Presidente do Signal critica lucro em cima da venda de dados
Primeira keynote do SXSW 2025, Meredith Whittaker sublinha a importância da privacidade para a liberdade individual e critica modelo de negócios das big techs
Primeira keynote do SXSW 2025, Meredith Whittaker sublinha a importância da privacidade para a liberdade individual e critica modelo de negócios das big techs
Thaís Monteiro
7 de março de 2025 - 23h02
A necessidade da privacidade não algo novo, mas a forma com que isso se transformou de um direito para um modelo de negócio, sim. Essa é a conclusão de Meredith Whittaker, presidente do Signal. Primeira keynote a subir ao palco do SXSW 2025, Meredith arrancou risadas e aplausos do público ao interagir com o autor, empreendedor e chief evangelist do Canva, Guy Kawasaki, ao constatar o que, para ela, é óbvio: a quebra da privacidade dos usuários é um perigo de segurança nacional e privacidade é inegociável.
(Crédito: Thaís Monteiro)
Na visão dela, a privacidade sempre foi importante, mas a forma como modelos de negócios se estruturaram em torno da comercialização de dados dos usuários tornou a busca por privacidade algo quase inalcançável ao consumidor.
“Não existe um mundo, por mais mudanças que tenhamos visto, em que as pessoas não se importem com privacidade. No entanto, transformamos a privacidade em um conceito estéril, higienizado e tecnocrático, que parece distante de nós. Não refletimos sobre as coisas preciosas que a privacidade realmente garante – democracia, liberdade de pensamento, liberdade de expressão, intimidade. Estamos em um mundo muito mais volátil, com um nível de vigilância maior do que nunca”, descreveu.
Esse tipo de poder centralizado nas mãos de algumas big techs pode ser usado para impulsionar o consumo, mas também para assuntos com gravidade maior, como incriminar alguém injustamente, acessar dados sensíveis ou exercer influências políticas, frisou.
Atualmente, a maioria dos aplicativos de mensageria utilizam criptografia, mas, na maioria das vezes, apenas para o conteúdo. Conforme a executiva, os concorrentes conseguem acessar dados da mensagem, incluindo quem enviou, para quem, quando, onde e informações de perfis — chamados de metadados.
Na contramão, ela argumenta que a criptografia do Signal veta o acesso a essas informações. Além disso, o fato de ser open source permite que todos os usuários saibam as configurações do sistema e possam denunciar qualquer alteração feita no código da plataforma.
O Signal é uma plataforma de mensageria gratuita e de código aberto, criado pela Signal Foundation, uma organização sem fins lucrativos cujo propósito é colocar a privacidade dos usuários acima de interesses comerciais.
Por um lado, manter uma infraestrutura tecnológica em escala torna uma organização sem fins lucrativos desafiadora, mas essa foi a forma que os fundadores encontraram de manter uma plataforma livre do modelo econômico atual das demais, que vendem os dados em troca de investimentos publicitários. “Essa é a pressão que precisamos evitar se quisermos permanecer fiéis à nossa missão”, afirmou.
Antes de chegar à Signal Foundation, Meredith trabalhou no Google, foi professora da New York University (NYU), trabalhou no Google e foi conselheira da Federal Trade Commission. Para ela, o Google, assim como outras empresas de tecnologia, se desvirtuou de um caminho positivo em prol do bem social para cumprir metas de receita e crescimento pressionadas por shareholders.
“É um modelo econômico distorcido que depende de certas práticas que se tornaram normativas e há um poder significativo nas mãos de empresas cujo objetivo é garantir que um único membro do conselho não fique irritado e que seus números continuem subindo no mercado. O foco está em superar os concorrentes em receita e crescimento, não necessariamente em transparência, verificabilidade, benefícios sociais, em avançar com cautela e corrigir problemas”, argumentou.
A IA pode exponencializar a interpretação de uma grande quantidade de dados. Para a executiva, a capacidade interpretativa da inteligência artificial fará com que as big techs corram atrás de novas formas de coletar dados. “Há um problema de vigilância e concentração de poder no cerne do paradigma atual de IA, que segue a lógica de ‘quanto maior, melhor’. Isso nos leva de volta a uma sociedade hiper vigiada, cujas possíveis consequências colaterais não considero boas”, dividiu.
Já os agentes de IA representam outra ameaça, uma vez que eles irão navegar pelos aplicativos do usuário para realizar tarefas para ele, o que eleva os perigos relacionados à privacidade e segurança.
Uma terceira ameaça potencial à tecnologia é a computação quântica, que tem o poder de anular a criptografia da empresa. Atualmente, a plataforma trabalha em tornar sua criptografia à prova de tecnologia quântica.
Para além desses obstáculos, o Signal agora enfrenta o desafio de escalar a solução para o maior número de usuários possíveis. Atualmente, a empresa funciona a partir de doações. Anualmente, a Signal Foundation investe US$ 50 milhões para se manter de pé.
A fundação estuda diferentes modelos de negócios que não dependem exclusivamente de doações, como ferramentas premium, mas enfrenta o desafio de escalar a plataforma. “Ninguém usa o Signal se os amigos não usarem”, disse. A empresa quer tornar a plataforma mais popular antes de se aprofundar nessas alternativas.
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