DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

SXSW 2024: do susto ao salto à distância para um futuro tecnológico e mais inclusivo para as mulheres

Não é à toa que em 2024 a IA ganha uma trilha específica e isso por si só já captura muito das minhas atenção e empolgação para o evento


5 de março de 2024 - 16h52

Às vésperas de embarcar para Austin mais uma vez, me conecto comigo mesma há um ano, ou seja, em março de 2023, na semana logo após o meu retorno do SXSW. Eu voltei assustada. A frase que mais me marcou no evento foi a de William Whurley, uma das principais referências do planeta em computação quântica e fundador da Strangeworks — uma startup empenhada em deixar essa nova tecnologia acessível a todos. “Juntas, a computação quântica e a inteligência artificial vão produzir mais transformações nos próximos sete anos do que vimos em toda nossa existência”, ele disse na ocasião. Um ano depois, eu e todo mundo tem plena certeza de que ele não exagerou.

Não é à toa que em 2024 a IA ganha uma trilha específica e isso por si só já captura muito das minhas atenção e empolgação para o evento. De março de 2023 para cá, IA e IA generativa tomaram conta de boa parte da minha agenda, como prever impactos, reimaginar o futuro, exercitar o presente, capturar e medir resultados, ou seja, tudo muito intenso, veloz e real. O que mais me empolga em embarcar novamente para o SXSW 2024 é a chance de enriquecer o repertório para esse processo em que somos atores e protagonistas em potencial.

É por isso que em 2024 dentre as mais de 1000 palestras e painéis, farei questão de assistir três que para mim são talks imperdíveis e irão valer toda a espera nas filas.

O primeiro bate-papo é o de Ray Kurzweil, que é uma figura icônica no mundo da tecnologia e da inovação, nada mais nada menos que o principal pesquisador e visionário de IA do Google. Suas previsões sobre o futuro da área, da computação e como essas tecnologias influenciam e moldam a nossa vida são surpreendentemente precisas. Kurzweil não apenas entende as tecnologias existentes, mas também tem uma visão profunda e abrangente sobre como elas evoluirão e nos impactarão. Vou ouvir a sua fala com a expectativa de ampliar horizontes, sair com reflexões profundas e provocada para interagir com as inovações que definirão o amanhã.

A segunda roda de conversas será a entrevista de Scott Galloway à jornalista de tecnologia Kara Swisher do The New York Times. Galloway é professor da NYU Stern School of Business, autor e empreendedor conhecido por sua franqueza, seus insights profundos sobre tecnologia, marketing e economia, e famoso pela sua capacidade de decifrar tendências complexas e prever transformações no mercado. Sou sua fã, li seus livros The Four e A Álgebra da Felicidade e acompanho a sua newsletter semanal. No cenário atual, onde a IA está remodelando indústrias e comportamentos sociais, não dá para perder a chance de ouvir a perspectiva de Galloway sobre como as empresas e os indivíduos podem navegar neste novo terreno. Ele tem um olhar super crítico sobre o impacto da tecnologia na sociedade, na economia e na educação, além dos desafios e das oportunidades que surgem a partir disso. É franco, pragmático e embala tudo com sua visão de mundo que é um mix de humor ácido e sabedoria de um pensador com vivência e espiritualidade maduras.

A terceira talk é uma das mais tem me deixado ansiosa, pois será a oportunidade de acompanhar a conversa com a Dra. Joy Buolamwini, que é uma referência como mulher negra no campo da tecnologia. Conhecida pelo seu trabalho em algoritmos de reconhecimento facial e pela sua luta contra os vieses de gênero e raça incorporados neles, Joy é fundadora da Algorithmic Justice League, autora do best-seller norte- americano Unmasking AI: My Mission to Protect What Is Human in a World of Machines e a sua pesquisa no MIT sobre tecnologias de reconhecimento facial deu origem ao documentário da Netflix Coded Bias (2020) que investiga o viés racista e machista da inteligência artificial por trás dos algoritmos de reconhecimento facial.. Coded Bias mostra como Joy percebeu o problema no reconhecimento facial: em uma tarefa no MIT Media Lab, o seu rosto não foi reconhecido por um dispositivo de IA até que ela colocou uma máscara branca e o sistema conseguiu detectar. Ao longo da produção audiovisual, a sua pesquisa avança e constata que os programas de IA são treinados para identificar padrões baseados em um conjunto de dados de homens brancos, tendo dificuldades de reconhecer com precisão faces femininas ou negras.

Para mim, que sou uma líder mulher em tecnologia, mãe de uma menina de 10 anos e outra de 14, engajada no movimento de busca por equidade de gênero em toda a sociedade, a atenção em torno da consciência sobre viés e inclusão e como corrigir os problemas em sistemas de IA é um tema crítico. A nossa curiosidade precisa estar não só em como compreender e desenvolver mais tecnologia para geração de poder econômico, mas deve estar, na mesma proporção, na atenção e no esforço em que devemos aprender a desenvolver tecnologias de maneira ética e inclusiva, o que é essencial para garantir que as inovações beneficiem toda a humanidade, sem perpetuar desigualdades existentes ou introduzir novas formas de discriminação.

Sem sombra de dúvidas, de março de 2023 a março de 2024 minha consciência sobre IA e IA generativa foi do susto a um grande pulo e a minha intuição me diz que, em duas semanas, isso pode ganhar parâmetros de novo recorde de consciência mental: um salto à distância em relação ao futuro e à inclusão cada vez maior de mulheres nessa área.

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