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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

SXSW: não é sobre isso. Esquece o PLAY!

Não tem como você chegar de exAUSTIN (sim, você chega num grau de exaustão que só Austin proporciona) com um botão de PLAY para apertar


19 de março de 2024 - 15h57

Cada vez que me comentam sobre a vontade de colocar rápido os aprendizados do South by Southwest (SXSW) em prática, eu arregalo os olhos enquanto penso “não é sobre isso”. E olha que eu demorei alguns festivais para acalmar minha alma ansiosa e aprender a valorizar a decantação do novo. Não tem como (perdoem-me os seres elevados que me contrariam) você chegar de exAUSTIN (sim, você chega num grau de exaustão que só Austin proporciona) com um botão de PLAY para apertar. Não é sobre isso.

No grupo de 138 pessoas que levamos na expedição [EXP+PROS], da Agência PROS + Experience Club, estavam líderes de diversas áreas, com seus momentos de vida específicos, suas respectivas jornadas, buscas e vazios. O SX não preenche espaços, mas ele permite que você se afaste da rotina e das suas certezas e te coloca num lugar desconfortável, desafiador, de absorção e cheio de sinapses diferentes.

Não é sobre querer seguir à risca o plano de palestras feito antes de chegar ao Festival. Não é sobre reclamar das filas intermináveis ou se queixar da falta de comidas no Centro de Convenções. Não é sobre isso. É sobre se permitir desconectar para reconectar. Piegas? Um pouco, mas igualmente difícil e potente. Aliás, esse foi o tema das conversas entre a belga-americana especialista em relacionamentos modernos Esther Perrel, apresentadora do podcast “Where Should We Begin?” com o humorista Trevor Noah. Ele falou da importância dos momentos “off the record” e Perrel trouxe o conceito de “perda ambígua”, destacando a desconexão que surge quando a presença é ofuscada pelos celulares que atravessam nossas conversas cotidianas.

A aceleração das tecnologias, elevada à enésima potência pela Inteligência Artificial, tem desafiado a gente a tentar dar conta de tudo e de todos. O resultado? Uma epidemia de ansiedade e crise de solidão. Isso mesmo: “uma solidão crônica, disfarçada de hiper conectividade”, como disse a pesquisadora de vulnerabilidade Brené Brown, líder do podcast “Unloking Us”. E Esther Perrel completou. Pausa: sim, Esther Perrel e Brené Brown dividiram o mesmo palco nessa edição, para delírio das 600 pessoas que conseguiram as pulseirinhas de acesso à sala. Retomando, Perrel disse: “Os celulares nos colocam em contato com quem está longe e nos aproximam do que acontece no mundo, enquanto nos afastam de quem está do nosso lado”.

Bateu pesado em você? Em mim, sim! Na verdade, bateu pesado desde o SX do ano passado, quando Perrel trouxe esse conceito de Intimidade Artificial, na era da Inteligência Artificial. Para mim, o tempo passou e esse abismo só aumentou!

Como disse Simran Jeet Singh, autor de “The Light You Give”, que abriu o SX de 2023, “para sermos resilientes, temos que exercitar a compaixão com outros 3 C´s: curiosidade, coragem e conexão”. E esse último C é justamente o “desafio de ter uma conexão verdadeira com quem está ao seu redor, porque ajudar o outro é ajudar a si mesmo”. Esse tema da falta de conexão nas relações foi muito potente esse ano. Ouso soar repetitiva, mas trago aqui mais uma reflexão do mega podcaster de “On Purpose”, Jay Shetty: “Em cada relacionamento existem três relacionamentos: aquele entre duas pessoas envolvidas, aquele entre seu/sua parceiro/a e ele/a mesmo/a, e aquele entre você e você. Se você não está bem com você, não há como fazer o outro se sentir bem”.

Agora, o momento mais especial e de conexão, para mim, foi assistir à experiência de VR sobre o holocausto, revivendo a dor da sobrevivente Marion, no projeto chamado Letters from Darcy. Cerca de 20 minutos, o vídeo 360 com ambientes em 3D, viajei pelas memórias de Marion Deichmann, que aos 9 anos, viu sua mãe desaparecer pela porta de seu pequeno apartamento em Paris, pelas mãos de dois policiais que levaram judeus para a prisão de Darcy e, depois, para Auschwitz. Separada da família, foi apenas pela bondade e coragem de outros que Marion sobreviveu, dormindo “em poltronas, sofás e no chão”, como ela conta, já com a idade atual. Ao terminar a experiência, abro os óculos e a poça de água cai sobre o rosto. Ao abrir a cortina, dou de cara com Marion, usando a mesma roupa da experiência. Uma conversa se inicia e me emociono com a resiliência daquela menina que agora conta seus feitos e a enorme família que constituiu. Depois dessa lição e emoções misturadas, melhor ir ao quarto e ficar por uma hora em posição fetal, absorvendo, antes de encontrar meu grupo para um happy hour muito planejado.

SXSW. É sobre isso.

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