8 de março de 2025 - 15h00
Na palestra de ontem, 10 Breakthrough Technologies of 2025, Niall Firth do MIT Technology Review, apresentou a já tradicional lista anual de tecnologias disruptivas que a entidade aposta ganharão tração nos próximos anos, a partir do ano vigente, produzindo impactos importantes no mundo, sejam eles econômicos, sociais ou ambientais. Antes de fazê-lo, Niall detalha quais as previsões do passado eles acertaram e erraram, mostrando uma a boa taxa de acerto que tiveram no somatório dos últimos anos.
A lista de 2025 destaca alguns assuntos mais óbvios e esperados, como a busca através da IA Generativa e os Robotaxis, que esta semana já estão circulando aqui em Austin, e outras talvez menos conhecidas do público geral, como os remédios de longa duração de prevenção de HIV e os small language models, ou modelos de linguagem pequenos, em português, que provêm soluções de IA segmentadas por indústria, com menos parâmetros, mais simplicidade e menos impacto.
O que mais me chamou a atenção da lista, contudo, foi a presença de 3 tecnologias que têm como objetivo reduzir o impacto ambiental de algumas das indústrias mais poluentes do mundo, porém com uma abordagem não restritiva ao consumo. A primeira, e que arrancou risadas da audiência, são os remédios que atuam sobre o sistema digestivo do gado, para reduzir a emissão de gases metano. Estes gases, é sabido faz tempo, são um dos maiores agentes poluentes do mundo o que, há anos, vem motivando movimentos de redução de consumo de carne vermelha, imaginando que assim se poderia conter o efeito devastador dessa emissão. Diz o especialista da MIT Technology Review, que esta tentativa não vem sendo eficaz, uma vez que o consumo de carne aumenta a cada ano. Os ditos remédios prometem ser uma estratégia mais eficiente, pois não restringem o consumo, ao passo que reduzem significativamente o impacto ambiental. O problema? Eles representam um custo adicional ao criador que, para decidir aplica-los, teria que repassar o custo aos consumidores. Neste sentido, vejo que a solução só pode dar certo, se houver imposição legislativa dos governos, algo que é sempre difícil imaginar acontecendo, principalmente nos tradicionais países pecuaristas.
Outra indústria sabidamente altamente poluente é a da aviação. Lembro dos famosos testes de pegada de carbono que ficaram famosos uma época. Neles se preenchia o questionário com os hábitos pessoas de consumo, como os modos de transporte diário usados e o consumo de produtos de indústrias mais poluentes. Era, porém, na pergunta de quantidade de viagens em avião que se fazia por ano que o teste se definia. Para quem, como eu, faz mais de 10 viagens em avião por ano, não fazia a menor diferença todo o resto de perguntas do teste, seu resultado já estava condenado ao de poluente máximo. Pois agora surge como tendência do MIT Review os combustíveis menos poluentes para avião, que prometem reduzir significativamente o impacto ambiental. Uma vez mais, não é a redução do consumo a que deve determinar a redução do impacto, segundo a publicação, mas o efeito redutor de impacto dos chamados “combustíveis verdes”. Resta saber se serão economicamente viáveis e se haverá capacidade de produção em escala para toda a indústria, que deverá também adaptar a produção dos aviões para que tenham capacidade de voar com estes combustíveis.
Finalmente está a tendência do “aço verde”. Informa o palestrante que para cada 1 tonelada de aço produzido, gera-se 2 toneladas de dejetos, fazendo desta uma das mais poluentes indústrias do mundo. O novo aço promete usar técnicas de produção que reduzem significativamente estes dejetos, o que, pelo tamanho da indústria, poderia ter um efeito de redução de impacto ambiental muito relevante. Também aqui, não é a redução do consumo que deve “salvar” essa indústria, mas a tecnologia que impacta a sua produção.
Desde que vi a palestra, tenho refletido sobre essa tendência. A sensação que me produz é a de que “jogamos a toalha” em relação à mudança de comportamento de consumo das pessoas, para frear os impactos de destruição do planeta. É como dizer que, apesar de estarmos caminhando a passos largos para a condição de um mundo inabitável para os seres humanos e termos nas nossas mãos a chave para a contenção desta tendência, preferimos não abrir mão de quanto consumimos e buscarmos soluções que mitiguem os impactos deste consumo crescente. Apesar de celebrar o potencial advento destas soluções, confesso que não deixa de me entristecer que o ser humano atua de forma tão egoísta e pouco responsável em relação ao seu consumo pessoal.