Patrícia Prates, da Superbet, destaca vulnerabilidade humana e privacidade
Em sua terceira passagem pelo South by Southwest, executiva percebe mudança na rota do festival com menos certezas e olhar para o distanciamento social
Em sua terceira passagem pelo South by Southwest, executiva percebe mudança na rota do festival com menos certezas e olhar para o distanciamento social
Taís Farias
10 de março de 2025 - 11h43
Em novembro do ano passado, uma pesquisa do Instituto Locomotiva sobre o mercado de apostas apontou que 25 milhões de brasileiros passaram a apostar nos sete primeiros meses do ano passado. Isso soma para as casas de apostas uma média de 3,5 milhões de usuário por mês no País. Em paralelo, o número de empresas do setor chegou a 219.
Patrícia Prates no SXSW 2025 (Crédito: Taís Farias)
Para se aproximar do consumidor, entre janeiro e agosto de 2024, os sites de apostas investiram R$ 2,3 bilhões em compra de mídia, segundo dados da Kantar Ibope Media – Advertising Insights. Desde janeiro de 2024, Patrícia Prates está à frente da Superbet, uma das companhias que investe no setor no Brasil.
Em sua terceira passagem pelo festival, ela destaca as mudanças na abordagem da tecnologia e a responsabilidade dos negócios de apostas em não contribuir com o isolamento e a desconexão humana:
Meio & Mensagem – Até agora, qual sua análise sobre o evento? Quais foram os destaques?
Patrícia Prates — Minha sensação desse ano é muito diferente das outras duas vezes que eu vim para o SXSW. Eu estou sentindo todos os palestrantes falando muito mais sobre vulnerabilidade, trazendo um ponto humano para as conversas. A última vez que eu vim para o evento foi em 2023 e era um ano em que se falava muito sobre inteligência artificial, metaverso. Um viés mais duro sobre as novas tecnologias. Esse ano não. Esse ano traz uma abordagem diferente, falando sobre conexões humanas, a saúde mental, a saúde social. Trazendo pontos sobre o distanciamento social que está acontecendo, principalmente, aqui, na sociedade estadunidense. Até futuristas, como a Amy Webb e o Rohit Bargava, vieram com percepções menos certeiras sobre as tendências para o próximo ano ou para um futuro próximo. Porque estamos passando por um momento de tanta instabilidade geopolítica, econômica, social, que me parece que está todo mundo tentando entender o que que vai acontecer. Sinto que a minha percepção sobre o evento esse ano é muito mais de: ok, temos todas essas inovações tecnológicas acontecendo. Mas, ao mesmo tempo, temos um grande ponto de vulnerabilidade humana também acontecendo pelo fato de não sabermos para onde vamos em função de todos esses fatores externos que estão começando a impactar a sociedade global.
M&M – Como essa discussão sobre desconexão e solidão reverbera no negócio de Superbet, que é digital?
Patrícia — Falando especificamente de Superbet e de apostas esportivas, de maneira geral, sempre trazemos um viés de que a aposta esportiva é para você fazer ou desenvolver junto com seus amigos, em um ambiente social. Apostar entre amigos. Nunca, em nenhuma comunicação, conteúdo ou campanha nossa, você vai ver alguém, por exemplo, apostando sozinho. Porque, de fato queremos nos isolar disso. Vemos a aposta como um entretenimento para você fazer em conjunto, entre amigos. Sempre vai ser aquela aposta do eu contra você, você no churrasco, você em um jogo de futebol. É uma atividade social. Sempre trazemos esse viés, em toda a nossa comunicação, exatamente para afastar talvez uma percepção de que é um produto digital, é muito fácil de uma pessoa se isolar naquilo. Até por isso, dentro da nossa plataforma, temos gatilhos para bloquear um usuário que indique um comportamento abusivo que, majoritariamente, acontece em um momento em que a pessoa está sozinha. Por exemplo, você ficou uma hora conectado dentro do nosso site, te deslogamos e bloqueamos por meia hora. Temos esses gatilhos também para identificar possíveis abusos. Não falando apenas de jogo responsável, mas dessa solitude. De você se isolar. É uma questão de como ajudamos a prevenir isso, como temos isso dentro do site e como reverbera também no nosso posicionamento, como uma plataforma social.
M&M – A partir da perspectiva de entretenimento e storytelling, que tendências apresentadas no SXSW podem somar para a estratégia da companhia?
