Qual será o futuro da creator economy?
Painelistas discutem os principais problemas da economia dos criadores e como as plataformas e marcas podem ajudar a resolvê-los para promover a sustentabilidade do setor
Painelistas discutem os principais problemas da economia dos criadores e como as plataformas e marcas podem ajudar a resolvê-los para promover a sustentabilidade do setor
Amanda Schnaider
15 de março de 2024 - 10h38
Nos últimos anos, a creator economy ou economia do criador passou a ganhar notoriedade em todo o mundo, muito por conta do volume econômico que movimenta. Segundo a Goldman Sachs Research, atualmente, esse mercado é avaliado em mais de US$ 250 bilhões e tem a previsão de ultrapassar a marca de US$ 480 bilhões até 2027.
Com toda essa relevância, esta foi a primeira vez que o South by Southwest contou com uma trilha inteira focada somente nela dentro de sua programação.
Dentro dessa trilha, o painel “Desinfluenciando: o futuro da creator economy” se propôs a pensar em como tornar essa economia mais sustentável, visto que há cada vez mais pessoas entrando nessa indústria sem estrutura, sem suporte emocional e sem apoio das próprias plataformas sociais.
Neste contexto, muitos influenciadores e criadores de conteúdo tem enfrentado problemas envolvendo a saúde mental. Graham Nolan, cofundador do Do the WeRQ, trouxe alguns dados alarmantes neste sentido. “Uma pesquisa realizada pela Later descobriu que 43% dos criadores de conteúdo sofrem burnout nas mídias sociais mensalmente ou trimestralmente, e 29% diariamente ou semanalmente”.
Além disso, outro estudo, dessa vez da Sprout Social, descobriu que 63% dos profissionais de mídia social já tiveram ou estão tendo burnout. A pesquisa também descobriu que 42% dos profissionais de marketing planejam parar de trabalhar com mídias sociais nos próximos dois anos.
Um dos fatores que contribui para essa crise pela qual os creators estão passando é a pressão dos algoritmos por resultados, como engajamento e visualizações. “Se meus vídeos não recebem a quantidade de visualizações que eu acho que deveriam receber, então tenho um dia ruim”, disse o Jeff Guenther, terapeuta e ex-influenciador.
Na visão da autora e ex-influenciadora, Lee Tilghman, a parte mais difícil da vida do criador de conteúdo é simplesmente desligar de tudo mentalmente. “É parte de mim que estou colocando na internet e se não vai bem é como ter alguma pessoa te dizendo diretamente ‘eu não gosto de você’”.
Os painelistas enfatizaram que sentem uma falta de apoio e suporte das próprias plataformas. Ao mesmo tempo em que eles as impulsionam, elas podem de uma hora para a hora mudar os algoritmos. “Isso não vai mudar enquanto essas empresas de tecnologia estiverem focadas em lucro e recebendo dinheiro com anúncios. Eles querem que você esteja lá o máximo possível, e que você se torne viciado”, complementou Lee.
Jupiter F. Stone, estrategista multimídia e produtora de vídeo da Aloha Media Projects, concorda com Lee. Para elo, quando o capitalismo entra em ação, a arte pela arte acaba e a criação de conteúdo fica baseada em acordos de marca a patrocínios. Inclusive, atualmente, a maior parte da remuneração dos creators vem desses acordos com marcas e não das próprias plataformas que se beneficiam do trabalho deles.
Com o poder que as marcas têm sobre as plataformas, elas poderiam ser aliadas dos creators nessa luta por maior remuneração e apoio psicológico. “Se houvesse defensores para nós nas marcas, defensores para nós, nas plataformas, e se houvesse muito apoio à saúde mental, seria ótimo”, desabafou Guenther.
Na visão o terapeuta, uma saída para esse problema a sindicalização dos criadores de conteúdo. “Gostaria que houvesse uma comunidade melhor para nós nos apoiarmos mutuamente, gostaria que as plataformas enfatizassem a saúde mental e nos dessem recursos de saúde mental”, complementou, reforçando a ideia de que uma área de recursos humanos para esses talentos seria interessante.
Lee concordou com Guenther, enfatizando que o apoio que algumas plataformas, como o Snapchat, já oferecem para eles não é o suficiente. “Não precisamos necessariamente de recursos online para saúde mental. Na verdade, precisamos uns dos outros”.
A autora também destacou a necessidades dos creators se envolverem mais nas decisões tomadas pelas plataformas envolvendo-os. “Precisamos estar na sala onde isso acontece em cada etapa do caminho, desempenhando um papel consultivo e de solução de problemas”, complementou.
Ainda falando sobre o futuro de creator economy, um dos assuntos que têm despertado a atenção e até gerado preocupação em alguns criadores de conteúdo é a evolução do uso de inteligência artificial generativa no meio criativo. Neste sentido, a pergunta que fica no ar é: “IA vai substituir os creators?”
Esse, inclusive, foi o tema de uma das palestras do South by Southwest deste ano. Nela, Zohar Dayan, vice-presidente sênior de produto do Vimeo, apresentou as mais recentes inovações em vídeo alimentadas por IA e seu impacto na creator economy.
Dayan tem uma visão positiva sobre a relação entre a IA e os criadores de conteúdo. “Ela não irá substituir os humanos, mas, na verdade, aprimorará o que os humanos podem fazer e melhorar todos os aspectos da criatividade e da narrativa”.
Entretanto, o VP enfatizou a importância de os criadores fazerem parte da conversa sobre a integridade e autenticidade de seus conteúdos. “Realmente sermos verdadeiros com os espectadores sobre como esse conteúdo foi criado”, complementou.
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