Os desafios das pessoas negras são os mesmos na Creator Economy
A Creator Economy já movimenta mais de 70 bilhões de reais por ano, apesar disso, vários criadores não conseguem monetizar seus conteúdos ou são mal pagos.
A Creator Economy já movimenta mais de 70 bilhões de reais por ano, apesar disso, vários criadores não conseguem monetizar seus conteúdos ou são mal pagos.
6 de março de 2023 - 17h23
O South by Southwest (SXSW) nem começou, mas é possível perceber que os temas que envolve inteligência artifical está pulsando. Mas gostaria de falar sobre Creator Economy, economia do criador em português. Se os creators são os novos empreendedores, podemos considerá-los como futuras pequenas e médias empresas. E como empresas, deveriam ter a possibilidade de ter acesso à crédito, fundo de investimentos e empréstimos assim como outras empresas? Acredito que a resposta seja sim.
A Creator Economy já movimenta mais de 70 bilhões de reais por ano e que, de acordo com os dados de 2021 da CB Insights, o Brasil teve um aumento de 171% em novos criadores. Apesar disso, vários criadores não conseguem monetizar seus conteúdos ou são mal pagos.
Fazendo o recorte dos Estados Unidos, em geral, influenciadores que se autodeclaram pretos, pardos e indígenas ganham 29% menos que os influenciadores brancos, enquanto os influenciadores negros ganham especificamente 35% menos que seus colegas brancos, de acordo com pesquisa realizada “Time to Face the Influencer Pay Gap”, realizada em 2021 pela agência de marketing de influenciadores MSL em parceria com a The Influencer Leaguepe.
Outro ponto de destaque da pesquisa é que 77% dos influenciadores negros com menos de 50 mil seguidores recebiam cerca de 27 mil dólares por ano, contra 59% dos influenciadores brancos. 41% dos influenciadores brancos com mais de 50 mil seguidores conseguem ganhar mais de 100 mil dólares por ano e apenas 23% de influenciadores negros com o mesmo número de seguidores podem dizer o mesmo.
No Brasil, esse retrato não é diferente. No cenário geral da sociedade, mulheres negras recebem cerca de 44,4% a menos que os salários homens brancos, segundo a pesquisa “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, publicada pelo IBGE. Empreendedor negro tem crédito negado três vezes mais do que branco no Brasil.
O destaque aqui vai para as lacunas e desigualdades raciais existentes e que se perpetuam também no universo de creator economy. Mesmo com alguns avanços nos pilares de diversidade e inclusão, as marcas e agências têm reforçado as desigualdades raciais nas contratações de creators.
Considerando o cenário desigual e que nem todos creators, sobretudo negros e negras, não conseguem fechar com marcas, monetizar seus conteúdos, ter acesso à crédito para investir em equipamentos de qualidade, por que não estamos pensando em soluções para creators que ultrapassem plataformas para intermediar contratações e novos canais de distribuição de conteúdo? Estou falando de serviços financeiros, investimentos em estágio inicial, planos de saúde, seguros etc. Esses serviços podem ser personalizados de acordo com as dores e demandas que os criadores de conteúdo possuem.
Trarei alguns exemplos que podem servir de inspiração para empreendedores, marcas, agências e investidores.
Sobre serviços financeiros, no Brasil temos o registro da criação do Influencers Bank que busca dar estrutura e profissionalizar criadores de conteúdo e suas audiências. Mas depois da divulgação do lançamento do banco, em abril de 2022, não tivemos mais notícia se irá funcionar ou não.
Uma outra iniciativa que está rodando fora do Brasil é o da Visa. A empresa tem um programa chamado Visa Ready Creator Commerce Program, para facilitar pagamento instantâneo para criadores de conteúdos. O programa é ideal para plataformas de e-commerce, de jogos ou Fintechs.
Ao usar a solução da Visa, as plataformas podem permitir que seus criadores recebam pagamentos quase em tempo real para suas contas bancárias por meio de seus cartões de débito elegíveis. E ainda tem a possibilidade dos creators incentivarem e permitirem que os seguidores dêem gorjetas e os apoiem globalmente.
Temos também a plataforma Willa. Conheci a plataforma em 2020 e era apenas dedicada à freelancers. Hoje acrescentaram os benefícios para criadores de conteúdo também. Na Willa você pode solicitar pagamentos de agências e marcas em segundos, ou seja, você consegue antecipar todo pagamento enquanto a plataforma cuida de toda parte burocrática.
Sobre investimentos em creators, existe um fundo localizado em São Francisco, Boston e Nova York, nos Estados Unidos, chamado Slow Ventures Creator Fund que foi criado para investir em creators com o valor entre 100 mil a 5 milhões de dólares em troca de 1 a 5% dos ganhos futuros do criador ao longo de suas carreiras. É a mesma lógica de investimento em startups, por exemplo.
Tem também a Creative Juice , uma plataforma online de serviços financeiros que os criadores podem usar para gerenciar seus ganhos, organizar suas finanças e tem a possibilidade de receber financiamento para ajudar a expandir seus negócios, comprar equipamentos e afins. Nessa mesma linha, temos também a Karat que fornece financiamento personalizado, recompensas e suporte para criadores para que você possa acessar mais dinheiro à medida que cresce. As recompensas podem ser gasto com anúncios, viagens, equipamentos, jogos, eletrônicos, vestuários e muito mais.
Como vocês podem ver, grande parte das empresas citadas estão fora do Brasil. As necessidades e os desafios dos criadores já existem e não estão sendo atendidas em território brasileiro.
Em resumo, quando iremos ultrapassar a criação de soluções para Creator Economy que se resumem em canais de distribuição de conteúdos e intermediação para contratantes, sem desconsiderar raça, gênero, classe e outras intersecções?
Essa é uma provocação para empresas, empreendedores e investidores pensarem se não está na hora de colocar a mão na massa, fazer parte da Creator Economy e diminuir as disparidades entre creators que se autodocleram pretos, pardos e brancos.
Se você se interessa pelo tema, segue minhas sugestões de mesas para prestiginar no SXSW:
1. Diverse Creators Are Underpaid: How Do We Fix It? (10/03 às 11:30)
2. Next Gen Entrepreneur: Rise of the Creator Economy (10/03 às 14:30)
3. How LatAm Creators Generate Inclusion and Income (12/03 às 10h)
4. Fueling the Creator Economy by Building Community (12/03 às 14:30)
Compartilhe
Veja também
SXSW 2025 anuncia mais de 450 sessões
Pertencimento e conexão humana estão entre os principais temas da programação do evento, que conta com 23 trilhas de conteúdo
SXSW 2025 terá Douglas Rushkoff, Amy Webb, John Maeda, entre outros
39ª edição do South by Southwest apresenta uma mescla entre veteranos e estreantes em sua grade de programação, composta por 23 trilhas