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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Silicon Hills: como Austin se transformou nos últimos anos

Conhecida como o novo Vale do Silício, a capital do Texas atraiu big techs, mas reduziu sua estranheza e veia artística


14 de março de 2025 - 11h33

Austin

(Crédito: Tico Mendoza)

Se o South by Southwest viveu transformações intensas nos últimos anos, a cidade sede, Austin, pode dizer o mesmo. Em 2000, a população da capital somava 911 mil. Hoje, ela é composta por 2,3 milhões de habitantes.

Austin é a cidade com a área metropolitana que cresce mais rápido nos Estados Unidos. Ela também se tornou sede para grandes empresas de tecnologia, o que lhe rendeu o apelido de Silicon Hills, uma brincadeira em referência ao Vale do Silício.

As mudanças começaram na década de 1980, quando Austin foi escolhida pelo governo americano para sediar o Microelectronics and Computer Consortium, uma iniciativa que visava manter os Estados Unidos à frente no desenvolvimento de computadores e de inteligência artificial, por nutrir uma boa qualidade de vida, a custo mais acessível. A cidade já era sede para a IBM e Motorola, mas a criação do MCC voltou os holofotes para a capital. Em 1984, Michael Dell fundava a Dell.

Atualmente, Amazon, Apple, Alphabet, Intel, PayPal, Oracle, Visa e outras tantas empresas possuem escritórios em Austin. Em 2022, Elon Musk tornou sua fábrica de 8,5km² a sede global da Tesla. Em janeiro, Mark Zuckerberg anunciou que o time de moderação de conteúdo da Meta mudará para Austin.

“Austin se tornou o centro da pior parte. Você sabe que alguém virou para o lado negro quando eles mudam sua empresa para Austin”, critica o autor e teórico da mídia, Douglas Rushkoff.

O centro da cidade, antes povoado de áreas abertas, deu lugar a prédios altos e espelhados, tornando Downtown um espaço corporativo e de hotéis luxuosos. “Há 15 anos, havia todo esse espaço livre para que as pessoas fizessem todas essas coisas malucas. Agora há um hotel em cada um desses espaços. Isso impactou negativamente parte da serendipidade”, divide a futurista e CEO do Future Today Institute, Amy Webb.

A vibrante cena artística também sofreu o baque. “Há uma tensão entre arte e tecnologia. À medida que novas tecnologias e novo dinheiro fluíram para Austin, e a cidade se tornou mais cara, ficou mais difícil para os artistas permanecerem nas localizações centrais. É meio que um processo de gentrificação”, avalia o ativista e professor no Union Theological Seminary, Simran Singh.

As mudanças culminaram em uma migração em massa para a cidade, mas também na fuga de locais que disputam as altas taxas e aluguéis com novos habitantes. O custo de vida aumentou, assim como a quantidade de bilionários residentes, lojas de luxo, o trânsito e a criminalidade.

“Durante a pandemia, Austin sofreu um boom imobiliario com muitas empresas se mudando para cá e consequentemente muitas pessoas de outros estados na expectativa de melhor qualidade de vida com custo de vida mais baixo, só que esse boom acabou revertendo essa característica”, relata o residente e especialista em suporte de canal digital do consumidor da Apple, Ary Filgueiras.

O executivo se mudou da California para Austin em busca da efervescência tecnológica e maiores chances de se tornar cidadão americano. Segundo Filgueiras, esse boom imobiliário e as consequências para o custo de vida da cidade fez com que houvesse mais pessoas saindo de Austin do que novos moradores.

Um dos maiores eventos da capital do Texas, em 2024, o SXSW gerou US$ 377 milhões na economia de Austin. O recorde, no entanto, aconteceu em 2023 (US$ 381 milhões). Para o executivo, o festival divulgou a cidade para o mundo e, hoje, ela é vista como grande centro de inovação. “Acredito que as inovações que virão nos próximos 109 anos sairão daqui de Austin assim como foi no Vale do Silicio. E por isso a cidade é agora chamada de Silicon Hill”, diz.

Para Filgueiras, o evento é rico em conteúdo, mas também em experiências culturais. Ele permite, em uma semana, que o público entre em contato com ativações de marcas, shows, cinema, teatro e com grandes inovações surgindo de grandes empresas ou pequenas startups.

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