos mínimos detalhes, dá uma verdadeira aula de comunicação. E, ao longo de seu discurso, algumas mensagens-chave são destacadas.

Foco!

Para 2023, Webb trouxe um insight valioso: a palavra de ordem para o momento é foco. É preciso compreender que tendências são como sinais, que podem ficar mais ou menos fortes ao longo do tempo.

O grande segredo, na perspectiva de Amy, é que não devemos olhar uma tendência perto demais. O ideal é se distanciar e buscar encontrar relações e intersecções entre diferentes tendências para formar uma imagem mais completa.

E foi esse o exercício que me empenhei em fazer nesses dias de evento. Tenho formado algumas imagens mais claras e quero compartilhar uma delas com vocês neste artigo para, quem sabe, evoluirmos juntos nesse raciocínio.

As intersecções

O que palestras sobre futuro do trabalho, storytelling com imagens e a evolução do mercado de beleza tem em comum? Aparentemente nada, mas quando escolhi essas sessões na programação, algo me chamou a atenção.

Começando pelo futuro do trabalho: muito se falou sobre a necessidade de dar atenção a mercados e populações tradicionalmente ignoradas/negligenciadas. Precisamos desenvolver novos mecanismos para contratar e desenvolver essas pessoas, assim como produtos e serviços que as atendam melhor.

Um exemplo citado foi como a cantora Rihanna lançou uma marca de beleza que foi um grande sucesso justamente por desenvolver maquiagens que respeitassem as peles negras e enaltecessem suas belezas próprias. Curioso que no Oscar deste ano, o filme Wakanda Forever foi premiado justamente na categoria de maquiagens, percebam aí as intersecções iniciando.

No Brasil, poderíamos destacar o case da Salon Line que, ao desenvolver linhas de produtos específicos para os cabelos cacheados, endereçou uma necessidade gigante que estava sendo simplesmente ignorada.

Cases como esse acontecem quando populações historicamente excluídas conseguem acesso para empreender e atuar profissionalmente nos diversos ramos da economia. E, nesse sentido, os cases do mercado de beleza são particularmente interessantes de se analisar.

Uma outra fala me chamou muito a atenção aconteceu no painel da Loreal, em que a VP de Digital e Marketing Global disse entender a beleza como sinônimo da cultura, uma vez que é uma forma de auto-expressão das pessoas e que, se quisermos entender como a cultura está mudando, precisamos olhar com cuidado para como os consumidores estão mudando seus comportamentos e hábitos de beleza.

Ao ouvir essa reflexão, minha cabeça voltou para a sessão de fotografia que aconteceu dois dias antes, onde a fotografa Rita Harper estava apresentando imagens de mulheres e homens negros que contavam histórias, celebravam e amplificavam suas potências rompendo com estereótipos já consolidados.

Um dos exemplos mais impactantes foi a de um grupo de mulheres negras em uma sala de reunião, em um escritório. A foto foi tirada enquanto elas trabalhavam e conseguiu capturar de forma incrível a competência, confiança e o poder daquelas executivas.

Normalmente, a imagem de lideranças trabalhando remete a um grupo de homens brancos, inclusive é isso que as ferramentas de AI acreditam, reproduzindo os vieses preconceituosos da nossa sociedade.

Uma ferramenta generativa de imagens não conseguiu produzir uma imagem sequer de uma mulher para comandos que pediam por uma pessoa CEO. Amy Webb testou diferentes tamanhos de empresa e chegou até mesmo a pedir a foto de um CEO de uma empresa de absorventes e, ainda assim, a inteligência artificial só sugeriu figuras masculinas.

Tudo isso para dizer que as imagens possuem um papel relevante na nossa construção enquanto sociedade na forma como compreendemos nossas experiências humanas. O futuro mais humano e inclusivo que buscamos será marcado por uma revolução estética ressignificando antigos padrões por meio de imagens.

E você? Qual imagem você tem do futuro?

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