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SXSW

Uma volta à essência para lembrar que ‘perdemos o direito de sermos pessimistas’

O CEO da marca Patagonia, Ryan Gallet, estabeleceu uma conexão analógica entre tempo e princípios em sua palestra no SXSW


16 de março de 2023 - 16h39

(crédito: Amy E. Price/GettyImages)

Assistir ao talk do Ryan Gallet, atual CEO da marca Patagonia, me fez sentir como se eu estivesse entrando em um túnel do tempo. As reflexões sobre sustentabilidade e consumo exagerado pelas corporações me remeteram à Poliana muito jovem, no início de carreira, que descobriu o case premiado da Patagonia de sustentabilidade em meados de 2008 e que, mais tarde, em 2012, pulava de alegria pelas ruas de Boston, depois de conhecer e ouvir o fundador Yvon Chouinard.

A Patagônia é a referência de sustentabilidade no core do negócio, não só para mim, mas para qualquer especialista no tema. Não é à toa que foi eleita Campeã da Terra pela ONU por sua defesa radical do meio ambiente. Toda a produção de algodão usado da confecção de suas roupas é orgânica, mas não é só isso. A marca não trabalha apenas com a jogada de marketing, pois é de fato uma preocupação genuína. Mas, confesso que andei cansada de repetir ao trazer sempre o mesmo case para as aulas e palestras.

Deixei, propositalmente, adormecida por um tempo a minha admiração pela marca e pela cultura organizacional que a fabricante de roupas e acessórios esportivos construiu. No entanto, ao ver que Ryan Gallet estaria no SXSW permitiu que pudesse voltar a enxergar a Patagônia como referência, gerando, assim, uma curiosidade enorme sobre como estaria a empresa após a saída do fundador.

Na minha visão, o que ficou muito marcante desta sessão foi a reflexão sobre coerência e legado. Normalmente, quem cria projetos ousados em sustentabilidade não é quem colhe os frutos e isso ocorre por ser um investimento de longo prazo. A consolidação dos projetos se dá muito tempo depois das primeiras empreitadas. Costumo dizer que o líder que trabalha verdadeiramente com as lentes da sustentabilidade precisa se desfazer do ego e não necessariamente esperar que um dia será reconhecido pelo que construiu, mas Gallet soube perfeitamente reconhecer e exaltar a história e a trajetória deixada por Yvon.

Neste sentido, demonstrou coerência e fidelidade aos princípios e às essências da companhia, porém com novo olhar de ousadia e gestão para responder com autenticidade aos enormes desafios, como combater a crise climática por meio de negócios responsáveis. Além disso, o CEO passou segurança para os telespectadores de que a Patagonia está em boas mãos e reforçou, ainda, que precisamos de lideranças que criem narrativas de negócios.

Segundo ele, no atual momento do planeta, em tempos marcados pela busca obsessiva por redução de custos e mudanças climáticas alarmantes, nós perdemos o direito de sermos pessimistas. Estamos vivendo em muito polarizado – o que é péssimo, mas a apatia é pior. Galllet também destacou a respeito das organizações precisarem trabalhar na linha de frente da crise climática global e, para isso, tem a responsabilidade moral sobre o que acontece em toda a cadeia de valor. Portanto, para isso ocorrer, a mudança de comportamento é um imperativo, já que os recursos da Terra não são infinitos e é claro que ultrapassamos muitos de seus limites.

Ao fim de sua fala, o CEO aconselhou: “Pequenas coisas podem se tornar grandes – todos somos capazes de criar uma nova narrativa para vida e isso cria uma nova energia. Esta energia é fundamental para se comprometer em fazer algo que mude o mundo”.

Ao sair da sessão, a companhia me despertou a vontade de levar o case novamente para o cotidiano das aulas, podendo, dessa maneira, ressaltar todos esses aprendizados, sejam eles na educação ou na forma de ajudar as organizações a alcançarem a melhor versão de si mesmas em prol de um futuro melhor para todos e para o planeta Terra. E desejando que, assim como Gallet, surjam novos líderes que enxerguem na sustentabilidade um ótimo negócio.

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