O trabalho como espaço de conexão (ou isolamento?)

14 de março de 2025 - 12h35

Já era esperado que saúde mental fosse um dos grandes temas do SXSW 2025. Abordar a temática no ambiente profissional se tornou recorrente nas empresas, mas há um ponto crítico que ainda passa despercebido: a forma como as relações sociais — ou a falta delas — impacta diretamente no bem-estar dos profissionais.

No primeiro dia de programação aqui em Austin, as especialistas Kasley Killam e Amy Gallo trouxeram à tona a importância da social health, ou saúde social, e como o ambiente de trabalho pode ser tanto um fator de proteção quanto um acelerador da crise de saúde mental que estamos vivendo.

A solidão no ambiente profissional não significa estar fisicamente sozinho, mas a sensação de desconexão, de que não se pertence àquele espaço. Com a ascensão do trabalho remoto e da hiperconectividade digital, esse sentimento se intensificou. Killam destaca que conexões autênticas no trabalho não são apenas um bônus, mas uma necessidade estrutural. Relações sociais saudáveis afetam diretamente nossos níveis de estresse, nossa imunidade e até mesmo nossa longevidade. Mas, ironicamente, o mundo profissional ainda enxerga a sociabilidade como algo periférico, e não como um pilar fundamental da saúde mental.

Em outro painel, Scott Galloway amplia essa discussão ao apontar um problema ainda maior: a epidemia de isolamento que afeta principalmente os jovens homens. Em sua análise da eleição presidencial de 2024, ele argumenta que a crise social não é apenas sobre mudanças no mercado de trabalho, mas também sobre a dissolução dos espaços tradicionais de pertencimento. O trabalho, que historicamente é um dos principais lugares de construção de identidade e relações sociais, já não cumpre esse papel. Em um cenário onde cada vez mais profissionais se sentem desconectados, a solidão deixa de ser apenas um problema pessoal e se torna um fenômeno com implicações mais amplas, afetando não só a saúde mental, mas também o engajamento profissional e as dinâmicas sociais e políticas.

No fundo, o que social health nos ensina é que a saúde mental no trabalho não pode ser tratada apenas como uma questão individual. Burnout, ansiedade e desmotivação não são apenas excesso de trabalho ou benefícios insuficientes, são também sobre o que nos faz ficar — ou ir embora. São sobre pertencimento, conexão e propósito compartilhado.

Empresas que entenderem isso não só terão equipes mais saudáveis, mas também mais fortes.