DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

O hoje está obsoleto: na ponte do superciclo tecnológico

Os olhos são a janela da nossa alma. Essa frase nunca fez tanto sentido e explica por que todas as tecnologias de integração ou expansão de realidade partem dos olhos


13 de março de 2024 - 12h14

Duas coisas que se confirmaram depois que cheguei a Austin no Texas, pro SXSW 2024: Amy Webb (futurista americana, autora, fundadora e CEO do Future Today Institute) é muito f***, todos os sussurros a respeito dela se validaram, e Austin é realmente esquisito. Que na verdadeira definição da palavra, reflete algo único. A cada região que você transita na cidade, você é surpreendido com culinária diversificada e cultura musical realmente pulsante.
Dito isso, quero navegar no que mais me impactou nos primeiros três dias e fala da total convergência cultural que estamos vivenciando. Como cineasta, são as metáforas visuais que ajudam a compreender melhor o que estamos vivendo. Vou conduzir esse artigo dessa forma. Peço licença.

A Amy Webb comentou sobre o Superciclo Tecnológico que estamos vivendo, por conta da convergência de várias mudanças científicas de grande impacto. São eles: inteligência artificial, ecossistemas conectados e biotecnologia. Não vou mergulhar nesses temas, a palestra dela e o relatório do Future Today Institute estão disponíveis online. Vou falar sobre uma visão de momento da nossa relação com IA.

Vamos à metáfora visual.

Imaginem duas imagens: de um lado uma construção bem feita, organizada e simétrica. Ao lado dessa construção, imagine um jardim, lindo, bem delineado, mas assimétrico como a natureza e um organismo vivo podem ser. Voltarei a essa imagem depois.

O que me chamou a atenção das quatro palestras que assisti sobre inteligência artificial, foi o olhar de relação com a inteligência artificial generativa, que por si já passa por projeções de mudanças estruturais grandes. Mal saímos da revolução dos LLM (Large Language Model, a primeira marcha na inteligência artificial mais comercial como ChatGPT) e vamos vivenciar a construção do LAM (Large Action Model, sistema de inteligência artificial que provém da coleta de dados em tempo real), que são os modelos de grande ação e previsibilidade). Esses sendo os principais ativos de captura de dados para sobrevivência da inteligência artificial generativa. Quando disse acima o “olhar de relação com inteligência generativa” é porque os LAM (Large Action Model) dependem dos nossos olhos para coletar dados e se correlacionar com as nossas ações, por exemplo. A inteligência artificial generativa só vai ter bons resultados se poderem coletar nossos dados em tempo real. Não apenas se balizando em grandes dados antigos disponíveis online. Isso já está ultrapassado de certa forma.

Os olhos são a janela da nossa alma. Essa frase nunca fez tanto sentido e explica por que todas as tecnologias de integração ou expansão de realidade partem dos olhos. Os olhos permitem que uma inteligência artificial generativa possa saber o que seu corpo vai fazer a partir da reação da pupila. Segundo pesquisa, que a Amy Webb cita, a pupila entrega a nossa intenção de movimento antes mesmo da gente ter terminado o processamento de ação cerebral para agir. Pura emoção. Ou seja, inteligência artificial generativa, através dos modelos de larga ação (LAM), vão saber exatamente o que te oferecer a partir da sua quase intuição e assim ajudar a você a tomar decisões. Seja de clima tempo, ou apenas para comprar um produto que você vê faz tempo e sempre te impacta na rua.

A Amy falou do FUD, termo que ela alcunhou como “Fear Uncertainty Doubt”. Pelo receio que temos da IA não nos oferecer um controle total perante o futuro. Numa outra matéria recente, li sobre o termo “Future Shocked”, que também pode ser aplicado por essa enxurrada de mudanças que estão acontecendo. Estamos atravessando a ponte para o superciclo tecnológico. Aceita que dói menos. Nunca antes a tecnologia foi tão mutante. O hoje já está obsoleto.

Não precisamos ter FUD nem Future Shock. Lembra da imagem que comentei? Então, precisamos agora como humanidade compreender que não seremos mais construtores. E esse insight eu trago do Brain Fletcher (Global Chief Technology Officer for Huge) que fez uma palestra sobre IA e interação humana. Precisamos compreender que somos agora jardineiros. Não vamos controlar a IA generativa completamente. O que precisamos fazer é construir processos e ferramentas (de inteligência artificial) que sejam claros delineadores para que a programação da IA compreenda e construa algo de forma orgânica para o que queremos. Olha que tremendo paradoxo. Tratarmos inteligência artificial de forma orgânica, como um jardim, que depois que recebe as delimitações, as sementes, e os cuidados, cresce de forma linda e com encaixe perfeito para aquele ambiente. Não estamos mais na era de sermos os construtores. Seremos engenheiros de jardim, aliados a ferramentas absolutamente potentes que estão mudando a história da humanidade.

E não se preocupem. O aspecto ético e de responsabilidade de atos de uma IA estão permeando TODOS os painéis. Com destaque notório da Amy Webb, para “accountability” das plataformas que publicam ou podem publicar deep fake News. Não é necessário temer, temos que seguir questionando, criando alguns limites pra inteligência artificial, mas também se relacionando de uma forma que a gente consiga projetar um lindo jardim para os nossos filhos.

Já diria Amy Webb “Fuck FUD!”

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