Patrícia — Agora, mais do que nunca, estou vendo a tendência de o entretenimento trazer o fã para o centro das experiências. Tiveram algumas sessões sobre como transformar os fãs em comunidade, em embaixadores da sua marca, como trazer o fã para o centro da geração de conteúdo. Até mesmo na palestra da Disney vimos como pegar a paixão do fã e trazer ela para o centro de uma experiência, seja de um novo brinquedo ou um novo conteúdo. Esse é um viés que já tínhamos na Superbet. Para mim, foi muito mais uma validação de que estamos no caminho certo. De, sempre, pegar um fã de um time patrocinado nosso ou um fã de Carnaval e como damos a ele uma experiência que vai ser inesquecível. No final, é tudo construído em volta de um sonho, de uma experiência inesquecível que alguém vai ter com a sua marca e vai lembrar para o resto da vida. Vai ter uma gratidão. Para mim, foi muito mais uma validação do que a gente já vem fazendo.
M&M – Já no primeiro dia, o evento pautou o tema da privacidade com a presidente do Signal, Meredith Whittaker. O quanto esse assunto é sensível para o setor de apostas?
Patrícia — Um setor tão sensível como o de apostas esportivas, que tem uma maturidade ainda pequena no Brasil. Acabou de ser regulamentado, agora, no dia 1º de janeiro de 2025. Então, eu sinto que é um setor que tem olhos extras em cima. Até por causa disso fomos buscar no mercado quais eram as tecnologias que já trabalhavam com outros segmentos para trazer essa segurança de dados para nós. Nos aliamos com parceiros para fazer todo processo de verificação que, hoje, é obrigatório seguindo os termos da regulamentação. Fomos buscar um parceiro no mercado que já tinha experiência de trabalhar em segmento bancário, com validação de conta, face ID, validação de documentos. Não vamos reinventar roda. Vamos pegar quem tem expertise, quem já faz isso muito bem, que nunca teve nenhum caso de vazamento de dados, que trata isso com seriedade e vamos trazer para o segmento de apostas. Tem momentos em que não temos que reinventar a roda. Temos que pegar quais são as melhores práticas de outros segmentos que conseguimos trazer para o segmento de apostas, que ainda está em uma maturidade muito pequena no Brasil.
M&M – Por fim, do ponto de vista de liderança e soft skills, quais foram os destaques? O que é possível aprender?
Patrícia — Tiveram dois painéis sobre liderança e engajamento de times que eu achei interessantes. Um primeiro falava exatamente sobre a vulnerabilidade da liderança, que desmistifica muita coisa que vimos até uns anos atrás da liderança dura, tendo a certeza de tudo. Como você, como líder, traz também uma vulnerabilidade até como ponto de aproximação com o seu time. Ajuda a criar confiança e a trazer essa aproximação. Eu vejo como normal um líder falar: ‘Eu não tenho a resposta, agora, mas quem do time pode me ajudar?’. E, ao mesmo tempo, você dá visibilidade para alguém do time vir para o palco e te ajudar naquela resolução. E outro sobre o que é o melhor que você pode fazer para que as pessoas tenham vontade de trabalhar para você. Então, primeiro, construir confiança, um ambiente seguro. É o fim da gestão do medo, da gestão abusiva. Segundo, tenha a clareza. E, aqui, eu acho que não é só clareza de cargos e responsabilidades e projetos. Mas principalmente sobre dar clareza para o seu time sobre os rumos da companhia. Isso parece tão óbvio, mas muita gente hoje não tem uma clareza de quais são os KPIs, os pilares estratégicos, para onde estamos indo como companhia. Muitas vezes, principalmente em companhias grandes, as áreas trabalham tanto em silos que essa informação não é passada. E o terceiro era delegar e motivar. É um ponto que eu trabalho muito com o time de, de fato, colocá-los na linha de frente. Delegar donos de projetos e quem vai diretamente apresentar para o nosso CEO.
Compartilhe
Veja também
John Maeda: a força dos agentes de IA e do arrependimento humano
VP de engenharia e design computacional da Microsoft divide tendências em tecnologia, mas faz ode à autenticidade e conexão humana
4 conselhos de Robert Rodriguez sobre criatividade
Responsável por longas como Sin City e Um Drink no Inferno, cineasta texano compartilha dicas para impulsionar as ideias e o fazer criativo