Reciclagem e descarbonização são desafios para a sustentabilidade
Painéis sobre sustentabilidade no SXSW 2024 disuctem falta de dados para redução da pegada de carbono e de engajamento público, político e empresarial em prol da reciclagem
Painéis sobre sustentabilidade no SXSW 2024 disuctem falta de dados para redução da pegada de carbono e de engajamento público, político e empresarial em prol da reciclagem
Thaís Monteiro
15 de março de 2024 - 9h50
Desde 2022, o South by Southwest conta com uma trilha que visa abordar a sustentabilidade. Nessas discussões, algumas questões se sobrepõem, como desafios relacionados à redução da pegada de carbono na cadeia de produção e a reciclagem do plástico, que é feita com apenas 10% do plástico mundial.
No painel “Industry Alignment: The Key to Product Decarbonization”, o co-fundador e CEO da Optera, Tim Weiss, explicou que há três níveis de emissões na cadeia de produção. O scope 1 (uso de combustíveis fósseis) e 2 (gasto elétrico) se referem a emissões diretamente relacionadas a cada empresa. Esses são mensuráveis. Já o scope 3 diz respeito às emissões de parceiros terceiros de cada empresa, ou seja, envolve a cadeia de suprimentos. Como tais parceiros não necessariamente mensuram suas emissões, há um gap de dados que poderiam ajudar as companhias a reduzirem seus danos ao meio ambiente.
Segundo Weiss, as empresas estão atentas, têm medo de suas ações serem interpretadas como greenwashing, mas a falta de dados trabalha contra a redução das emissões. “Descarbonizar tudo que as empresas tocam e influenciam é um desafio, porque não tem informação. Primeiro, você precisa desses dados para mudar a agulha”, pontuou. Soma-se a esse desafio a falta de soluções sustentáveis que, embora em desenvolvimento, podem levar anos para serem lançadas e apresentam custos de investimento mais altos.
Também integrou esse painel o VP de sustentabilidade corporativa da Lowe’s Companies, Chris Cassell, que afirmou que apenas 1% de toda a emissão de carbono da Lowe’s se refere a emissões diretas da empresa, ou seja, o scope 1 e 2. “Por muito tempo fizemos desculpas. As pessoas falam ‘Meu scope 3 é o scope 1 e 2 de outra empresa’ como forma de fugir da responsabilidade”, disse.
Como solução, a Lowe’s busca se alinhar a empresas que fornecem dados sobre emissões e demais índices relacionados à sustentabilidade. Além disso, a empresa se juntou a um movimento pela maior obtenção de dados sobre a cadeia produtiva com a Optera. A Optera e a Retail Industry Leaders Association (RILA) criaram a base de dados Direct-Use Product Emissions Database (DPED) para encontrar gaps nos dados e estabelecer como os varejistas podem diminuir suas emissões de terceiros.
O representante da Lowe’s acredita que esse esforço vai economizar tempo para o time de sustentabilidade, que frequentemente passa muito tempo calculando e examinando relatórios de dados.
“Se todos os varejistas pressionarem seus parceiros de produção a estabelecer mensuração, podemos pressionar para ter esses dados”, propôs Cassell. “O objetivo é trabalhar com fornecedores e ter dados para ajudar nós varejistas a fazer produtos melhores na prateleira. Se as pessoas têm o conhecimento e atribuem valor, vai trazer mudanças nas compras”, complementou.
Como um dos materiais sólidos com maior tempo de decomposição, o plástico virou um dos obstáculos da reciclagem de materiais. Cerca de 90% do plástico mundial não é reciclado.
Segundo a CEO da iniciativa The Recycling Partnership, Keefe Harrison, os consumidores têm muitas dúvidas e desconfianças sobre a reciclagem. Muitos não sabem o que é reciclável e outros não confiam que o material que estão reciclando irá, de fato, ter um destino. Isso faz com que o engajamento em prol da sustentabilidade caminhe a passos mais lentos.
A executiva critica as empresas que colocam selos relacionados à sustentabilidade. “O design tem responsabilidade em promover a sustentabilidade, ajudar as pessoas a reciclarem”, argumentou.
O desafio da Alterra, empresa que trabalha para transformar o plástico em seu componente bruto para ser reutilizado, é fazer com que o público passe a dar valor para o seu lixo e, assim, estimular a reciclagem e economia circular.
“Há alguns tipos de plásticos que são difíceis de reciclar, mas todos têm valor. Nós tentamos colocar isso no mercado. Fazer as pessoas ligarem o suficiente para separar o lixo. Educar a todos faz diferença. Precisamos fazer as indústrias criarem infraestruturas para reciclar mais, mas nós também tomamos uma decisão individual diária de onde vou jogar meu lixo”, afirmou o presidente da empresa, Jeremy DeBenedictis.
Representando a indústria de bens de consumo, Ken Laverdure, que é parte do time de sustentabilidade da Estee Lauder Companies, relatou as dificuldades de produzir e incentivar a reciclagem. Segundo ele, a empresa tem que procurar materiais que interagem bem com as fórmulas químicas do produto, se adequar às legislações e regras sobre embalagens, torná-las suficientemente atrativas para o consumidor e criar programas de reciclagem, mas nada disso funciona se o consumidor não se engajar nessa missão conjunta. “Temos pontos de coleta e de troca, mas o consumidor tem que se motivar a ir lá”, disse.
DeBenedictis criticou as empresas que repassam o custo da sustentabilidade e pagamento de taxas e impostos ligados ao tema para o bolso do consumidor. Keefe defende que devem haver políticas públicas mais efetivas sobre o tema. “Não deveria ser uma escolha do público e sim um serviço público”, disse. “Precisamos de soluções que se equivalem ao tamanho do problema”, pontuou.
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