No SXSW, startups brasileiras exportam humanidade
Finalistas do Pitch e do Innovation Awards focam no desenvolvimento sustentável, de lideranças e da educação para o futuro
Finalistas do Pitch e do Innovation Awards focam no desenvolvimento sustentável, de lideranças e da educação para o futuro
Thaís Monteiro
10 de março de 2023 - 12h33
No final dos anos 2000, o South by Southwest passou a dar mais ênfase ao lado de pequenos negócios da conferência. O intuito era criar um ambiente para troca de ideias, network com investidores em potencial e ganhar visibilidade para seus negócios já que a organização passou a ver potencial inovador e disruptivo ligado a startups, sobretudo aquelas da indústria de tecnologia.
Assim, em 2009, o SXSW lançou o Pitch, uma competição para startups apresentarem seus serviços e produtos para juízes e para uma audiência e, em 2013, lançou o Innovation Awards, voltado a celebrar produtos, serviços e experiências inovadoras em diferentes categorias, como mobile, redes sociais, música, entretenimento e outros.
Este ano, há duas startups brasileiras no Pitch e outra no Innovation Awards. Em comum, todas apresentam uma perspectiva de futuro focado no desenvolvimento humano ou no protagonismo dele em questões relativas ao presente e futuro.
“Uma das razões é que vivemos uma ressaca da primeira grande promessa em tecnologia. Dez anos atrás, tivemos a frase do “software vai resolver tudo”. O mundo viveu 10 a 15 anos com isso e os problemas não se resolveram. Nós nos tornamos mais conscientes dos problemas humanos. Vimos tecnologia com problemas de comunicação e o lado humano voltou a ser pauta porque ele é o futuro e a inovação”, justifica Airam Corrêa, co-presidente da Lyga, finalista do Pitch na categoria Futuro do Trabalho
Único representante da América Latina no Innovation Awards, o Educbank é uma fintech fundada em 2020 e cuja proposta é apoiar financeiramente escolas de educação básica. A startup também esteve presente no Web Summit de 2022 convidada a palestrar sobre o setor. A empresa é finalista da categoria Impacto Social.
Setor esse que o fundador, Danilo Costa, classifica como resistente ao se tratar de inovação. “Culturalmente, a inovação é nosso DNA. Pagamos um preço alto por isso num setor em que inovação tem resistência quando é um nicho apegado às tradições. Ninguém quer o novo porque se apega ao que já funciona. É um setor que tem que ter responsabilidade nos projetos. Encontramos nesses eventos um lugar de fala”, explica mencionando a presença em festivais internacionais de inovação.
Há, ainda, dificuldades relacionadas a entraves regulatórios, culturais e institucionais para dar vazão a inovação. Para isso, o Educbank segue uma estratégia de construir segurança institucional, centralização da escola em todos os processos e comunicação transparente para minimizar dúvidas.
Para Costa, o futuro da educação terá um enfoque especial na educação básica, formação de habilidade e competências atemporais. “Nada adianta se a educação básica não for boa. As próximas camadas dificilmente vão conseguir curar essa defasagem”, diz.
Segundo o executivo, a empresa se inscreve em diversos festivais para levantar a bandeira da educação básica e mostrar que é possível inovar dentro da área e da América Latina.
A AMA – Agentes do Meio Ambiente é uma plataforma social e que empodera cidadãos comuns para serem líderes de sua comunidade em relação a coleta de lixo e limpezas nas ruas, principalmente em bairros afastados que não são cobertos pelos serviços da prefeitura. Na plataforma, a empresa propõe desafios e informações que tem relação com sustentabilidade e os usuários podem trocar entre eles publicando coisas no feed e interagindo com a própria empresa. O intuito é fomentar senso de pertencimento e responsabilidade. “É uma comunidade de pessoas que ajudam a limpar o planeta e multiplicar comportamentos sustentáveis”, coloca o fundador e CEO, Marcelo Crivano. O serviço funciona em parceria com prefeituras. No SXSW, ele é finalista em Cidades Inteligentes, Transporte e Sustentabilidade.
Para o executivo, o diferencial da AMA está no humano enquanto tecnologia em potencial descartando máquinas ou o metaverso. “Eu trabalho com lixo há 20 anos. Visitei empresas do mundo inteiro, comprei máquinas, mas nunca deu certo. O que nós temos são pessoas. Estudamos o dia a dia do gari que se sentia isolado socialmente e entendemos que talvez o gari deva limpar ao envolta da casa dele ao invés de circular a cidade. Quando fazemos esse movimento, ele deixa de ser gari para ser líder da sua comunidade. E enquanto líder ele começa a conhecer melhor o bairro e as pessoas e seus trabalhos paralelos podem crescer”, explica. Há, ainda, a integração com o comércio local caso eles instalem pontos de coleta voluntária em suas lojas, entre outros.
Ao ser questionado pelo próprio SXSW qual seria o plano da empresa para trazer o serviço para os Estados Unidos, Criviano notou que o mercado do país é maior que o Brasileiro pois já iniciativas públicas em relação a coleta que envolvem a comunidade. Independentemente do mercado americano representar uma oportunidade grande, a AMA ainda quer expandir para outras cidades brasileiras, mas sempre em mente que cada cidade tem suas especificidades e não é possível tratar de forma genérica.
Confira as ativações de marcas do SXSW 2023
Assim como Educbank, uma das motivações da Lyga em vir ao SXSW é a possibilidade de exportar conhecimento sobre o que o brasileiro pensa sobre o futuro do trabalho e uma metodologia cujo intuito é formar jovens para serem os líderes do futuro.
Segundo Luciano Albuquerque, co-fundador e CEO da Lyga, no futuro, as relações de trabalho serão mais profundas e a liderança será a parte responsável por estabelecer diálogos, criar boas experiências para o time, tomar decisões e criar uma relação harmoniosa com o planeta. Atualmente, a Lyga trabalha oferecendo conteúdo e ferramentas para grandes empresas, que, por sua vez, irão repassar esse conteúdo aos jovens. No futuro, a Lyga irá expandir seu atendimento para starups e empresas de pequeno e médio porte. A expansão também é territorial. A empresa já realiza projetos para fora para empresas que são multinacionais e tem sede no Brasil, mas estuda exportar seu conhecimento para demais regiões da América Latina e, posteriormente, Europa ou Ásia.
“As empresas têm poucas respostas para lidar com a juventude. Elas sempre tiveram a necessidade de uma tecla SAP, mas, na verdade, é sempre uma relação que precisa de muito diálogo. A Lyga surgiu para resolver o desafio de desenvolver juventudes que criem espaços positivos dentro das empresas e que pensem num futuro mais saudável”, pontua o executivo.
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