A quem interessa comprar o TikTok?
O que é o People’s Bid e quais são seus planos para uma possível aquisição do aplicativo de vídeos curtos da Bytedance
O que é o People’s Bid e quais são seus planos para uma possível aquisição do aplicativo de vídeos curtos da Bytedance
Thaís Monteiro
8 de março de 2025 - 10h44
Em maio de 2024, o bilionário Frank McCourt, atual presidente executivo da McCourt Global, proprietário do clube de futebol francês Olympique de Marseille e ex-proprietário do Los Angeles Dodgers, anunciou a criação de um consórcio para adquirir a operação do TikTok nos Estados Unidos.
Repórter da CNN, Clare Duffy, entrevistou Frank McCourt e Kevin O’Leary no SXSW 2025 (Crédito: Thaís Monteiro)
A decisão veio após o então presidente dos EUA, Joe Biden, assinar uma lei que dava um prazo para a Bytedance vender o TikTok; caso contrário, a plataforma seria banida. A motivação principal para a criação da lei era a preocupação de que o governo chinês pudesse acessar dados dos americanos. Conforme McCourt, a oferta, denominada The People’s Bid, foi a única proposta submetida ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
A proposta foi feita em nome do Project Liberty, projeto do qual McCourt é fundador e cujo foco é conectar tecnólogos, acadêmicos, formuladores de políticas e cidadãos para criar um ambiente tecnológico mais seguro, responsável, onde não haja bots sem identidade e no qual os usuários podem gerenciar como as empresas usam seus dados e até se beneficiar financeiramente desse uso.
Desde que anunciou a oferta, McCourt recebeu apoio de outros empresários relevantes, como o cofundador do Reddit, Alexis Ohanian, do inventor da World Wide Web, Sir Tim Berners-Lee, e do investidor Kevin O’Leary, que já participou no Shark Tank americano como jurado, e dividiu o palco com ele no SXSW. O Bluesky também faz parte do projeto em parceria. A rede criou um protocolo que providencia uma arquitetura alternativa que prioriza o controle da comunidade.
Para Frank McCourt, a internet desvirtuou seu caminho. A descentralização e o poder ao usuário deram lugar a uma economia da vigilância, em que os dados pessoais dos consumidores viram receita para as donas das plataformas. Na sua visão, os usuários devem receber um retorno financeiro ao ceder seus dados para anúncios. “A plataforma fez dinheiro porque eu comprei. Por que eu não posso receber algo já que eu dei meu dado?”, pontuou O’Leary.
O’Leary chegou ao projeto por acreditar que pequenas empresas se beneficiam enormemente do engajamento no TikTok, assim como do baixo custo de aquisição por cliente (CAC) comparado a demais plataformas, e deveriam ter poder de propriedade sobre as comunidades que nutrem, assim podendo levá-las a outros aplicativos.
A Bytedance segue negando interesse em vender a operação. No entanto, se aprovada a oferta do People’s Bid, McCourt garante que o “novo TikTok” será muito similar ao que é hoje. Porém, os usuários criarão seus próprios termos de condições — aos quais as empresas devem concordar, e não ao contrário –, definirão como seu dado poderá ser usado e como quer ver publicidade. A proposta também inclui a interoperabilidade, ou seja, o usuário poderá usar diversos aplicativos sem a necessidade de logar em cada um deles. Sua comunidade também poderá transitar entre plataformas.
“Creators criam essa audiência enorme e quando o TikTok sai do ar, isso acabou. Vimos isso com o Vine, com o Twitter. Nós acreditamos que creators valorizam essa rede que eles criaram e nós achamos que eles podem pegar a comunidade e mudar de plataforma”, explicou McCourt. Ao invés de haver protocolos que conectam contas entre aparelhos, haverá protocolos que conectam contas entre diferentes plataformas.
A plataforma ainda terá anúncios, mas o usuário seleciona os setores de bens de consumo e serviço nos quais tem interesse para que ele não receba comunicações de outras áreas. “Intenção é mais valorizado pelas empresas. Se você tem uma economia baseada em retenção do que atenção, melhor. A pessoa está inclinada a comprar”, argumentou o empresário. No futuro, o executivo acredita que cada um conseguirá ajustar seu próprio algoritmo.
Além disso, McCourt argumenta que nesse novo ambiente não haverá conteúdo extremista ou prejudicial a saúde mental ou corporal dos usuários. “Somos sujeitados a isso hoje, porque não temos escolhas. Os algoritmos nos fazem estar online e promove sentimentos como a raiva, que nos mantém online. Para pessoas jovens que estão se desenvolvendo, há muito comportamento predatório”, disse.
Para O’Leary, o governo dos Estados Unidos adia novas imposições à ByteDance ou banimentos temporários, pois sabe o retorno financeiro que o TikTok dá a muitas empresas e criadores de conteúdo, sobretudo pós-digitalização acelerada na pandemia da Covid-19. Na sua opinião, ambos os governos dos Estados Unidos e da China deveriam trabalhar juntos em termos benéficos para ambas as partes.
A venda do TikTok não se concretizando, o Project Liberty segue atuando no futuro da internet. As crises envolvendo big techs são combustíveis para um questionamento geral sobre o papel das redes sociais no dia a dia. “O escrutínio é ótimo, porque precisa questionar. No Project Liberty somos pro-tecnologia, internet e progresso, mas queremos mudar da exploração para o empoderamento”, disse o empresário.
O Project Liberty já conta com uma série de aplicativos em sua plataforma, que defendem os mesmos princípios na busca de uma internet mais saudável. Recentemente o Bluesky se tornou parceiro do projeto. A rede usa um protocolo que permite que os próprios usuários escolham servidores e algoritmos. O Solid, projeto criado por Sir Tim Berners-Lee com objetivo de dar mais controle aos usuários sobre seus dados, também será incorporado ao Project Liberty. “Não vamos resolver o mal comportamento humano, mas por que entrar em plataformas que endossam?”, perguntou.
O projeto da descentralização e de dar poder aos usuários é algo que deve acontecer com a aquisição do TikTok ou não, afirmou McCourt. “É cíclico. Nos anos 1990, as telefônicas eram donas do seu número de telefone e não havia interoperabilidade. Em 1996, os números viraram nossos e as empresas começaram a promover interoperabilidade. É o avanço da tecnologia. Daqui dez anos, uma pessoa vai ficar: ‘como assim as pessoas não eram donas dos dados?’”, declarou.
Compartilhe
Veja também
Duração curta e novos locais: como será o SXSW 2026
Organização do evento detalha espaços das palestras e restringe acessos às badgets Interactive, Music e Film & TV
Convergência entre IA e XR evidencia a nova era das realidades imersivas
Especialistas no setor de realidade estendida (XR) debateram o futuro das realidades imersivas, passando pela convergência da XR com a IA e pela evolução do metaverso