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Comunicação

Conheça Jéssica, a brasileira escolhida pelo Cannes Lions

Mineira, redatora e militante feminista, profissional será a primeira mulher fora do eixo Rio-São Paulo a representar o País no See It, Be It


16 de maio de 2018 - 7h00

Aos 24 anos, Jéssica Gomes representará o Brasil no See It, Be It (Crédito: Helena Lopes/Divulgação)

Aos 24 anos de idade, Jéssica Gomes, redatora digital da Lápis Raro, está na expectativa de sua primeira viagem internacional. Nascida na cidade de Belo Horizonte – onde vive e trabalha – a jovem publicitária está tratando de tirar o passaporte para cruzar o oceano rumo a uma nova experiência, restrita apenas a 19 outras mulheres do planeta.

Jéssica foi a única brasileira selecionada para fazer parte da edição deste ano do See It, Be It, programa criado em 2014 pelo Festival de Cannes para estimular a participação de criativas em uma indústria que ainda possui muitas barreiras para o trabalho e a representatividade feminina.  Pelo projeto, criativas de várias partes do mundo ganham uma viagem ao Festival para assistir a palestras, observar os julgamentos e bastidores do evento e discutir sobre a representatividade das mulheres na indústria publicitária global. Embora outras profissionais do Brasil já tenham participado da iniciativa (Deborah Vasques em 2017, Natasha Romariz, em 2016 e Mariana Borga, em 2015), o caso de Jéssica é diferente porque simboliza como Cannes está tentando abrir caminhos não apenas para a inclusão feminina mas também para a diversidade.

É a primeira vez que o Brasil terá no See It, Be It, uma mulher que não atua no eixo Rio-São Paulo. É a primeira vez, também, que a representante nacional no programa equilibra sua rotina na publicidade com a militância em prol da inserção da mulher no ambiente criativo e pela valorização dos trabalhos e propostas sociais que acontecem fora do foco da grande mídia.

“Há muita coisa boa e interessante acontecendo fora do eixo Rio-São Paulo. Quando vi meu nome na lista de selecionadas para o See It, Be It, pensei que era uma oportunidade de ajudar para que as pessoas enxergassem a propaganda brasileira, como um todo. Porque, quando olhamos apenas para o trabalho que vem de um nicho, acabamos criando uma indústria de nicho”, comenta a profissional.

Jéssica atribui o fato de ter desbancando criativas de grandes agências dos maiores mercados brasileiros e conseguido à vaga no See It, Be It ao seu histórico de trabalhos a favor da inclusão. O lado social e militante da publicitária começou a florescer há algum tempo, quando ela cursava pós-graduação para se especializar na área de branded content. Durante o curso, Jéssica acabou fazendo uma viagem a São Paulo onde conheceu algumas profissionais que já atuavam na causa da inclusão feminina na publicidade – entre elas, Thaís Fabri, fundadora da consultoria 65/10.

Após conversas e trocas de informações, a redatora teve a ideia de promover, em Belo Horizonte, encontros e debates semelhantes aos que viu, em São Paulo, com a presença de criativas e publicitárias para debater os desafios da mulher no ambiente da criação. De uma reunião surgiram outras, de um projeto, outros foram se desdobrando até que a publicitária se viu como organizadora de múltiplos eventos que tinham como premissa convidar as mulheres a pensarem sobre seu lugar e como utilizar os meios disponíveis a alcança-los. “A questão feminina é algo que cresceu muito, mas ainda precisa amadurecer. Não pode ser vista como modismo. É importante que todo mundo se enxergue como parte do problema e que reflita a respeito da maneira de solucioná-lo. Muitas marcas, que são fundamentais para essa mudança de consciência, ainda estão se omitindo neste debate”, critica.

 

Jéssica é uma das fundadoras do coletivo Navaranda (Crédito: Helena Lopes/Divulgação)

Atualmente, Jéssica divide o trabalho de redatora digital na Lápis Raro, agência em que trabalha há dois anos, com a agenda do Navaranda, coletivo feminista que organiza e agrupa projetos dedicados à questão feminina nas áreas de comunicação e social. O “Museu das Minas”, um debate e exposição sobre a representatividade da mulher na arte, e o Ladies, Wine and Design, série de eventos mensais que reúne profissionais de diversas áreas, em Belo Horizonte, são alguns dos projetos supervisionados pelo Navaranda.

A agenda cheia foi, segundo ela, um dos pontos favoráveis à sua escolha para o programa de Cannes. Ao conversar via Skype com Chloe Gottlieb, CCO da RG/A – mentora do grupo See It, Be It neste ano – Jéssica notou que suas múltiplas funções chamaram a atenção da executiva. “Ela me perguntou em que horário eu conseguia fazer tantas coisas. Foi uma conversa bem descontraída e, no fim, até me esqueci que estava sendo avaliada”, conta a brasileira.

Para Jessica, ser chamada para o projeto era algo tão improvável que ela preencheu o formulário da inscrição deste ano mais como preparação para as novas tentativas que acreditou ter de fazer para tentar a vaga, novamente, nos próximos anos. “Imaginei que eles preferissem mulheres com mais experiências ou com outras vivências internacionais. Foi uma surpresa e fiquei muito feliz”, conta. A surpresa foi tanta que ela precisou até chamar outros colegas de trabalho para lerem o e-mail e confirmarem se, de fato, ela havia sido selecionada. “Era um texto tão grande que parecia ter um tom de consolo, como se eu não tivesse sido escolhida. Ai, no final, tinha um parabéns e dizia que eu havia sido selecionada para o grupo”, relembra.

A menos de um mês do embarque para Cannes, ela tenta dosar a ansiedade pensando em como usará a experiência para incrementar seu trabalho. “Quero aproveitar tudo o que vou absorver por lá para trazer novas ideias de trabalho, tanto para a agência como para os outros projetos do Navaranda”, pontua.

Embora não conheça as outras 19 colegas que participarão do grupo, a brasileira já teve uma boa impressão da seleção. “Achei muito legal ver a seleção de mulheres da Índia, do Líbano. Isso mostra como o festival está, de fato, preocupado com a diversidade. Não vejo a hora de estar lá e trocar experiências”, frisa.

E a ida para a Cannes pode ser a primeira de uma nova série de experiências que a redatora espera vivenciar. Embora se declare satisfeita com a vida e o trabalho em Belo Horizonte, Jéssica diz estar, sempre, em busca de experiências. “Não descarto trabalhar em outros mercados, seja, por exemplo, São Paulo ou até mesmo em outro País. Posso ir e posso voltar também. A questão do gênero é um debate muito grande que não pode ficar restrito a uma região. É preciso abrir os olhos e enxergar as coisas que estão acontecendo por aí. Estou aberta a novas experiências e oportunidades e quero aprender muito, pois ainda sou muito jovem”, declara.

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