3 de março de 2021 - 8h00
Existem dois modelos de negócio no mundo da TV: o pago, por assinaturas, e o aberto, financiado pela publicidade.
Ambos sofrem desafios únicos em sua história, desde que cada um deles começou a funcionar.
A TV aberta enfrenta o drama da migração da audiência para os formatos digitais on demand e tenta, ela mesma, migrar também para esse ambiente, de “n” formas diferentes, através de parcerias com players OTT e digitalizando ao máximo a distribuição de seus conteúdos, não mais pelo espaço aberto e livre do espectro de frequência que sempre utilizou, mas agora via internet mesmo.
Já a TV paga, tanto a via cabo, quanto a via satélite, enfrentam desafio parecido. Os novos serviços de distribuição de conteúdo “televisivo” — entenda-se conteúdos digitais em vídeo que até podem ser consumidos nos aparelhos das TVs inteligentes e conectadas (que vem crescendo com vigor nos últimos anos), mas também através de qualquer device com conexão, desde um laptop a um celular, passando pelos consoles de games — veem seu consumo se diversificar e explodir.
O gráfico abaixo mostra a disseminação do que os norte-americanos chamam de “cord cutting”, cortando o cordão, numa imagem sobre o corte no consumo das TVs à cabo no país, nas maiores operações de provimento de TV paga nos EUA.
O índice de cord cutting mais que dobrou em 2020 em relação ao ano anterior e o fenômeno já se estende por alguns anos.
Nesse contexto, a AT&T, controladora da Directv, maior operação de TV por satélite do mundo, que comprou em 2015 por US$ 49 Bi, acaba de vender 30% de share de sua empresa para o mega fundo de private equity TPG, num valuation de US$16,25 BI. Ou seja, em 5 anos, a companhia perdeu US$ 30 BI dos seus investimentos.
Fez o negócio porque a DirecTV está atolada em dívidas num volume de US$ 6,4 BI. Vai receber em cash apenas US$ 1,8 BI.
A AT&T Inc. concordou em vender uma participação em sua unidade de TV paga para a firma de private equity TPG e dividir o negócio em dificuldades, retirando a gigante das telecomunicações de uma aposta cara no entretenimento.
O drama de toda essa infraestrutura que durante anos trouxe até nossas casas o entretenimento de massa mais globalmente consumido no planeta, a programação de TV, sofre seu mais desafiador momento de sustentabilidade de negócios da sua história.
Não se imagina que possa sobreviver, não no modelo tradicional de sempre, aos próximos (poucos) anos de vida. Só a transformação radical de seus formatos de produção, distribuição e de negócios poderá garantir que as empresas operadoras desses serviços não quebrem e desapareçam por completo do mapa.