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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Para Maeda, design vai humanizar IA

VP de inteligência artificial da Microsoft aponta oceano de possibilidades de colaboração entre humanos e máquinas


10 de março de 2024 - 12h38

No primeiro dia de SXSW, vivenciei a sensação que me acompanhava desde o planejamento para o evento. A quantidade de debates pertinentes e pensadores de vanguarda em suas áreas, o número de painéis em sequência (ou até no mesmo horário), os encontros nos corredores com colegas e profissionais interessantes: tudo parece muito e, por isso mesmo, tende ao caos. Como já suspeitava, flexibilidade é uma ferramenta valiosa – mas não só.

Num evento hiperbólico como este, o maior e mais longevo festival de inovação do mundo, para lidar com o aparente caos, é preciso estar atento aos temas, o que não significa necessariamente assistir a tudo (uma tarefa, aliás, impossível). Entendi que a própria programação permite criar um mapa de assuntos e acompanhá-los de forma assíncrona ou autônoma. Por exemplo: na descrição de uma palestra, li sobre como o funil de vendas está se tornando algo do passado. Não pude assistir, mas já criei um alerta interno para o debate: se o modelo funil já não mede mais a relação adequada entre cliente e uma marca, como faremos para medir conversão e ações de marketing? Pronto, o assunto já entrou no meu radar.

Outro exemplo: fui fisgada na programação pelo nome da editora e CEO do MIT Technology Review, Elizabeth Bramson-Boudreau. Não conseguiria acompanhar porque já havia planejado estar em outro painel, mas busquei a edição atual da publicação (e buscarei a próxima) para acompanhar as tendências que o Instituto de Tecnologia de Massachusetts aponta para 2024.

Percebi logo no primeiro dia que estar atenta aos sinais é uma forma de potencializar a experiência do South by. Mas, é claro, acompanhei debates inspiradores. Destaco aqui dois deles: a palestra anual com John Maeda (nesta edição, sobre “Design Against AI”) e a apresentação de Rohit Bhargava sobre “Non-Obvious Thinking”.

Na primeira, Maeda, que é VP de design e IA da Microsoft, discorreu sobre a evolução da inteligência artificial e do design, traçando uma linha do tempo que remonta aos anos 1960 – para nos lembrar que o design conversacional, que hoje ganha atenção com a IA generativa, não é nenhuma novidade.

Essa interface é tida como a mais antiga do design e começou com mecanismos de voz em interações cotidianas, para pedir algo em um restaurante, por exemplo. Em 1967, Nicholas Negroponte previu a construção de modelos preditivos que adaptam máquinas com base em dados, um conceito que tem evoluído há décadas. E ainda nos anos 1970, Joseph Weizenbaum apontou preocupações sobre os impactos sociais dos chatbots, baseando-se na criação do primeiro chatbot (por ele mesmo) na década anterior.

Maeda questiona o potencial dessas tecnologias para criar ilusões de entendimento humano, reflexo de suas experiências pessoais e preocupações éticas. Outros pontos, já sobre o uso de IA, me chamaram especial atenção:

Oportunidades e desafios de integrar IA no design e no desenvolvimento de produtos, incentivando colaboração entre humanos e inteligência artificial, em vez de competição.

A ascensão da IA e do trabalho remoto, juntamente com a importância do design inclusivo, são tratados como temas contemporâneos significativos no campo do design.

Questões éticas e os impactos sociais da IA, especialmente em contextos de mudanças na força de trabalho, ressaltam a necessidade de abordagens críticas e inclusivas no desenvolvimento tecnológico.

Maeda encerrou a palestra com uma reflexão crucial para a forma como lidamos (e vamos lidar cada vez mais) com a inteligência artificial: o papel central do design e dos designers como humanizadores da tecnologia, a importância do pensamento crítico e da abordagem ética na concepção de futuros tecnológicos inclusivos e humanos.

O VP de design e IA da Microsoft trouxe uma releitura de “oceano azul”, em que há muitas possibilidades ainda não descobertas para IA e humanos trabalharem juntos e construir um mundo mais igualitário, desenvolvido e sustentável. Eu vejo esse como justamente o lugar dos “non conformists”, tema de Rohit Bhargava na palestra seguinte da minha programação de primeiro dia.

Em primeiro lugar, é preciso dizer que Rohit define como pensamento não óbvio como a capacidade de ver o que os outros não percebem e encontrar soluções inovadoras. Algo como “pensar fora da caixa”. Compartilho cinco dias dele para desenvolver essa habilidade:

  • Desperte a curiosidade: questione, desafie suposições e busque novas perspectivas.
  • Observe com atenção: olhe para detalhes ignorados, reúna informações diversas e identifique padrões.
  • Conecte ideias: combine conceitos aparentemente não relacionados para criar novas soluções.
  • Experimente sem medo: aceite riscos, aprenda com os erros e repita ideias.
  • Explore o acaso: esteja aberto a descobertas inesperadas, aproveite oportunidades.

Uma das mais concorridas do South by, a palestra de Rohit indica caminhos para a virada de chave, a mudança de perspectiva do pensamento óbvio para o não óbvio. Para o estrategista de marketing, é preciso usar o poder das emoções para atrair atenção e criar ações de impacto, além de ter foco na busca por opções inovadoras. Filtrar informações para identificar o que é mais importante também é algo poderoso – e, diga-se, de grande valia no próprio SXSW.

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