Olivier Rousteing e a construção de novos legados para a Balmain
Diretor artístico fala sobre preserva elementos que originaram marca francesa e, ao mesmo tempo, introduz novos conceitos nas coleções
Diretor artístico fala sobre preserva elementos que originaram marca francesa e, ao mesmo tempo, introduz novos conceitos nas coleções
Isabella Lessa
14 de março de 2024 - 18h54
Após o que foi uma longa conexão de voo, Olivier Rousteing desembarcou em Austin pela primeira vez, para compartilhar um pouco de sua trajetória como diretor artístico da Balmain – grife francesa de roupas de luxo fundada por Pierre Balmain em 1945, em Paris.
Naquela época, o continente europeu acabava de sair da Segunda Guerra Mundial e enfrentava a escassez de produtos. Não havia couro ou tecidos para confeccionar roupas e sapatos. Então a marca Balmain foi forjada em um contexto em que a França se reconstruía como País.
E o que Pierre construiu a partir dali foi um estilo que expressava seu amor pelas mulheres que, sobretudo no período pós-guerra, saíam para trabalhar e criar seus próprios negócios. O resultado foi uma assinatura marcada pela força dos ombros, mas também pelas silhuetas – que acabou ficando conhecida como o “New French Style”.
Hoje, sob a tutela de Olivier Rousteing, a Balmain preserva todas as características de décadas atrás, porém com doses contemporâneas, permeadas por parcerias com divas do pop como Beyoncé e Rihanna. “Tento respeitar a força de monsieur Balmain. Por exemplo, ele adorava as mulheres incríveis da época, como Josephine Baker, Audrey Hepburn e Brigitte Bardot. São musas muito fortes”, contou.
Natural da Somália, Olivier é órfão e vivia em um orfanato até ser adotado pelos seus pais franceses e ser criado no sul da França. Quando pisou pisou na Balmain pela primeira vez, aos 24 anos, sentiu-se muito mal e desrespeitado. Além de ser muito novo em uma época na qual somente pessoas muito famosas trabalhavam na indústria da moda, ele é negro.
“As pessoas não queria mencionar seu tom de pele ou suas origens naquela época. Era um tabu. Nos desfiles de moda, eu era a única pessoa negra na sala. Hoje, muitas pessoas pensam ser normal falar sobre diversidade e inclusão – e é normal –, mas precisamos nos lembrar que há apenas dez anos, não havia cores na primeira fileira”, disse.
Por volta de 2015, Olivier adentrou um terreno então temerário para as marcas de luxo: o Instagram. A decisão foi um ponto de virada para o designer, pois foi naquele ambiente que pôde falar sobre a solidão de ser o único negro da indústria de luxo e chamar atenção para o tema.
Para Olivier, a construção de um legado que se perpetue é mais interessante do que ficar restrito à efemeridade da cultura pop. Em uma indústria na qual é fácil perder as referências, o designer acredita que, para obter longevidade, é preciso se fortalecer entre as pessoas que se admiram genuinamente.
“A realidade da moda é que, muitas vezes, você acaba tentando agradar a todos, menos a si mesmo. E essa é a pior coisa, porque quando você vai no espelho, se pergunta: gosto de mim mesmo? Sempre tive medo de voltar para o orfanato, então minha força é lutar e nunca desistir, para que as pessoas se lembrem de que fui uma boa escolha para a Balmain. Hoje, não tenho mais medo”, afirmou.
Hoje, três elementos inspiram Olivier a criar suas coleções: música, pois é uma forma de comunicação que o ajuda a entender as novas gerações; política, em um contexto no qual há múltiplas crises acontecendo e é preciso agir, mesmo que sejam mudanças pequenas; e sustentabilidade, que é um dos — senão o maior — calcanhares de Aquiles do mundo da moda.
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