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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

SXSW não é Summit

Fazer parte dessa tribo é uma credencial. A curadoria do festival criou a Disney dos intelectuais, criativos e artistas


15 de março de 2024 - 19h44

Há mais de 15 anos fiz o meu primeiro projeto para o SXSW.

Na época, era a Casa Brasil, cheia de empresários ansiosos para vender os seus sonhos e se lançarem internacionalmente.

Não existia a indústria “startupeira” estruturada ainda.

Organizar o stand, o conteúdo, montar as bancadas, banquetas … treinar voluntários e equipe. Depois treinar o povo para os seus pitches para Venture Capitalists e curiosos.

Organizar eventos não tem ensaio. Passar noites em uma montagem acaba sendo frequente. Afinal, quando um parafuso não encaixa, o resto passa a não encaixar mais.

Não era excessão no SXSW.

Cobria jornalisticamente para algumas mídias brasileiras e já entrevistei até o Biden quando estava entre os mandatos.

Muitos anos depois virei palestrante no SXSW. Experiência incrível que vale outro artigo em outro momento.

Neste ano lançamos o livro “Rise and Raise Others” com 80 outras autoras. O evento de lançamento foi comandado pela Maria Paula. Do “Casseta e Planeta” para os palcos de SXSW.

Em SXSW, já fiz de de 8 a 80 e tudo “in between”.

Conto para me dar as credenciais do que escrevo agora.

SXSW é Burning Man intelectual. Não Summit!

Foi criado como um festival de música.

Era tão, mas tão, tão disruptivo que “ kept Austin Weird”.

Essa mistureba de 200 trilhas, todas ao mesmo tempo…

Saio correndo do talk do carinha da moda no Ballroom D (icônico, vou fazer uma camiseta, “quando crescer quero ser o Ballroom D”) para ir ao de psicodélicos, zapeio para o de Empatia, depois Construção de Mídias Sociais. Corro para o stand de VR de Arte como terapia e chego atrasada no workshop do hacker que conta as artimanhas para as suas invasões de sistema, de casa e de prédios.

Ele tem técnica categorizada.

Deve até ter código de ética.

Mas não deu tempo de perguntar por estar atrasada para a apresentação de música na igreja presbiteriana. O monge zen budista japonês cria música instrumental com a boca e é imperdível.

Pego a scooter, passo no Wholefoods porque até agora não tomei café da manhã e já é noite.

Passo em um stand-up comedy show, olho com medo a fila do filme, vejo as dicas de after show das White Rabbit que indicam o Hotel Vegas e, finalmente, fecho a noite no Pete’s.

Deitada na cama e olhando para o nada… no auge da prepotência, tento costurar tudo e dar sentido ao dia.

Tolinha …

FOMO? JOMO?

Eu nem lembrava porque tinha favoritado aquela palestra que estava assistindo a tarde. Mas conheci umas figuras fantásticas que já apresentei para a “galera” e já estão falando em valores de investimentos na startup fundada meia hora atrás.

E as ativações? Cada uma com um storytelling único e experiência wow .

Essa intensidade se repete por todos os dias em que resistentemente sigo nas conferências. Porque então o cenário inteiro muda.

O povo descolado das trilhas de filme começa a pipocar e a cidade vira uma pocket Hollywood. Gente linda com lookinhos MARA.

People watching passa a fazer parte da rotina.

Encontrei com o Salsicha (Mathew Lilliard) do Scooby-Doo atravessando a rua, o Zuckerberg (Jesse Eisenberg) andando do lado, além de vários outros que não sei os nomes. Curtindo tranquilos, sem serem incomodados .

E na sequência chegam os músicos e, em cada esquina, uma banda de um lugar diferente do planeta com uma batida deliciosamente mind blowing. Todos os estilos e o que existe de mais hype. Predileção por rock tocado em instrumentos clássicos e bandas teatrais .

As tribos de música são tão plurais que é impossível generalizar .

A indústria inteira está representada democraticamente.

E os assuntos são abordados de forma profunda nas rodas. De assuntos como o lugar do latino na música até AI no processo de composição, e a carga ética disso tudo.

As celebridades querem estar nos palcos, não para aparecer no insta, mas para fazer parte dessa comunidade que se alimenta da criatividade que brota do ar em um ambiente tão absolutamente disruptivo.

Fazer parte dessa comunidade é uma credencial. Nos reconhecemos pelo mundo.

A curadoria conseguiu fazer a Disney dos intelectuais, criativos e artistas.

Não tem lugar melhor no planeta para estar nesses 10 dias do ano. Dias que me alimentam pelos outros 355.

Há muitos e muitos anos .

Vejo os nossos 2300 brasileiros sentados no Ballroom D pelos dias do interactive. Ao final, deixam Austin. Sinto por viverem somente uma fração da experiência deliciosamente incrível que é o SXSW.

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