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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Realidade com jeito de ficção científica

Inovações e previsões apresentadas na SXSW parecem nos transportar para um universo ficcional, com capítulos que estamos escrevendo agora e que, esperamos, nos levem a muitos finais felizes


14 de março de 2025 - 12h26

Quando surgiram os primeiros celulares (aqueles que só falavam com mobilidade e mais nada), muita gente lembrou que a realidade estava imitando a ficção, referindo-se ao comunicador, o aparelho usado pela tripulação da nave da série Star Trek. Pois bem, em muitos momentos dos quatro dias em que minha agenda me permitiu estar no SXSW tive a sensação de que não há ficção científica capaz de imaginar o ritmo alucinante de inovações disruptivas que já são realidade e aquelas que em breve farão parte das nossas vidas.

Computadores feitos de neurônios humanos, máquinas e entidades biológicas conectadas, IAs interagindo entre si sem intervenção humana, IAs integrando a parte física (comportamentos, emoções etc.), ecossistemas convergindo IA, biotecnologia e sensores avançados…

Enquanto palestrantes falavam sobre esse fascinante mundo novo, minha mente viajava pensando nos reflexos para a saúde.

A biologia generativa, capaz de predizer a estrutura molecular biológica, quebrará limitações em pesquisa e desenvolvimento, acelerando estudos para a descoberta de novos tratamentos e medicamentos.

Organoides cerebrais, minicérebros criados em laboratório, têm aberto um novo campo de pesquisas sobre como o cérebro humano funciona, o que deverá permitir, por exemplo, novas formas de tratar traumas ou doenças neurodegenerativas.

Os metamateriais biológicos gerados a partir de IA, como tijolos flexíveis para construções em localidades onde ocorrem terremotos ou materiais capazes de reduzir a pegada de carbono, podem ser aliados do planejamento urbano e de infraestruturas mais resilientes para termos cidades mais sustentáveis, saudáveis e bem-preparadas para lidar com as mudanças climáticas e seus impactos na vida das pessoas.

O Sonic Santuary, que permite “limpar” a poluição sonora de áreas públicas, pode ser uma benção para nossos ouvidos, mas pode ser também um manipulador de emoções despertadas pelo som.

Wearebles implantados dentro das células (e não como sensores colocados na pele como os que temos hoje para monitorar o sono, os batimentos cardíacos, a glicemia e várias outras funcionalidades) significarão uma nova fronteira de avanços para uma medicina cada vez mais personalizada.

Depois da cannabis como medicamento ou liberada em vários países para uso recreativo, os psicodélicos seguem desbravando horizontes para novos tratamentos e cuidados da saúde mental.

Não estive em nenhuma sessão sobre exploração espacial, mas, se tivesse tido a oportunidade, certamente estaria imaginando os sistemas de saúde em futuras colônias na Lua ou em Marte.

O SXSW produz em nós algo como os ventos poderosos que transportaram a menina Dorothy, personagem de O Mágico de Oz, da cinzenta Kansas para um mundo colorido e vibrante. No entanto, nesse estonteante universo de inovações, temos de encarar pelo menos duas frentes

de desafios. A primeira é tentar vislumbrar o futuro para fazer escolhas e participar da construção desse futuro de progressos, para não sermos pegos despreparados ou perdermos o bonde da história. Um caso exemplar é o da telemedicina no Brasil. O Einstein vislumbrou muito antes o potencial dessa tecnologia e lançou sua plataforma em 2012, quando uma lei obsoleta ainda proibia teleconsultas diretas ao paciente. O contato só podia ser feito com um médico de cada lado. Quando veio a pandemia em 2020, era a única instituição com uma plataforma robusta para o atendimento de pacientes a distância. As teleconsultas acabaram liberadas provisoriamente durante a crise sanitária e depois definitivamente. A telemedicina explodiu, ampliou o acesso à saúde e a cuidados mais igualitários, promovendo a equidade. E soluções baseadas em big data, IA e outros recursos digitais seguem fazendo a mesma coisa, a bordo de projetos transformadores da saúde.

A segunda frente de desafios diz respeito a questões éticas e aos riscos de uso dessas novas tecnologias para o mal ou para interesses pessoais ou corporativos nada nobres. Em Oz, como Dorothy acaba por descobrir, também existem bruxas com intenções malévolas. E no nosso “Oz” de inovações elas também podem estar à espreita. Assim, precisamos dispor de regulações eficientes e mecanismos para combater o lado sombrio da “Força”, para usar a simbologia da ficção cientifica Star Wars.

Felizmente, desbravar o lado luminoso dessas novas fronteiras tecnológicas e de inovação não depende de heróis ficcionais. Depende apenas de seres humanos fazendo as melhores escolhas, vislumbrando o melhor futuro que podemos construir para a humanidade.

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