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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

SXSW sem o hype

Diante das longas filas para ver Amy Webb e Bene Brown, buscar palestras fora dos grandes holofotes pode resultar em gratas surpresas


12 de março de 2024 - 13h36

Mais de três horas antes da palestra de Amy Webb, já havia uma fila formada para ver a CEO do Future Today no SXSW. A expectativa não é à toa: uma das figuras mais aguardadas do South by, Webb apresenta todos os anos o Tech Trend Report, um relatório valioso que reúne mais de 600 tendências de futuro em 95 cenários. Mas a numerosa fila, somada ao fato de que o conteúdo de sua palestra ficaria online em seguida, acabaram por me levar a outra experiência no festival.

No mesmo horário, numa linha mais intimista, William Ury conduzia a palestra “How to Survive (and Thrive) in an Age of Conflict”. Antropólogo de formação, o cofundador do programa de negociação de Harvard acaba de lançar um livro com título homônimo ao do painel em Austin. Ao discorrer sobre sobre gestão de conflitos, Ury nos indica caminhos e mostra que desenvolver essa habilidade (natural do ser humano) pode ajudar na construção de um mundo mais criativo e igualitário.

Compartilho aqui três aliados indicados por ele para navegar as ondas de conflito:

  • Olhe com perspectiva: o conflito é parte da vida, não algo negativo. O que se torna um problema não é o conflito em si, mas a forma como lidamos com ele. O poder está em buscar uma visão panorâmica da situação para enxergar tanto os detalhes como a questão de forma mais ampla. E, muitas vezes, o silêncio é o maior sinal de colaboração.
  • Construa pontes: ouça e crie conexões. O segredo está em fazer o contrário do que as pessoas esperam. Observe o que é aguardado e tente tornar isso mais atraente.
  • Busque uma terceira visão: conte com uma terceira pessoa que possa analisar o conflito, entender melhor ambos os lados e tentar chegar ao melhor termo.

A experiência de fugir do hype funcionou tão bem no sábado que a repeti no domingo. Gosto de acompanhar o trabalho de Brené Brown, professora da Universidade de Houston que há 20 anos estuda emoções e experiências que trazem propósito para nossas vidas. Ela já pesquisou temas como coragem, vulnerabilidade, vergonha e empatia. No South by deste ano, fez uma gravação ao vivo de seu podcast Unlocking Us, ao lado da aclamada psicoterapeuta Esther Perel.

Diante da impossibilidade de entrar no painel (torço para que seja disponibilizado online!), escolhi uma palestra sobre super apps. Meu interesse neste caso está relacionado a uma experiência recente – no final do ano passado, estive na China e pude vivenciar esse buzz dos super apps. Fiquei interessada em ouvir mais sobre o tema, no painel “Will 2024 be the year for superapps in the US?”.

A perspectiva trazida pelos três convidados – Hussein Fazal (Super.com), Loren Kosloske (Uber) e Ben Shen (Cash App) – indica que os Estados Unidos não devem apostar em super apps como o chinês We Chat. O contexto chinês era muito específico e não deve se ver algo semelhante nos EUA. Mas, é claro, há uma tendência de que muitas facilidades estejam dentro do mesmo app. Para a plataforma Uber, por exemplo, a palavra super app nem costuma ser usada nos bastidores, o que não implica em estagnação do app. O principal objetivo é oferecer uma plataforma que opera a mobilidade das pessoas, tentando engajar mais os clientes que só utilizam as viagens de carro. A ideia é conectar muitos parceiros (como entregas, trens e vendas de shows), criando novas features dentro do app.

Mas o que muda, afinal, para 2024? Há, segundo os palestrantes, um cansaço dos apps. A pandemia acelerou o uso de aplicativos e, agora, os clientes já não se sentem tão motivados a baixar novos. O desafio é tornar os usuários atuais mais engajados e adquirir novos pelo core business. Ao menos nos Estados Unidos, não parece existir uma ambição do mercado e das próprias plataformas de se chegar a um super app.

O período da tarde foi reservado para ouvir as sete tendências da Sandy Carter, CEO da Unstoppable, para o futuro de trabalho, no painel “Mind-Machine Merge: Seven Future Trends in a Post-AI World of Work”. Sua principal mensagem para essa fusão de mente e máquinas é que as pessoas passem a pensar em IA como caminho principal, e não secundário, e que busquem aprender mais e resistir menos, porque a disrupção nos negócios é inevitável. Seguem as tendências:

  1. Tudo é exponencial: todas as tecnologias são exponenciais, tudo muda muito rápido e, por isso, é importante ter conhecimento sobre algumas dessas ferramentas
  2. Modelos multi-modais de aprendizagem: se antes se alimentavam de textos, agora as IAs bebem em diversas fontes, como imagens, vídeos e sons – e isso cria mais uma possibilidade para trabalhar marcas
  3. A era dos seres virtuais: experiências imersivas já acontecem sem a necessidade do uso de equipamentos, como as salas com projeções mapeadas, acompanhando o que Carter chama de “Internet das sensações”: nela, será possível sentir cheiros, sabores e texturas digitalmente.
  4. Tudo terá um gêmeo digital: o chamado “digital Twin” é uma versão virtual do que temos no mundo real, de carros e máquinas até nossos próprios avatares para presença digital
  5. A “tokenização” de tudo: uso da blockchain será ampliado para gerar certificados de controle e autenticidade
  6. A convergência tecnológica chegou: não vamos usar isoladamente a IA, mas sempre com outros elementos, como GPS, sensores etc.
  7. Os problemas da IA são nossos: falta de dados, vieses e reforços de estereótipos não serão solucionados pelo avanço das tecnologias; será nosso papel trabalhar para minimizar e transformar esses erros.

A CEO da Unstoppable enriquece toda a fala com muitos exemplos das tecnologias mais variadas já aplicadas por empresas. Também expande esses exemplos quando mostra que as tecnologias, na verdade, são aplicadas em conjunto (IA + blockchain, IA + IOT). Por fim, ela faz uma provocação inspiradora sobre o propósito de todo trabalho no futuro: promover resultados transformacionais, fazer as perguntas certas, saber em quem confiar e, finalmente, sentir que o trabalho pode mudar positivamente a vida das pessoas.

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