SXSW 2023 foi menos tecnológica e mais humana
A melhor forma para se preparar para o futuro é cuidar do presente e das relações humanas
A melhor forma para se preparar para o futuro é cuidar do presente e das relações humanas
24 de março de 2023 - 17h01
O SXSW 2023 terminou há poucos dias, mas os pensamentos e reflexões da experiência seguem a milhão por aqui. Acho que a mais importante delas – e o que mais me marcou – é quão diferente foi essa edição comparando com a do ano passado.
Também estive na SXSW 2022 e as conversas eram muito sobre como o futuro vai ser. Neste ano, presenciei mais discussões sobre o presente, como as coisas estão acontecendo e nós precisamos agir agora.
E é sobre isso que quero focar nesse texto.
Ao meu ver, o grande aprendizado que a SXSW quis deixar neste ano é: precisamos agir agora, tanto para capturar oportunidades quanto para evitar que novas tecnologias se tornem potenciais perigos para o futuro.
A tecnologia está em constante evolução, mudança. Hoje mesmo, a conversa é sobre Inteligência Artificial, principalmente ChatGPT, mas existem tantas outras surgindo. Como podemos olhar para isso e tomar medidas e criar regulamentações ou normas para nos proteger delas?
Para além de formular as regulamentações, temos de nos perguntar quem são as pessoas que tomam essas decisões? Qual a diversidade desses grupos? A resposta não surpreende: homens brancos do norte ocidental.
Além disso, temos que pensar que tecnologias de alto impacto social estão nas mãos de desenvolvedores. Foi um pouco assustador, por exemplo, assistir a entrevista de Greg Brockman e perceber que é alguém extremamente técnico, com muita dificuldade de comunicação e respostas muito superficiais para questões mais complexas.
Contudo, vi muitos debates sobre o agir hoje, é o que eu levo de mais relevante dessas últimas duas edições e acho que posso resumir tudo com uma simples frase: O futuro é o resultado das decisões que a gente toma hoje.
Por isso, precisamos cuidar da intenção que colocamos nas ações de hoje. As novas tecnologias já estão aí e não se trata de evitá-las. Se a gente não for intencional, estaremos à mercê de um futuro não planejado, o que pode resultar em uma grande frustração.
Outro aspecto que quero ressaltar da edição deste ano é que as conversas sobre tecnologias que vão surgir diminuíram para dar espaço para falar de pessoas, como comentei no artigo sobre a reconexão com a humanidade.
Atualmente discutimos muitos aspectos tecnológicos, mas os desafios que teremos para viver nesse novo ambiente, nesse novo mercado, com tecnologias muito mais inteligentes, serão de ordem humana. E a verdade é que estamos regredindo em muitas das nossas habilidades humanas à medida que a máquina vai ficando cada vez mais inteligente.
A conexão com o outro, olhar de maneira mais intensa para a diversidade, entender como conviver e possibilitar as existências plurais… estamos falhando nisso. Inclusive, um ponto que acho que demanda atenção hoje para não virar uma situação muito pior no futuro é o burnout.
Empatia e sensibilidade são as competências da vez, existe um paradoxo para administrar. Ao mesmo tempo que as pessoas estão carecendo de maior conexão umas com as outras, a discussão binária entre modelos de trabalho nada agrega. Precisamos concentrar nossa atenção na saúde das pessoas e o que vai fazer cada ambiente ser mais ou menos saudável passa por uma quantidade enorme de questões, onde uma delas é o balanço entre presencial e remoto.
Se tivermos empatia, cuidado e um olhar mais humano, a gente pode encontrar um bom balanço entre o trabalho remoto e a promoção de conexões verdadeiras presenciais entre as pessoas.
A humanidade foi destaque na SXSW, mas além disso, muito se falou sobre a empatia como um ativo estratégico nas empresas, seja para cuidar dos colaboradores, seja para o desenvolvimento de produtos para populações que são costumeiramente negligenciadas.
Mesmo sendo um evento relevante, nem tudo é perfeito no SXSW. É claro que as ideias e conteúdos ali são relevantes e valiosos, mas muitos veem como fonte única de referência e conhecimento.
O ambiente ali ainda se baseia na cabeça do norte ocidental e, quando pensamos no futuro de cara nova, é preciso expandir. A reflexão que tenho e quero compartilhar é: como que a gente valoriza mais os conhecimentos, os saberes e as potências que existem fora dessa bolha?
Minha percepção é que foi uma SXSW menos inovadora e parte do motivo disso está ligado ao fato do mundo estar muito mais conectado e as informações se disseminam muito rápido. Basta ver que o ChatGPT bateu 1MM de usuários em 5 dias.
Por outro lado existe um conhecimento enorme que não é acessado hoje porque ficam restritos às comunidades locais. Podemos aprender estando mais conectadas com outras realidades e aprendendo com a pluralidade, nos permitir romper com o paradigma de que só tem conhecimento no norte ocidental, entender que os grandes saberes não vêm só de Harvard e do MIT, e que dá para você aprender com a favela, dá para você aprender com a pessoa que está do seu lado.
E minha crítica é: dá para explorar outros tipos de olhares na SXSW também: são 5000 mil painéis (entrevistas, debates etc.) que acontecem em 9 dias. Você escolhe o que vai ver e, com isso, pode escolher também dar uma cara nova para o futuro.
Quem escolheu ver os mesmos homens brancos falando das mesmas coisas de sempre… perdeu muito, porque existiam tantas outras possibilidades. Eu mesmo fui em vários painéis que eram 100% de mulheres ou de mulheres negras que traziam outras perspectivas, outras críticas.
Isso não quer dizer que os conteúdos não tinham valor, mas sim que a cara nova do futuro vai exigir uma capacidade crítica muito maior nossa, para saber:
Olhar e aprender nos lugares menos óbvios
Desafiar o status quo
Sair da normatização e da universalização e se permitir navegar em ambientes mais plurais, contraditórios, paradoxais (porque o mundo cada vez mais será esse ambiente repleto de dilemas)
Portanto, essa inteligência que é, em grande parte, emocional é o que fica como o grande desafio e é o eu trago pra esse ano pós a minha experiência na SXSW.
E quais foram os maiores aprendizados e desafios da SXSW 2023 para você?
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