Seja um realista esperançoso
A mensagem unânime dos painéis do SXSW de encerramento foi clara: é urgente agir para garantir um futuro melhor
A mensagem unânime dos painéis do SXSW de encerramento foi clara: é urgente agir para garantir um futuro melhor
18 de março de 2024 - 10h03
Urgência e paixão foram os sentimentos dominantes de algumas das palestras que arremataram a programação da edição 2024 do SXSW. Acompanhei “Hollywood Activism: Insights from Jane Fonda, David Fenton and Sweta Chakraborty” e “Death of the Follower & the Future of Creativity on the Web”, com Jack Conte, CEO da Patreon, uma das principais patrocinadoras do evento. Além de claramente apaixonados pelos temas discutidos, os palestrantes invocaram o senso de urgência da audiência diante do cenário atual, onde a desinformação e o poder das grandes corporações exercem uma influência cada vez mais dominante.
O painel liderado por Jane Fonda e David Fenton sobre crise climática evidenciou como a desinformação tem sido uma ferramenta poderosa nas mãos daqueles que são responsáveis pela crise ambiental, como a indústria de combustíveis fósseis. Apesar da crescente preocupação da população, muitos se sentem confusos e desamparados diante da magnitude do problema. Além da persistente desinformação e a falta de educação pública sobre os temas ambientais, Fenton apontou o fato de as narrativas muitas vezes serem mal contadas pela mídia tradicional, enquanto muitas plataformas falham em cumprir sua responsabilidade de educar e simplificar informações complexas. Nesse contexto, é fundamental reconhecer que, mesmo que a mídia tradicional insista em apresentar “os dois lados” de uma história, no caso das mudanças climáticas, a ciência é clara e unânime. Grandes empresas investem para moldar as narrativas que nos alcançam como, por exemplo, o conceito de “Carbon Footprint”, criado pela British Petroleum, que busca redirecionar a responsabilidade das mudanças climáticas aos indivíduos, obscurecendo o papel das corporações.
Fonda e Fenton exaltaram o uso da criatividade como ferramenta para que as comunidades sejam informadas sobre a real situação climática, de forma leve e descomplicada. A formação de comunidades engajadas também estimula o senso de pertencimento, o que ajuda inclusive em questões de saúde mental: Jane Fonda ressaltou sua própria participação em organizações, destacando que mesmo uma pessoa famosa reconhece a importância da ação coletiva por questões de segurança e por encontrar pessoas com os mesmos valores e, assim, se sentir menos depressiva.
No entanto, as grandes corporações e estruturas patriarcais muitas vezes buscam minar esse senso de comunidade e o poder de pessoas de se reunirem em torno de um mesmo propósito. E isso não é de hoje. O governo Reagan foi citado como o marco de uma mentalidade contra a união popular, assim como Margaret Thatcher e sua antológica frase – “Não existe essa coisa chamada sociedade” – refletindo uma mentalidade que permeia muitos setores até hoje.
O mesmo se dá atualmente nas redes sociais, que começaram como ferramentas para unir pessoas e amplificar vozes comuns. Hugo Forrest, chief programming officer do SXSW, que abriu o painel da última sessão do evento, “Death of the Follower & the Future of Creativity onthe Web”, de Jack Conte, afirmou que o SXSW 2025 deve abordar majoritariamente a AI e suas possibilidades, mas enfatizou seus receios em relação a tecnologia caso ela não seja regulada. Logo em seguida, o CEO da Pantreon, em sua análise sobre a evolução das redes sociais, ressaltou como essas plataformas, inicialmente concebidas como espaços para a criatividade e a conexão humana, estão cada vez mais dominadas por algoritmos e interesses corporativos. “Se inicialmente as redes sociais eram um espaço para os criativos compartilharem suas artes e formarem comunidades, hoje vemos uma mudança em direção ao controle exercido pelos algoritmos e plataformas. O TikTok, por exemplo, está mais preocupado em criar feeds engajados do que em promover a formação de comunidades autênticas”, disse Conte.
Entretanto, assim como Jane Fonda, Conte acredita que temos ferramentas para mudar o cenário atual, apontando três formas de resistirmos a esse controle: investir na base de verdadeiros fãs, criar conteúdo autêntico e cultivar a lealdade. E que tudo isso pode ser feito através de outras plataformas que valorizam o trabalho do creator e garantem que os fãs interajam e recebam o conteúdo daqueles que admiram.
A mensagem unânime dos painéis do SXSW de encerramento foi clara: é urgente agir para garantir um futuro melhor. Ou, como bem disse Jane Fonda, “Don’t go for hope, go for action” (Não recorra à esperança, recorra à ação”.
Compartilhe
Veja também
SXSW 2025 anuncia mais de 450 sessões
Pertencimento e conexão humana estão entre os principais temas da programação do evento, que conta com 23 trilhas de conteúdo
SXSW 2025 terá Douglas Rushkoff, Amy Webb, John Maeda, entre outros
39ª edição do South by Southwest apresenta uma mescla entre veteranos e estreantes em sua grade de programação, composta por 23 trilhas